«Livros que tomam partido-edição e revolução em Portugal: 1968-1980» do historiador brasileiro FLAMARIÓN MAUÉS já circula nas livrarias portuguesas e foi apresentado no passado dia 7 deste mês no Palácio das Galveias, Lisboa, com a presença do autor, dos responsáveis da Editora Persifal, da historiadora Maria Inácia Razola, para além de numerosos editores, nomeadamente das edições BASE, que através de entrevistas e outras informações contribuíram para que esta obra inédita preenchesse uma lacuna importante na edição política em Portugal.
Diz o autor a dado momento:«Quase metade (68 editoras ou 49,2%) do nosso levantamento surgiu a partir de 1974, ou seja,sua história está directamente relacionada com o fim da ditadura em Portugal.É impressionante a efervescência editorial proporcionada pelo clima de liberdade gerado com o 25 de Abril, já que apenas nos anos de 1974 e 1975 nasceram 55 destas editoras (39,8%).Trata-se do período em que a agitação e a participação política atingiram níveis nunca antes vistos no País.
Mas é importante salientar também que o período do chamado marcelismo, que se iniciou em setembro de 1968 e se encerrou com a queda do regime em abril de 1974, assistiu a um intenso movimento editorial.Nesses anos surgiram 33 editoras de carácter político (23,9%), inclusive algumas das mais actuantes delas, como Centelha, Maria da Fonte, Assírio & Alvim, Ulmeiro e Escorpião, por exemplo.
A ressaltar finalmente, que algumas editoriais mais prolíficas no campo da edição política surgiram antes de 1968 e ampliaram a sua actuação a partir do marcelismo e após o 25 de Abril, com destaque para a Seara Nova (1921),Iniciativas Editoriais(1956),Estampa(1960), Prelo(1960),Afrontamento(1963) e D. Quixote(1965).
Se somarmos as editoras que surgiram entre 1968 e o final dos anos 1970 veremos que chegam a 102 editoras(73,9%), ou seja,quase três quartos das editoras analisadas, o que reforça e confirma a constatação de que o período de lutas políticas do final da ditadura e o 25 de Abril foram os fatores determinantes para a explosão editorial de caráter político ocorrida em Portugal nesse período…»
Noutro local da obra conclui o autor«Assim as editoras de caráter político-e as obras por elas editadas-foram um destacado sujeito do processo político português, seja nos anos que antecederam ao 25 de Abril, seja no processo desencadeado a partir daquele momento…»
Para Maria Inácia Razola, uma das Historiadoras que mais tem trabalhado alguns aspectos do 25 de Abril, dando particular atenção aos sectores católicos, não teve dúvidas em afirmar no lançamento do livro, no passado dia 7, que este livro abrange e aprofunda um importante espaço da história da edição em Portugal e abre caminho a novas investigações.
As edições Base entram no capítulo das editoras Católicas da Oposição/católicos progressistas e após uma análise das suas origens, motivações e obras publicadas o autor conclui:«As Edições Base representaram uma iniciativa de segmentos católicos progressistas que actuavam no setor sindical e que buscaram sempre uma atuação autónoma tanto em relação à hierarquia eclesiástica como aos partidos políticos e que viam na edição de livros uma forma de dialogar com os seus militantes e com setores próximos às causas que defendiam;e também um meio para mobilização política e difusão de sua atuação nos meios sindicais»