Nos últimos anos da ditadura o movimento sindicalista democrático ganhou força conseguindo várias vitórias ,conseguindo substituir direções sindicais coniventes com o regime por sindicalistas da oposição democrática com forte influência de militantes comunistas, socialistas e independentes, a maioria oriundos dos Movimentos Operários Católicos, alguns dos quais pertenciam ao Centro de Cultura Operária (CCO) e mais tarde à BASE-FUT.Do livro das edições BASE « Greves e o 25 de Abril»retiramos um pequeno texto que resume este movimento que desembocaria no primeiro 1º de Maio de 1974.
«Apesar desta repressão os trabalhadores continuaram a organizar-se e a construir a unidade do movimento sindical para o que muitos contribuiram as lutas referidas.Tinha-se a impressão de estar numa «nova era» sindical.Muitos associados dos sindicatos dos Caixeiros(Lisboa) Bancários (Lisboa, Coimbra e Porto),lanifícios,Quimicos,Metalurgicos(Lisboa e Porto),Seguros,Jornalistas,etc,etc, começaram a movimentar-se e a constituirem grupos de trabalho que estudavam toda a problemática sindical e escolhiam,entre si, colegas para as novas direções dos respectivos sindicatos que, embora não sendo representativos da grande massa dos trabalhadores, procuravam fazê-los participar nas actividades sindicais e consciencializá-los de modo que os organismos operários se tornassem activos e respondessem às aspirações dos trabalhadores.
Contitui-se uma Intersindical
Estas novas direções agrupam-se e constituem uma Intersindical onde estudam as medidas a tomar em tudo o que afecta os trabalhadores.É lançado um apelo a todos os outros sindicatos para que se liguem a esta Intersindical, mas a maior parte deles recusa,por manifesto desinteresse pela defesa dos seus associados ou por medo da repressão.
Entretanto o movimento de unidade sindical avança;os sindicatos aderentes passam de 21 para 30.(Esclareça-se que há mais de 300 sindicatos no País nesta altura).Começa então a denúncia de todos os atropelos aos mínimos estabelecidos nas leis de trabalho, no que respeita às negociações colectivas e à liberdade de representação dos trabalhadores nos organismos internacionais.
Através de circulares e comunicados os associados são informados ao mesmo tempo que se procura despertar-lhes a consciência para as injustiças cometidas pelas entidades patronais e para as contradições de toda a legislação sindical.
Onde a ação destas direções sindicais é mais notória é nas contratações colectivas para o estudo das quais se criam grupos de trabalho.
Acentua-se a repressão
Acentua-se entretanto a repressão sobre os dirigentes sindicais o que não impede que sejam convocadas Assembleias Gerais onde os sócios são esclarecidos sobre o andamento dos trabalhos e onde são decididas quais as atitudes que as direções devem tomar.Os sócios assim empenhados vão aumentar a ponto das salas escolhidas para as reuniões começarem a ser pequenas devendo procurar-se outras.
É de realçar a actividade desenvolvida pelo Sindicato dos Caixeiros de Lisboa que consegue para os seus associados,através da negociação de um contrato colectivo, a realização do anseio das 44 horas semanais, mas que o governo não homologa por pressão do patronato, sob pretexto de o «considerar prejudicial `economia nacional».É então que, em março de 1971, por decisão da Assembleia Geral, cerca de cinco mil sócios do sindicato se concentram no largo de S.Bento a fim de exigirem o que lhes tinha sido concedido pela arbitragem decorrente da negociação.Após serem convidados a dipersar, o que fazem ordeiramente, são espancados pela polícia e cães-polícias são lançados sobre eles.
Governo apercebe-se do perigo do sindicalismo livre
O governo começa a aperceber-se do perigo que ele próprio corre, assim como a classe que representa.Muitas reuniões são proibidas,especialmente as que são anunciadas por meio de circulares,o que leva os dirigentes sindicais a reagirem e a oporem-se a tais medidas governamentais.Os sindicatos passam a ter que submeter todas as suas publicações à censura,por ofício do Ministério das Corporações.A imprensa diária é quase reduzida ao silêncio no que respeita a noticiário sindical.Os dirigentes sindicais são ameaçados e alguns presos.
Com a prisão de três dirigentes sindicais(Bancários de Lisboa,Jornalistas e Caixeiros de lisboa) os restantes elementos directivos acompanhados por outras direções sindicais actuam,organizam movimentações colectivas a fim de conseguir a liberdade para aqueles colegas.Várias medidas são adoptadas e concretizadas:quase todos os trabalhadores bancários se apresentam ao serviço, durante um período estabelecido, de gravatas e fatos pretos;alguns milhares destes trabalhadores manifestam-se nas ruas de Lisboa e Porto tendo intervindo as forças de repressão e registando-se bastantes incidentes entre as duas partes.
Governo encerra sindicatos mas movimento cresce
É então convocado o Conselho de Segurança Pública, constituído pelo Ministério do Interior e pelos Comandantes da GNR,PSP e PIDE/DGS que decide encerrar os sindicatos dos Bancários de Lisboa e Porto,destituindo as respectivas direções as quais são substituidas por comissões administrativas, nomeadas pelo Ministério do Interior.
Entretanto noutros sectores formam-se grupos de trabalho a fim de prepararem e concorrerem às eleições nos seus sindicatos-Bancários (Lisboa e Porto), tipógrafos, Motoristas,Hotelaria,Panificação, Electricistas (todos de Lisboa) Caixeiros e Escritórios (Santarém) e Metalurgico (Setúbal)Mas nenhum destes grupos, com excepção dos Bancários e as secções de Actividade dos Escritórios consegue obter exito, tendo sido nomeadas para os sindicatos ds Motoristas e dos Tipógrafos comissões administrativas por demissão das respectivas direções em vésperas de eleições.
Nos Sindicatos dos Electricistas e da Panificação de lisboa apresentam-se também as respectivas listas às eleições, sendo as duas impugnadas pelo Ministério das Corporações.No Sindicato dos Escritórios e Caixeiros de Santarém, em que aparecem duas listas, a A e B,ganhou a segunda que tomou posse mas que foi posteriormente impugnada pelo INTP (Instituto Nacional de Trabalho e Previdência).O grupo de trabalho do Sindicato dos Metalurgicos de Setúbal, por desconhecimento da lei apresentou a sua lista fora de prazo.
Em 20 de maio de 1972 realiza-se a eleição para os corpos gerentes dos Sindicatos dos Bancários de lisboa e Porto, em que que os grupos de trabalho vêem coroados os seus esforços com uma das votações mais maciças-cerca de 8000 votos entrados nas urnas-facto pouco vulgar nos nossos sindicatos.
Após um período de cerca de quatro anos, caracterizado essencialmente por uma autêntica agitação sindical, novo surto grevista surge por todo o País entre fins de 1973 e primeiros meses de 1974.»