Economia social e solidária é sustentável?Oito estudos de caso!

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Avelino Pinto*

José Fialho Feliciano, no começo do livro* defende que “a sustentabilidade das das organizações da Economia Social e Solidária (ESS) só pode ser avaliada analisando o contributo de suas forças específicas e o da sua combinação com as forças características da Economia Pública e da Economia Privada de Mercado”.

A identidade específica da Economia Social e Solidária, assenta em potencialidades próprias de energia e recursos que podem ser transformados em forças. Por esse motivo, os contributos e impactos característicos na sociedade, diferentes dos produzidos pelas Economias pública e privada de mercado, são uma alternativa procurada por quem não se revê na economia corrente e procura uma forma de concretizar valores que não os veiculados pelo mercado.

Os seus recursos concentram-se na capacidade de mobilizar a participação e solidariedade de proximidade (democracia participativa) e de criar valor acrescentado e qualidade às relações sociais (laços). Daqui emana a cadeia do cuidado, da capacitação, da autonomia e do desenvolvimento, em que assentam as dinâmicas colaborativas de trabalho e da rede de trocas, com e sem equivalentes de dinheiro.

A mais-valia do livro reside na investigação sobre a sustentabilidade das organizações da ESS, tendo concluido que a devemos medir pelos mesmos factores estratégicos e críticos, e avaliar pelos mesmos indicadores utilizados para medir todas as outras organizações da sociedade, tendo em conta as suas especificidades.

Importa acentuar que estas economias actuantes no conjunto da sociedade, devem mobilizar parcerias que optimizem todas as diferentes forças as redistributivas (Estado), as criativas (mercado) e as de solidariedade (social), evitando que a força de uma produza a fraqueza de outras.

Asssim, analisando as parcerias e as forças que usam, podemos clarificar a actuação da Economia Social e Solidária.

Os oito estudos de casos (bastante coerentes entre si) resultam de investigações empíricas realizadas em diferentes organizações da ESS em Portugal, com base no conhecimento que delas já tinham os investigadores. São uma base adequada para a discussão sobre a sustentabilidade daquelas organizações.

Rui Teixeira Santos, parte das experiências vivenciadas nas misericórdias, para desenhar as bases para uma proposta de criação de uma plataforma digital nacional de informação, aberta, disponível e actualizada, daquelas organizações.

José Silveira realça a importância do voluntariado na sustentabilidade da Ser Alternativa (associação de apoio social da Igreja Evangélica em Mem Martins-Sintra).

João Félix (estudo inédito sobre a Associação Mutualista dos Empregados do Estado) identifica o conceito de mutualismo, as suas fases principais, e analisa o grau de satisfação dos mutualistas relativa à qualidade dos serviços prestados.

Avelino Pinto, empreende uma análise avaliativa das dinâmicas, projectos, processos históricos e dificuldades de desenvolvimento local, da antiga Fundação Solidários (1985), que se transformou em Casa da Fonte Solidária (em 2014).

Eduardo Figueira, discute o Programa de Desenvolvimento local da Base Comunitária (Abordagem Leader), e o Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020), coordenado pela organização Monte – Desenvolvimento do Alentejo Central (ACE).

Mafalda Machado centra-se na Comunidade Emaús (Caneças – Odivelas, 1983) que acolhe “companheiros” da rua, e com trabalho e vida em comunidade, transforma lixo e vende objectos valorizados, numa luta contra a pobreza e a exclusão social.

Pedro Pinto, analisa programas da Cáritas Portuguesa de incentivo à geração de empreendedorismo inclusivo: criação de trabalho para retornados (1976-81), com utilização do Marketing Social; e o projecto cria(c)tividade, baseado na Inovação e uso de tecnologias sociais (2014-15).

Miguel Furtado, estuda o associativismo desportivo – conceitos, história, impacto na construção de identidades locais, na aprendizagem cívica, na formação e serviços para a prática desportiva e integração das pessoas, em dois clubes, o Sporting e o Benfica.

Dezembro de 2022

*Avelino Pinto é Mestre em Psicologia, Formador e Animador Social

 

* ECONOMIA SOCIAL E SOLIDÁRIAImpactos e Sustentabilidade das Oraganizações

(coordenação de José Fialho Feliciano, Edições Universitárias Lusófonas, 2020, Lisboa).

 

Nota

A apresentação deste livro (Universidade Lusófona, 24 de Novembro) contou com a participação do Prof. Roque Amaro, de Constantino Alves (Setúbal) e de Júlio Ricardo (Rio Maior), de que daremos conta em próximo artigo.

 

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