60º aniversário do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

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Fernando Abreu*

No passado dia 12, o histórico Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (Estado de S. Paulo-Brasil) comemorou o seu sexagésimo aniversário, com iniciativas festivas e, como é seu timbre, empreendendo ações de mobilização das bases sindicais de contestação das políticas lesivas dos interesses da classe trabalhadora brasileira, nomeadamente a política de desindustrialização e consequente aumento do desemprego, a reforma da previdência e a proibição das empresas cobrarem a cotização sindical (uma espécie de Lei Gonelha).

É legítima a interrogação sobre o motivo de relevar o aniversário de um sindicato, facto que, penso, ser inédito neste espaço informativo e comunicacional da Base-FUT, pelo que importa recordar que no tempo da ditadura no Brasil, e em anos posteriores, após o esboroamento desta, a Base-FUT manteve uma estreita relação com sindicalistas e dirigentes de Movimentos Populares brasileiros, além de um importante intercâmbio de experiências e publicações, o que nos permitiu acompanhar com vivo interesse e admiração o nascimento de um Novo Sindicalismo (em, oposição ao oficial/governamental) construído a partir das bases, democrático e de classe, que, como é reconhecido por Investigadores e Historiadores, contribuiu, generosa e não sem com sofrimento, para o fim da ditadura e a recuperação da vida democrática.

A construção do Novo Sindicalismo (cujos Princípios são em boa parte coincidentes com os defendidos pela Base-FUT) concretizou-se através da organização e mobilização dos trabalhadores nas fábricas e demais locais de trabalho, pela ação reivindicativa e a luta de resistência contra a ditadura, sem que tal comportasse dependência ou atrelamento a orientações partidárias, porquanto, como se sabe, foi o movimento sindical que alavancou a constituição do Partido dos Trabalhadores-PT, e não o contrário.-

O Novo Sindicalismo, como é reconhecido por Investigadores e Historiadores brasileiros, foi gerado e dinamizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC tendo tido como sua primeira e principal manifestação a greve de Maio de 1978 em que os 2.000 trabalhadores da fábrica de camiões SCANIA paralisaram a fábrica, exigindo – imobilizados e de braços cruzados – melhorias salariais, movimento que alastrou à VW, à Ford e à Mercedes Benz estendendo-se a outros regiões do país e a diversas profissões, ao qual a ditadura pôs cobro rapidamente recorrendo a brutal repressão não sem que esta tenha tido consequências fortemente negativas para a ditadura.

Embora derrotada pela violenta repressão com prisões e despedimentos de alguns dos seus líderes, estava dado o sinal de que o movimento sindical renascera e que a sua capacidade de organização e mobilização lhe permitiria, a breve prazo, enfrentar com moias força e radicalidade o patronato e a ditadura, previsão esta que teve confirmação com o deflagrar da greve geral de Março de 1979, à qual se seguiu a histórica greve dos metalúrgicos do ABC de 1nde Abril de 1980 com a paralisação de 300 mil trabalhadores e a duração de 41 dias, na qual emergiu a liderança de Lula da Silva, à data Presidente da Direção do Sindicato de São Bernardo do Campo.

O impacto da greve de 1980 quer a nível nacional como internacional agravado pela repressão violentíssima e por ações criminosas contra oposicionistas que os militares não conseguiram encobrir, gerou uma onda de solidariedade nunca anteriormente registada, na qual se destacou o Bispo de Santo André Dom Claudio Humnes ao defender as lutas dos trabalhadores. Igrejas e demais instalações das paróquias foram abertas para esconder líderes perseguidos pela polícia, realização de reuniões sindicais (os sindicatos foram ocupados pela polícia), recolha de fundos e distribuição de alimentos e vestuário. Recorde-se que este Bispo (atualmente Cardial) foi quem aconselhou o Papa a escolher o nome de Francisco e lhe pediu para não esquecer os pobres.

É com emoção que recordo o início do relacionamento do Movimento Base-FUT com os movimentos sindical e populares brasileiros. Teve a sua origem no pedido dos Responsáveis dos Núcleos da Oposição Sindical Brasileira (GAOS), refugiados na Europa para que me deslocasse ao Brasil com a missão de apoiar os Núcleos clandestinos da Oposição Sindical do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Nova Iguaçu e Angra dos Reis, missão que, embora envolvendo alguns riscos, não tive a coragem de recusar. E estou grato por me ter sido proporcionada a oportunidade de conhecer militantes e dirigentes operários com uma entrega à causa da promoção e libertação dos trabalhadores e dos mais que me envergonhou.

Foi no decorrer da referida missão, entre 1 e 20 de Junho de 1978, que fui recebido na Sede do Sindicato dos Metalúrgicos com afeto e consideração, e o lamento por parte dos seus dirigentes (e meu também) da ausência do Presidente, Lula da Silva, à data em trabalho de organização e mobilização noutras Regiões do país, e cujos resultados foi possível constatar pelo êxito que teve a greve geral ocorrida poucos meses depois, a Março de 79.

Uma nota final para destacar o reconhecimento com que era valorizada por militantes e dirigentes sindicais de outras origens o contributo à renovação e fortalecimento do Sindicalismo pelos, Movimentos Operários da Ação Católica Operária, Pastoral Operária (à qual Lula da Silva esteve ligado), e Comunidades Eclesiais de Base.

*Fundador e ex-dirigente da BASE-FUT

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