Américo Monteiro*
Eis alguns desafios aos sindicatos em tempo de preparação do Congresso. Eu sei que há especialistas competentes para aprofundar estes assuntos e que eu não sou um deles, mas também sei que nenhuma pessoa, decisor ou não, pode deixar de reconhecer a necessidade nos dias de hoje de responder ao desafio climático.
Este reconhecimento deve traduzir-se em medidas concretas ou o assumir de propostas concretas. As mudanças climáticas são uma realidade e diz-nos o bom senso que é necessário agir antes que seja demasiado tarde, vivendo nós tempos de capitalismo selvagem e irremediavelmente calculista e egoísta, dizemos nós predador.
Cada vez mais se ouve falar de medidas impopulares e coercivas que se opõem aos nossos direitos de cidadãos. Alguns apelidam-nas de ditadura verde. A aplicação de medidas para estancar o aquecimento global, com limitações de zonas de circulação automóvel, ou os cada vez mais pesados impostos verdes, ou seja a taxação, fiscalidade verde.
Penso que os sindicatos devem empenhar-se e contribuir para que seja compatível o crescimento económico com o respeito e o cuidado para com o ambiente.
Nestes equilíbrios e desafios precisamos alertar o mundo sobre medidas que defendam as pessoas.
Seria fundamental nos dias de hoje forte aposta nos transportes colectivos, em especial transportes ferroviários e não ter países que anunciam a necessidade de formar mais milhares de motoristas de pesados como se sugere em França e o tipo de consumo, em especial nos países mais ricos é precisam refrear os seus apetites.
Que ninguém venha pedir aos sindicalistas para apoiar o encerramento de empresas e até podemos exigir a suspensão de decisões nesse sentido, mas temos a obrigação de contribuir para que quando essas situações ocorrerem, e vão ocorrer, os trabalhadores estejam protegidos e com melhores condições de vida e de trabalho que as que tinham antes. Só assim se poderá considerar uma transição justa para uma sociedade de baixo carbono.
Conhecendo por dentro o departamento de desenvolvimento sustentável e ambiente da cgtp-in, estes últimos 4 anos teve muito boa dinâmica. Com o desenvolvimento de um projecto POISE realizou variadíssimas actividades, entre elas 6 seminários. Sempre com algumas dificuldades de conseguir a adesão do Movimento Sindical, mas apesar disso, muito interessantes.
Debatemos e aprofundamos quais os desafios para o Movimento Sindical quanto à transição Justa para uma economia de baixo carbono, economia verde e empregos verdes,as COPs 21 a 25, última realizada em Madrid, o acordo de Paris, os ODS, a importância da biodiversidade e as consequências dos tratados transnacionais (CETA e TTIP) nas suas consequências para o ambiente, a prospecção de petróleo, a economia social, etc.
Participou muita gente de muitas instituições nesta dinâmica. Muitos, próximos ou dentro dos princípios sociais e políticos da CGTP-IN, mas também muitos outros não tão chegados, mas todos eles colaborando com muita honra e demonstração de respeito para com as posições da CGTP-IN; académicos, representantes de organizações como o CNADS, APA, OIKOS, ONGDs, Associações de consumidores, do ambiente e cooperativas, etc.
Para os sindicatos a defesa de uma mudança social e a defesa do planeta perante a emergência climática são dois elementos que não se podem separar.As contradições entre o capital e a vida são um elemento nuclear na hora de entender os desafios que temos pela frente.
O que sentimos é que o capitalismo que domina o nosso mundo e as nossas vidas ameaça as raízes de base da vida, devorando pessoas e a natureza porque tudo converte em objectos de usar e deitar fora, descartáveis, para obter a máxima rentabilidade económica.Isto é radicalmente incompatível com a vida.É preciso mudar de rumo e os sindicatos podem e devem ter aqui um papel muito importante.
*Dirigente sindical do Cesminho e da CGTP-IN