Celebrar o Dia do Trabalhador em tempos de pandemia

Fernando Abreu*

O 1 de Maio não é dia de Festa, para os trabalhadores, nem para os seus Movimentos, particularmente para o Movimento Sindical nacional e internacional.

É dia de Luto e de Luta.

LUTA que recorda a greve geral ocorrida nos Estados Unidos da América e a grandiosa Manifestação dos 500.000 trabalhadores que, em 1886, desfilaram na cidade norte-americana de Chicago, reivindicando melhores condições de trabalho e a redução para 8 horas de trabalho diário, que no seu país (e no continente europeu) chegavam a ser de 18 horas.

LUTO de homenagem à Memória dos cinco sindicalistas condenados à morte e executados por enforcamento, e de outros quatro sujeitos a prisão perpétua, pelo crime de deflagração de uma bomba no decurso da referida Manifestação, e do qual foram, mais tarde, inocentados, graças a investigações que permitiram descobrir que o ato terrorista havia sido planeado pelo Chefe da Polícia local que, para tal, havia contratado os executantes.

Não é dia de Festa, porque os positivos avanços de direitos e garantias que hoje nos são conferidos nada devem à bondade das entidades patronais ou governamentais. Foram conquistados com o sacrifício, o sangue e até a própria vida, dos muitos milhares de Sindicalistas que solidariamente, ao longo dos passados 130 anos, lutaram pela Dignificação do Trabalho, a Libertação e a Promoção da Classe Trabalhadora.

Ao longo da história do Movimento Operário, o DIA DO TRABALHADOR só excecionalmente foi de FESTA, e em Portugal ocorreu com a INOLVIDÁVEL celebração do 1º.Maio de 1974, possibilitada pela Revolução de 25 de Abril que, ao derrubar o fascismo, devolveu ao povo português a LIBERDADE sonegada pelo fascismo durante quase meio século, o direito de reunião, de associação, à greve, ao salário mínimo, o voto aos 18 anos, o regresso dos exilados, a libertação dos presos políticos, o fim da guerra colonial.

Foi dia de alegria. Uns entoavam a canção de José Cid : “E veio a gente da gleba, Mais a gente do mar, Para enfeitar a cidade, E abrir-lhe as portas de par em par”.

Na cidade, a multidão, proclamava, em voz sonante e ritmada que “O POVO JÁMAIS SERÁ VENCIDO” e cantava-se de José Afonso “GRANDOLA VILA MORENA”, a canção que, a partir da alvorada do 25 de Abril, se tornara o hino da Revolução. Era grande a Esperança, utópica talvez, de que Portugal (até o Mundo), se transformaria em Terra de Fraternidade, onde o povo é quem mais ordena, em que haveria em cada esquina um amigo, e em cada rosto igualdade.

É certo que muito mudou, mas é sentimento dos trabalhadores e dos desfavorecidos, que muito do ansiado, e até prometido, está longe de se concretizar, razão esta para constatarmos, com perplexidade, que nem a pandemia sanitária com as graves consequências que a anunciada crise económica e financeira vão ter na agudizarão da situação dos trabalhadores, do povo pobre e da legião de desempregados, teve o condão de suscitar nas Centrais Sindicais e Sindicatos Independentes a realização de esforços no sentido da concertação de uma estratégia comum de ação.

Uns por tosco independentismo, outros por constrangimentos partidários e outros por dogmatismos ideológicos, parecem convencidos de que, concorrencialmente, cada um por si, está em condições não só de enfrentar, mas de impedir, as medidas de austeridade (ou o que lhe quiserem chamar), bem como as limitações à liberdade que o “sistema” capitalista procurará impor, posto que, até à sua erradicação, hoje, como sempre, o seu objetivo é, e será, o lucro e a ganância.

Cabe-nos continuar a luta dos nossos antepassados, e em homenagem singela, recordar do seu hino, “A Internacional”:

                                      …PARA NÃO TERMOS PROTESTOS VÃOS

                                         PARA SAÍR DESSE ANTO ESTREITO

                                         FAÇAMOS POR NOSSAS MÃOS

                                         TUDO O QUE A NÓS DIZ RESPEITO.

*Fernando Abreu foi fundador e primeiro Coordenador Nacional da BASE-FUT

Junta-te à BASE-FUT!