Trabalhadores católicos de Portugal, Alemanha e Caboverde em parceria

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José Paixão*

A Liga Operária Católica – Movimento de Trabalhadores Cristãos desenvolve, há mais de 10 anos, uma parceria com o KAB – Movimento dos Trabalhadores Católicos, da Alemanha e a Acção Católica de Cabo Verde, no sentido de apoiar o desenvolvimento deste Movimento.

Ao longo destes 10 anos fizeram-se encontros com militantes e membros da Ação Católica em toda a Ilha de Santiago, ações de formação, contactos com a estrutura da Igreja, com escolas e professores, com alguns ministros, com algumas empresas e instituições e com a população em geral. Tomando conhecimento, desde o início, da grande pobreza e das principais dificuldades ali existentes: Seca, falta de água, desemprego, baixos salários, miséria, falta de condições escolares, elevado número de mães solteiras e de crianças não registadas e sem frequentar a escola, decidiu-se desenvolver um plano de apoio a pessoas mais carenciadas e a algumas escolas de zonas mais desprotegidas nas periferias da cidade da Praia, na Ilha de Santiago, tendo como prioridade as crianças.

Do KAB da Alemanha foram enviados     contentores com papel e diversos materiais escolares e algum dinheiro para apoiar crianças a irem e a poderem manter-se na escola. A LOC/MTC de Portugal fez uma campanha nacional de recolha de livros e outros materiais escolares que enviou de barco, em paletes, com destino à Escola Azul              de Ponta d’Água, que logo que os recebeu organizou uma boa Biblioteca que tem estado a servir aquela e outras escolas da zona. Foram recolhidos, através de campanhas do KAB e da LOC/MTC, fundos que permitiram a construção nesta escola, de casas de banho para alunos e professores e a vedação da escola, que não existiam. É bom referir que esta nossa ação influenciou a população local e a instituição de ensino a encontrarem soluções para outras necessidades que já colmataram.

Trabalhadores católicos em formação 

A LOC/MTC esteve em Cabo-Verde de 9 a 17 de janeiro de 2019, em mais uma presença marcada pela formação. Os membros da Acão Católica de Cabo Verde vinham manifestando desejo de conhecer melhor a Doutrina Social da Igreja e nomeadamente a Laudato Si, do Papa Francisco. Durante dois dias, participaram nesta formação, 35 animadores dos grupos da Acão Católica de Cabo Verde. Trouxeram os seus testemunhos, a sua forma de participar, as suas dificuldades. Escutaram com o coração os desafios do papa Francisco e aprofundaram de modo especial a questão da água e do trabalho, as realidades mais difíceis na Ilha de Santiago. Reconfortante foi ainda a presença amiga e a reflexão do Cardeal Arlindo Furtado, bispo da Diocese, e também a presença de mais 90 membros da Ação Católica de Cabo Verde, que participaram na sessão de encerramento desta ação de formação, na celebração da Eucaristia, no almoço e na festa que se lhe seguiram, com grande animação, manifestando a sua alegria de estarem ali. Foi agradável ver a satisfação com que todos os participantes na formação receberam um exemplar da Laudato Si, oferecido pela Paulinas Editora, a quem muito agradecemos. Nota de tristeza foi verificarmos que alguns membros não puderam vir, só porque não tinham dinheiro para pagar os transportes públicos. Dá que pensar e fica-nos um nó na garganta pois o dinheiro de dois cafés chegava para fazerem viagem de ida e volta.

A Acão Católica dá sinais de evolução pois, sem descurar a dimensão espiritual e evangelizadora, a sua mais-valia, vai-se abrindo a novos desafios tendo sempre a construção do homem integral como referência, agora, reforçada com a recente nomeação de um novo assistente, que há 10 anos aspiravam.

A seca e a falta de trabalho

Sendo já a quarta vez que a LOC/MTC se desloca a Cabo-Verde, no âmbito desta parceria, pudemos testemunhar desta vez o esforço de empreendedorismo na agricultura, no pequeno comércio, nos serviços de proximidade, nos pequenos arranjos das casas de habitação. E a nível público a aposta no Turismo. Mas em todas as conversas a questão de fundo: a falta de chuva, que ultimamente tem acontecido quatro anos em cada cinco, sendo considerado o motivo principal para não haver trabalho para todos. Também tem havido algum esforço na construção de barragens para segurar as águas nos anos em que chove, no desenvolvimento de processos de rega gota a gota e no sistema de dessalinização da água do mar para poder ser usada no saneamento e na agricultura.

Como já é habitual fixámo-nos em Ponta d’Água, um bairro periférico da capital, com cerca de 12.000 habitantes, em casa de uma das militantes da Acão Católica. Isso permite-nos conhecer de perto os perigos da criminalidade, contactar com as vendedoras da rua, tomar uma cerveja num bar sujo, caminhar em ruas cheias de pó e ver, pela diferença de qualidade das habitações, na mesma rua, a grande desigualdade de poder económico da população que resulta principalmente de desníveis salariais e de ter ou não ter algum emigrante na família. Nestes contactos estiveram também as escolas. Contactámos com professores e alunos que nos receberam e mostraram as escolas por dentro. Dá que pensar como é que se consegue ser educador em condições tão pobres, miseráveis mesmo: Turmas de 40 alunos, cadeiras e mesas defeituosas, cozinha sem espaço, sem arejamento e sem condições de higiene, comida servida nas salas de aula, falta de material escolar,… mas alegria generalizada em todos: professores, alunos, cozinheiras, administrativos. A terminar a visita ofereceram-nos o almoço. Comemos com os professores, na Biblioteca (não há refeitório nem para professores nem para alunos) uma sopa, trazida num balde de plástico de 20 l (igual aos que usamos para a tinta) onde cada um tirava com a concha para o seu prato de alumínio e comia de pé. Mas que boa que estava aquela sopa de peixe.

Apesar disso, a aposta na educação continua e o compromisso de todos é evidente.

*José Augusto Paixão é Coordenador Nacional da LOC/MTC

 

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