Recordar o Nuno Teutónio Pereira com afecto e saudade

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Fernando Abreu*
Completaria, hoje , 1oo anos de vida, uma vida, vivida intensamente  – como cristão e cidadão – empenhado na Renovação de uma Igreja que, em Portugal, continuava, maioritariamente, comprometida com o regime fascista, e  na luta política clandestina contra a guerra nas colónias e o  derrube do salazarismo/caetanismo.
Recordo o Nuno Teotónio Pereira com Afeto e Saudade, e embora não sendo seu amigo íntimo, tive a oportunidade de com ele participar em muitas atividades, algumas delas de caracter clandestino.
Porém, foi no plano político que tive a oportunidade de conviver com ele por largos dias, em duas “Viagens de Estudo”, uma à Espanha franquista e a outra à Itália Democrática, país em que a Esquerda tinha uma influência significativamente importante nos campos cultural, sindical e político.
A Espanha, em 1966,,o convite foi-me dirigido pelo José Manuel Galvâo Teles que, tal como eu, à data, fazia parte da Junta Central da Ação Católica, tendo-nos acompanhado o Vitor Wengorovius e o Nuno Teotónio Pereira.
EM 1968,quando a Associação Cristã dos Trabalhadores Italianos propôs ao Movimento clandestino BASE uma Missão a Itália para dar a conhecer a realidade religiosa, sindical de política do nosso país e estabelecer relações com os Partidos e Sindicatos, Organizações Religiosas e Culturais e Orgãos de Comunicação Social, fui incumbido não só de participar e organizar as deslocações bem como a de proceder aos convites precisamente os já referidos e reconhecidos Opositores ao regime vigente.
Para tal contatei o Nuno que sem perguntas, à época incómodas, aceitou prontamente o Convite, o que me sensibilizou profundamente, pelo que significou de   manifesta total confiança na Organização em representação da qual, sem a nomear, o convidei.
Recordo ainda que já em democracia a Organização EZA (Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores) promoveu a realização de um Seminário Sobre Urbanismo e ao escolher Lisboa para a sua realização encarregou a Base-FUT da sua Organização, o que implicava a visita a bairros degradados e a iniciativas de beneficiação ou construção de novos bairros sociais, responsabilidade que só assumimos após contatarmos o Nuno Teotónio que, sem hesitar um momento, se comprometeu a dar todo o seu apoio, a escolher e organizar as deslocações, bem como a participar nas Sessões do Seminário em que a sua presença fosse necessária.
A última vez que nos encontrámos conversámos sobre o “estado da nação” e, com uma humildade que muito me sensibilizou, referiu-se expressamente à BASE-FUT, manifestando a muita consideração em que a tinha,  e repetindo o que já me dissera quando lhe fui agradecer pessoalmente a colaboração que havia dado à realização do Seminário EZA, disse-me, Fernando Abreu, saiba que lamento que o MES não se tenha ligado à Base-FUT, e, acrescentou: quando o pensámos já se encontrava em dissolução.
Neste tempo de “vazio” ideológico e cultural que marcou  a Campanha Eleitoral que ontem terminou, sou levado a afirmar que falta fazem Homens que, a exemplo do Nuno Teotónio Pereira, com sabedoria, sensibilidade e coragem, se empenhem na política não para servirem os seus mesquinhos interesses, mas, sim, para servir o BEM COMUM.
Lisboa, 30 de Janeiro de 2021.
um Amigo que recordo com terna Saudade.
* Fundador e Primeiro Coordendor Nacional da BASE-FUT

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