Américo Monteiro*
Não se fala em outra coisa, as greves, a greve às cirurgias, greve dos enfermeiros. Há também aquele caso muito mediático da Cristina Tavares, mulher corticeira, que a imprensa tem dado grande destaque, porque viu aqui uma boa história e que felizmente tem despertado muitas solidariedades, mas não é o que aqui e agora, pretendo desenvolver.
Há de facto várias lutas que se desenrolam pelo país, a reclamar melhores condições de vida e de trabalho, mas é esta das cirurgias que se destaca.
Estaremos nós a voltar ao estilo do tempo da outra senhora, com um sindicalismo do tipo corporativista, em que cada sindicato ou sector, só se interessa com os seus direitos, sendo-lhes completamente alheios, qualquer gesto de solidariedade ou de atenção para com outras áreas ou classes sociais mais desfavorecidas?
Não posso deixar de sublinhar o respeito que me merece o SEP, Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, que no meio de todas estas discussões, opções, desafios em que foi colocado, nunca pareceu ter-se descontrolado, continuando a sua luta, as suas negociações, os seus objetivos de melhorar as condições daqueles que representa, de forma progressiva e séria e sem desrespeito pelo maior bem das populações, que é a saúde.
Às vezes, mediante discussões travadas dentro da própria CGTP-IN e das dificuldades que se colocam entre sindicatos, dá a ideia que um grande número destes, nunca deixou de ser marcado por essa influência do antes do 25 de Abril, o corporativismo, tendência para privilegiar os interesses do próprio grupo profissional. Só que em vez de aliados ao estado, são ligados a determinadas forças políticas e seus objetivos. Veja-se esta greve às cirurgias nitidamente animada por forças de direita e por certo detetaram outras lutas com interesses partidários da esquerda.
Esta crispação e radicalismo trazem, vão trazer, grande prejuízo para o sindicalismo e os trabalhadores. Defensor que sou de um sindicalismo de Base, Participativo e de Massas…, muitas vezes me interrogo se vale a pena ocupar-me com cúpulas. Pergunto-me muitas vezes se o contributo que me sinto capaz de dar por esta ideia de sindicalismo, junto com outros pontos de vista, outras maneiras de desenvolver um sindicalismo ao serviço dos trabalhadores, por uma sociedade mais justa e solidária, alguma vez é aproveitada, mais que não fosse, por respeito pelo número significativo de trabalhadores que nele acreditam.
Outro exemplo. A luta que os professores desenvolvem, faz já muito tempo, que de fora nos parece conter posições extremadas, muita crispação e radicalismo, dou comigo a pensar: Um dos grandes prejuízos desta luta é que, apesar dela, muita coisa de boa tem acontecido em muitas escolas por esse país fora e ninguém dá conta disto. E o mais engraçado é que essas coisas boas que acontecem são desenvolvidas, dinamizadas, apoiadas pelos próprios professores. Com a sua dinâmica de luta, tapam completamente, aquilo que de mais significativo, vão fazendo pelo nosso país.
Preocupa-me as consequências que das dinâmicas atuais deste sindicalismo mais mediático, possam advir sérias dificuldades para os sindicatos operários, ou dos sectores que ocupam atualmente mais mão-de-obra, onde as transformações laborais e o futuro do trabalho mais podem vir a causar mudanças e desafios e que ninguém em Portugal esteja preocupado com esta transição que está a acontecer na sociedade. Preocupa-me que as perspetivas sejam de que mais uma vez, serão os mesmos a pagar a maior fatura. E é por isso que estas reflexões devem continuar.
*Membro da Comissão Executiva da CGTP-IN, dirigente do CESMINHO, Dirigente da LOC/MTC, e participante do CAT da Base Fut