Somos os trabalhadores a quem tudo se pede e exige

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Filomena Vieira, trabalha na Escola Básica 2,3 da Costa de Caparica, sendo uma das duas delegadas sindicais do Agrupamento de Escolas de Caparica.O seu trabalho, é apoiar os alunos, professores e intalações, no dia a dia.

A sua categoria profissional, é a de Assistente Operacional, nome genérico para múltiplas profissões na Função Pública, retirando-lhes o nome de Auxiliares de Educação que, pelo menos, lhes dava outra diginidade profissional, regalias e direitos no passado.

Filomena Vieira, que também pertence à Comissão Para os Assuntos do Trabalho da BASE-FUT, respondeu-nos a quatro questões sobre a sua actividade profissional e sindical.

Tu e as tuas colegas, sentem que o vosso trabalho é verdadeiramente reconhecido pelos professores, pais, encarregados de educação e pelo Estado?

Posso dizer que, conto com a colaboração de alguns colegas. Contudo, o reconhecimento de outros, passa pela atribuição de defeitos ao delegado sindical, que se traduz nomeadamente, em inveja e rapidez em passar falhas próprias de outrem para o delegado sindical, talvez como castigo por este faltar ao trabalho, embora  fiquem ao mesmo tempo curiosos por saber o que aconteceu nessa atividade sindical.

Existe uma atitude ambivalente, por um lado querem-me como delegada e, por outro, não querem que eu falte ao trabalho. É compreensível, na medida em que, o trabalho que uma não pode fazer, tem que ser feito pelas outras.

Mas se o delegado não participa nas actividades sindicais, não traz nem leva informações úteis aos colegas.

Já fui chamada à atenção, por tratar mal determinado equipamento precisamente num dia em que estive para Setúbal em atividade sindical, e nem fui ao local de trabalho.

No que respeita aos professores, sentimos que existe uma fronteira entre eles  e o restante pessoal, pois não me lembro de em vinte anos, termos uma única reunião conjunta, a não ser os almoços de Natal, ou no fim do ano letivo e, mesmo assim, na mesa, há sectores separados.

Recordo que um dia quis assistir a um debate no local de trabalho, sobre indisciplina, fui impedida com a ameaça de ter falta.

Em relação aos alunos, estamos numa fase muito difícil de controlar, em que eles chegam à escola desprovidos de valores como o respeito aos adultos e entre eles, cuidado com os espaços, dentro e fora da escola, assim como na vizinhança.

Por todo o lado, sente-se uma falta de cidadania.

Sentimos, por vezes, que alguns professores, ao nos tratarem como grupo inferior, dão um mau exemplo aos alunos.

Mas, damo-nos conta que, quanto mais colaboração existir, por parte dos encarregados de educação, melhor gerimos as situações difíceis.

Penso que é urgente proporcionar formação constante não só para nós, como para os alunos, professores, assim como, para os encarregados de educação.

Em relação ao Estado, ajudaria muito a devolução dos nossos direitos, sermos tratados como pessoas em vez de números, reconhecendo-nos, ouvindo-nos, danda-nos melhores condições de trabalho, nomeadamente melhor salário. Há vinte anos, que ganho o salário mínimo. O sucesso escolar passa por esse reconhecimento, em vez de termos trabalhadores, que repetidamente dizem que se sentem “lixo”.

Quais as principais dificuldades que sentes na mobilização sindical dos teus e tuas colegas.

 As principais dificuldades que sinto na atividade sindical, começam, por exemplo, em ouvir do meu superior direto, que o sindicato devia enviar alguém para me substituir, quando sou requisitada para as atividades sindicais externas.

Também a descrença  que existe em vários colegas, ao não acreditarem que a luta traga os nossos direitos de volta.

A falta de colaboração de alguns colegas e superiores, quando os abordo para levar informações sindicais úteis aos trabalhadores. Informações que ficaram por partilhar entre elementos do grupo de colegas.

Na tua actividade sindical, quais os aspectos que te dão mais prazer?

Os aspectos que me dão mais satisfação na atividade sindical, são a aquisição de conhecimentos sobre a realidade de outros trabalhadores e empresas, a formação, o convívio com pessoas a nível nacional e internacional sobre sindicalismo. O conseguirmos direitos de volta. São também dias diferentes dedicados à luta pelo coletivo.

Sentes que existe formação profissional suficiente e de qualidade para a vossa classe? Não seria bom criar condições para uma maior contribuição vossa para a educação das crianças e jovens?

A formação no local de trabalho, tem sido quase inexistente.

Nós somos os trabalhadores a quem tudo se pede e exige, nomeadamente a nossa presença e colaboração para que professores e alunos tenham formação, obrigando-nos para tal, a horários prolongados  quando as ações de formação dos outros grupos acaba mais tarde. A nossa classe é assim a que menos formação tem no quadro do sistema escolar. Ultimamente, a pouca formação que tem sido dada, insiste sistemáticamente no tema da gestão de conflitos.Ora, a nossa realidade profissional não se limita a esta questão. Precisamos de formação, nomeadamente, ao nível informático, de segurança e saúde no trabalho, de pedagogia e psicologia, de atendimento ao público, enfim, de cultura geral, para melhor lidarmos com os jovens, pois estes, quanto mais ignorância mostramos, menos nos respeitam.

Por outro lado,o salário dos auxiliares de educação, está aquém do salário que deviam receber, tendo em conta, as atualizações e progressões em atraso, há muitos anos.

Têm sido pedidos cada vez mais esforços em relação aos horários, com sucessivas alterações ao longo do ano, ao aumento de tarefas deixadas por quem se reforma, é transferido, está de baixa ou falece.

Na verdade, o trabalho tem aumentado pela falta de pessoal e os salários e a progressão das carreiras não têm acompanhado esse ritmo. Em contrapartida, reduziram os dias de férias

Existem vários casos de  trabalhadores/as auxiliares, que recorrem a biscatos para fazerem face às despesas.

Estamos longe de um trabalho e um salário dignos.

 

 

 

 

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