A BASE-FUT comemora este ano 50 anos de atividade.A memória é importante mas para potenciar o futuro.Quais os principais objetivos para o trabalho e sindicalismo?As mudanças económicas, tecnológicas e organizacionais em curso decorrem do acentuar da globalização do sistema capitalista, uma globalização estruturalmente injusta na repartição da riqueza.
Nos últimos 30 anos assistimos a um processo acelerado de concentração da riqueza nas mãos de poucas pessoas. A especulação e predação económica e ambiental à escala global deram um poder desmesurado ao capital financeiro, que conhece cada vez menos limites à sua ação. O crescimento deste poder teve, como contrapartida, o enfraquecimento dos estados e das
instituições democráticas, nomeadamente as organizações de trabalhadores.
Promoção do trabalho digno
Desta forma, continua a ser tão prioritária como sempre foi a promoção do trabalho
digno, ou seja, com direitos não apenas garantidos na lei mas também na prática:
direito a um salário justo, saúde e segurança no trabalho, estabilidade profissional,
conciliação entre a vida profissional, a vida familiar e a participação cívica, direito ao
repouso e ao lazer, direito a não ser humilhado no local de trabalho nem a ser
despedido de forma arbitrária.
Todavia, a promoção do trabalho digno, sendo uma tarefa do Estado democrático, é
também um dever fundamental das organizações de trabalhadores, nomeadamente
dos sindicatos e de organizações como a BASE-FUT. A promoção do trabalho digno
exige também organizações de trabalhadores fortes e autónomas e quadros/animadores preparados, ou seja, com formação no domínio laboral e sindical.
Neste quadro a BASE-FUT define, como objetivos estratégicos e ações no domínio do
trabalho e sindicalismo: a promoção do trabalho digno, da organização autónoma e da
unidade dos trabalhadores.
No âmbito da promoção do trabalho digno, a BASE-FUT deve desenvolver ações
com vista a:
a) Promover a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, dando particular
enfoque ao combate ao stress laboral, ao assédio moral e ao burnout.
b) Contribuir para a divulgação de uma visão de que a vida dos trabalhadores não pode nem deve reduzir-se ao trabalho, devendo pelo contrário promover o equilíbrio e a conciliação entre a vida profissional, familiar e social. Neste aspeto, a BASE-FUT deve apoiar todos os esforços para redução do tempo de trabalho para todos os trabalhadores.
c) Contrariar a apropriação desequilibrada dos ganhos da atividade económica,que se traduz tanto no acentuar da disparidade na distribuição da riqueza entre capital e trabalho, como na criação e alargamento de um fosso entre uma minoria de trabalhadores qualificados e bem pagos e uma maioria de trabalhadores precarizados e mal pagos.
d) Promover a igualdade entre todos os trabalhadores e trabalhadoras e
combater todas as formas de discriminação no acesso ao trabalho digno,em particular as que atingem as mulheres, as minorias étnicas, os imigrantes e as pessoas com deficiência.
Organização autónoma dos trabalhadores
No que respeita à organização autónoma dos trabalhadores, a BASE-FUT considera que ela exige uma renovação profunda do sindicalismo, assente na revitalização da participação sindical dos trabalhadores nos locais de trabalho e no combate ao sectarismo sindical. Assim, e atendendo aos défices profundos de formação sindical no nosso país, a BASE-FUT tem a responsabilidade de organizar com regularidade, por si própria ou em conjunto com outras organizações, ações de divulgação e de formação sobre os direitos dos trabalhadores, o funcionamento dos sindicatos, os processos de negociação coletiva e os resultados concretos da ação sindical.
O terceiro objetivo específico nesta área é a promoção de uma cultura sindical de
autonomia. Esta é uma condição fundamental para que se construa uma verdadeira
unidade das classes trabalhadoras. Neste sentido, a BASE-FUT deve criar grupos da
CAT nas regiões onde existem militantes da BASE-FUT, tendo em vista uma maior
participação destes nos sindicatos independentes, na CGTP e na UGT. A nossa
histórica participação na CGTP não é contraditória com a necessidade de uma maior
autonomia de ação e pensamento dos militantes da BASE-FUT. Antes pelo contrário,
uma participação de qualidade na CGTP, como na UGT e nos sindicatos
independentes, exige um pensamento autónomo dos nossos militantes, com posições
próprias que podem ou não coincidir com as dos militantes das outras correntes.
Fonte: Plano Estratégico da BASE-FUT de 2016-2030