Sair da crise,melhor ou pior?

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Olinda Marques*

Ter de trabalhar, em casa, com o mesmo ritmo e produtividade enquanto se cuida de crianças, ou de idosos em casa, ou enquanto se partilha computadores, internet com os filhos em idade escolar.

A chegada da pandemia veio agravar e pôr em evidência os problemas sociais. Vai ser necessário continuar a ter um grande cuidado para evitar que os mais vulneráveis, pelas doenças, ou pela idade sejam fatalmente afetados. Perante uma doença infeciosa transmissível por via respiratória, as medidas de contenção que eram válidas em 1918, durante a gripe espanhola como o afastamento físico ou a criação de uma barreira física, para impedir a transmissão das secreções respiratórias continuam atuais. Em menos de um ano, já temos mais de 25 milhões de pessoas infetadas no mundo.

 Vantagens do teletrabalho

O teletrabalho não é nada de novo. Não era é tão generalizado nem muito bem aceite. Na tentativa de impedir uma progressão rápida da infeção por coronavírus esta experiência permitiu perceber que é possível que muitas pessoas trabalhem a partir de casa e há muita gente que prefere esta forma de trabalhar. As empresas ganharam novas perspetivas sobre as vantagens do trabalho remoto, e a possibilidade de regime misto (remoto e presencial), com equipas em rotação, pode ser uma opção viável tanto para o trabalhador como para a empresa. Em certas situações, pode ter muitas vantagens: permitindo o acesso ao trabalho a pessoas com problemas de saúde, pessoas que necessitem fazer o acompanhamento de familiares (crianças, idosos, ou deficientes), pessoas que vivam em locais mais remotos, ou com problemas de mobilidade. Além disso, entre tanta má notícia que nos trouxe a pandemia de covid-19 , todos reparámos na melhoria da qualidade de vida nas nossas cidades, com menos trânsito, melhor qualidade do ar, menos ruído e menos stresse para irmos de um lado para o outro!

E as desvantagens

O teletrabalho veio também revelar desigualdades encobertas: como exemplifica o papa Francisco, se “alguns podem trabalhar de casa, para muitos outros isto é impossível”, pois realizam tarefas pouco qualificadas, por vezes sem qualquer tipo de proteção social, para quem ficar em casa significa não ter comida na mesa, no final de cada dia e deixar de ter acesso a habitação digna. Muitos defendem que o teletrabalho não é uma situação saudável se for prolongado e se for feito em exclusividade. É uma forma de trabalhar que está associada, em parte das vezes a trabalhar sem horário fixo e a disponibilidade quase permanente por parte do trabalhador e que obriga a algum confinamento dentro da própria habitação, situação nem sempre fácil de manter dada a pequena dimensão de tantas habitações, o que pode não ser saudável para o próprio ambiente familiar. E também porque o contacto presencial com outros colegas de trabalho parece ser importante para o equilíbrio emocional, parece ser preferível situações mistas (com parte do horário presencial e parte em teletrabalho).

Doença social que é preciso combater

Como questionou o Papa Francisco, “A pandemia colocou-nos em crise, mas de uma crise não se pode sair igual, ou saímos melhores ou piores, essa é a nossa opção. Depois da crise continuaremos com esse sistema económico de injustiça social e de desprezo pelo cuidado do ambiente?”

“É um vírus que provém de uma economia doente. É o resultado de um crescimento económico desigual, que é independente dos valores humanos fundamentais. A economia está doente” e as crescentes “desigualdades revelam uma doença social” que importa combater! É esse o desafio de todos nós enquanto trabalhadores cristãos!

*Dirigente da LOC/Movimento de Trabalhadores Cristãos de Coimbra

Nota: Este artigo foi publicado originalmente no nº 649 do jornal «Voz do Trabalho»

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