Maria Emília Reis Castro(1940-2014). Nascida em 1940, em Santo Tirso, em tempo da guerra, viveu numa família em que não lhe era estranha a fome e a repressão. Entrou para a JUventude Operária Feminina (JOCF) em 1954. Dirigente com grande sentido de militância e ligação aos trabalhadores na base ,aos 15 anos era responsável da pré-JOC e trabalhava como costureira.Entra para a fábrica CORTEL em 1964. A ida para a fábrica, em 1964, já foi um compromisso que fez com o grupo de base, da Juventude Operária Católica Feminina (JOCF). Reuniam às 6,30h da manhã, para dar tempo de entrar na Fábrica às 8h da manhã. Foi nessa altura que descobriu o que era ser explorado. o que era ser humilhado, e o que era ser mandado sem ter direito a opinião. Por compromisso na acção, o seu grande trabalho foi formar grupos que depois se deslocavam ao sindicato para saber dos seus direitos. Nunca mais deixou de ser militante e foi tomando consciência cada vez mais alargada de que, para além da exploração, havia a repressão, o fascismo.
Participou em várias reuniões clandestinas e acompanhou a luta dos estudantes em Coimbra, a luta das Bancários, a campanha de Humberto Delgado, fazendo parte da multidão que o esperava na estação de S. Bento no Porto.
Em 1967 a JOC envia-a para o Algarve onde trabalha num hotel e ao mesmo tempo dinamiza o trabalho da organização da Juventude Operária Católica na Região.Em 1969 desloca-se ao Norte para se candidatar à direcção da delegação do sindicato dos têxteis, em Santo Tirso, numa lista promovida por militantes do PCP e da JOC.Em 1970 regressa da missão no Algarve e volta a trabalhar como operária no sector têxtil no Norte.Integrou a Comissão de apoio à direção do Sindicato Nacional dos Profissionais de Alfaiataria e Costura do Distrito do Porto para a negociação do contrato colectivo das costureiras.Foi membro do Centro de Cultura Operária (CCO), do Movimento Base na clandestinidade e da Ação Católica Portuguesa.
Integra os primeiros corpos gerentes eleitos pelos trabalhadores
Em Maio de 1974 foi eleita para a Comissão Directiva do Sindicato.Em setembro de 1974 integra os primeiros corpos gerentes eleitos democraticamente.Foi reeleita consecutivamente para a direção do Sindicato do Vestuário,Lavandarias e Tinturarias do Distrito do Porto, designação que adquiriu com os estatutos aprovados em 1975.Integrou a direção da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis,Lanifícios,Vestuário, Calçado e Peles de Portugal (FESETE) desde 1976.Foi membro suplente do Secretariado da CGTP em 1977;passa a efectiva em 1980.Em 1983 foi eleita para os órgãos dirigentes da União dos Sindicatos do Porto/CGTP.Membro suplente da Comissão Executiva do Conselho Nacional da CGTP em 1986 passa a efectiva em 1989.Pertenceu a este órgão de direção da CGTP até 2003.Pertenceu à Base-Frente Unitária de Trabalhadores (BASE-FUT).
Desde sempre ligada á BASE-FUT Maria Emília representou esta Organização a nível nacional e internacional e pode ser considerada como uma das líderes sindicais que mais simboliza um sindicalismo de base, autónomo e de classe!
O seu forte não eram as teorias mas sim as práticas e a ligação permanente aos trabalhadores.Estas suas carateristicas tornaram-na respeitada e admirada pelos trabalhadores e companheiros sindicalistas. A sua análise partia sempre do real, das lutas concretas, procurando soluções para os problemas que a classe enfrentava. Autodidata e combativa, recordava os militantes do sindicalismo revolucionário da 1ª República. Fez agora, em março, seis anos que a Maria Emília nos deixou para sempre!
(Elementos recolhidos por Avelino Pinto e Brandão Guedes com base num depoimento de Mila Reis para o livro dos 40 anos da BASE-FUT e do livro da CGTP «Contributos para a história do movimento operário e sindical 1977-1989, Volume II).