44º Aniversário da BASE-FUT: Debater o sindicalismo para pensar o futuro

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No passado dia 17 de Novembro, a BASE-FUT comemorou o seu 44º aniversário com um encontro sobre o tema “O Sindicalismo português no século XXI: novos desafios e respostas sindicais”. Este encontro foi organizado em parceria com o Grupo de Estudos Relações de Trabalho e Sociedade do Centro de Estudos Sociais (RETS/CES) e juntou mais de 50 pessoas na Sala Keynes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Tratou-se de reunir militantes sindicais e investigadores com vista a pensar os desafios atuais colocados aos sindicatos e às organizações de trabalhadores.

O primeiro momento do encontro “Transformações nas relações laborais e os desafios na organização dos trabalhadores de hoje” foi dinamizado pelo Professor Hermes Costa, investigador do CES e pelo Danilo Moreira, presidente de Sindicato dos Trabalhadores de Call Center (STCC). Na sua intervenção, o Professor Hermes Costa apresentou os diferentes modelos sindicais existentes atualmente e delineou estratégias para a inovação que passam pelo organização das minorias étnicas e dos trabalhadores migrantes, dos mais jovens, dos desempregados e dos trabalhadores atípicos. Passa também pelo incentivo a uma maior democracia interna nas organizações sindicais. O Danilo Moreira apresentou o grande trabalho sindical desenvolvido ao longo dos últimos quatro anos pelo STCC. As dificuldades laborais são várias no sector dos Call Center desde os importantes ritmos de trabalho e o esgotamento dos trabalhadores, à falta de regulamentação e até conivência do próprio Estado. O STCC desenvolveu uma estratégia de alianças e apoios à causas laborais de outros sectores, fora das fronteiras portuguesas, mas também em temáticas de interesse para a sociedade no seu todo.

O debate prosseguiu com o painel “Novas estratégias para a comunicação” contou com intervenções da Bia Carneiro, investigadora do RETS/CES e do Cesário Borga, presidente da Assembleia Geral do Sindicato dos Jornalistas (SJ). A Bia Carneiro apresentou a sua investigação sobre o uso das redes sociais pelo movimento sindical. Destacou alguns padrões no uso do facebook que mostram uma utilização sobretudo para a divulgação de informações internas, mantendo uma postura de cima para baixo. Notou assim um uso reduzido das potencialidades das redes sociais para criar conteúdos, dar a palavra a outros públicos, ou ainda promover iniciativas fora do campo sindical e laboral. O Cesário Borga partilhou reflexões sobre a estratégia para a comunicação e ligação com a estratégia para a ação, central no movimento sindical. Insistiu-se na necessidade de o movimento sindical se preocupar deste campo fundamental da comunicação. Deve-se também incentivar os militantes a tomar a palavra e aparecer mais para diversificar as intervenções na comunicação social. Relembrou também que o movimento operário do início do século XX considerava como fulcral o trabalho de “propaganda” a desenvolver na sociedade.

Em cada painel, após as intervenções iniciais, tiveram lugar quase duas dezenas de intervenções dos participantes que permitiram alargar o debate. O contexto de individualização das relações laborais foi criticado. A defesa do trabalho como um direito e dos contratos coletivos foram reafirmados. A falta de militância e as dificuldades em mobilizar os trabalhadores foram também mencionadas. As confederações têm o potencial para criar laços entre os sindicatos no terreno, mas a democracia interna e a representatividade dos dirigentes podem ser melhoradas. Importa ligar a ação dos sindicatos com o resto da sociedade, pois o trabalho não é uma ilha isolada do resto do corpo social. Os sindicatos não podem ser entidades que têm como objetivo resolver os problemas dos trabalhadores, devem sim organizar os trabalhadores para a resolução colectiva de problemas que a todos afectam.

No encerramento o Pedro Estêvão, coordenador nacional da BASE-FUT, destacou algumas ideias que foram transversais no encontro. Lembrou que os problemas atuais são muitas vezes reconfigurações de velhos problemas como é o caso da precarização que nasceu com a Revolução Industrial e que tem hoje uma nova forma com o desenvolvimento das novas tecnologias. Slogans tão antigos como o da redução do horário do trabalho continuam a fazer sentido hoje para a luta das organizações de trabalhadores. O Pedro Estêvão sublinhou a centralidade do trabalho na vida das pessoas, centralidade que é objeto de lutas, de avanços e recuos. Importa dar a conhecer as lutas travadas pelas organizações de trabalhadores, mas também as suas vitórias, bem como incentivar alianças com outros movimentos, fora do sector e fora do próprio movimento sindical.

Este encontro foi um importante momento de reflexão, de debate e de confronto de ideias sobre a realidade do movimento sindical e o seu futuro. É um ponto de partida para a realização de futuros encontros nos próximos meses. O aniversário da BASE-FUT foi a seguir comemorado nas instalações do Centro de Formação e Tempos Livres, no Casal do Lobo. O dia permitiu aos militantes olhar com orgulho o caminho feito e com vontade de ir mais longe nos próximos anos.

Junta-te à BASE-FUT!