A Jornada Mundial da Juventude e os jovens trabalhadores

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Gabriel Esteves*

O verão de 2023 está “já aí” e com ele chegam as Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa. Todo o país está em alvoroço em preparações para acolher este enorme evento, no qual iremos receber perto de um milhão de jovens de todo o mundo.

Um dos patronos escolhidos para o evento é o beato Marcel Callo. Trata-se de um jovem militante da JOC que, como está escrito no site oficial das JMJ 2023: “Em 1943, foi recrutado para o serviço de trabalho obrigatório na Alemanha, onde continuou com as atividades da JOC, facto que, em abril de 1944, o levaria à prisão pela Gestapo.” Foi e continua a ser um grande exemplo para a JOC, para a Ação Católica e para quem luta pela evangelização do mundo operário.

No entanto, é com muita pena minha que não vejo a evangelização do mundo do trabalho como prioridade quer da Igreja em Portugal quer por parte de quem organiza este evento. O Papa Francisco por diversas vezes e formas já se debruçou sobre a realidade desta “economia que mata” e sobre as dificuldades dos jovens no mundo operário, mas parece que pouco ou nada a igreja tem feito em relação a isso.

Cada vez mais se sente uma crescente precarização de tudo na vida nos jovens, com efeitos na sua qualidade de vida: as dificuldades na obtenção de uma habitação digna a preços justos, na flexibilização do mercado do trabalho, com vínculos precários, salários baixos, horários desregulados, que levam a consequências como o adiamento da emancipação e da constituição de família, por exemplo.

Perante esta realidade que a juventude atravessa, a Igreja Católica deve ter uma mensagem de esperança e libertação para os jovens. Urge que ela seja transmitida. E quem melhor do que os jovens para converter outros jovens? Nisto acreditava Joseph Cardijn, fundador da JOC, Marcel Callo e milhares de militantes que deram a sua vida pelos jovens trabalhadores.

Cada vez é mais difícil chegar aos jovens com a mensagem de Jesus Cristo, penso que seja um facto. Por isso mesmo considero que será uma grande oportunidade perdida se, com tantos jovens reunidos e disponíveis, não se consiga criar caminhos para uma maior aproximação da igreja e da mensagem de Jesus Cristo aos jovens trabalhadores.

Assim, intercedo para que quem tem responsabilidades na preparação e organização deste evento tenha em mente a realidade dos jovens trabalhadores e que crie caminhos para que todos os jovens estejam cientes de que “Cada jovem trabalhador vale mais que todo o ouro do mundo, porque é filho/a de Deus”.

10.10.2022

*Técnico de manuetenção e Presidente da Juventude Operária Católica

Nota:Este artigo foi publicado em primeira mão no «Terra da Fraternidade» e tivemos autorização do autor para a sua publicação aqui.

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