Porque lutam os trabalhadores dos Call Center?

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Nos finais de 2020 e início do novo ano os trabalhadores dos Call Center estiveram em greve nacional.O sector emprega cada vez mais trabalhadores, na maioria precários e com baixos salários. As empresas não estão disponíveis para o diálogo com as organizações de trabalhadores.«A luta exige envolvência de todos os trabalhadores, faz-se todos os dias e em todo lado. É necessário que os trabalhadores se consciencializem que tudo aquilo que foi conquistado foi através da luta e só unidos conseguiremos mudar algo.E quanto mais organizados estivermos, mais protegidos estamos e melhores condições conseguiremos negociar com as empresas.”-lembra NELSON CERQUEIRA o delegado sindical  da NOS/RANDSTAD de Coimbra, em greve nos últimos dias do ano, e membro do Sindicato dos Trabalhadores dos Call Center. Na entrevista abaixo, que deu ao «TÁS LOGADO, site daquele Sindicato,fala da situação actual da classe e da elaboração das suas justas reivindicações.

Tás Logado?; Explica-nos de forma sucinta os motivos da luta dos trabalhadores/as do call center da NOS/Randstad em Coimbra.

NC -“A nossa luta está assente em vários pontos do nosso caderno reivindicativo que consideramos centrais para a melhoria das condições de trabalho e no trabalho.

Entre elas destacam-se a restituição do subsídio fixo de 200€ que nos foi unilateralmente retirado pela empresa; Igualdade no subsídio de alimentação (nivelado por cima);

Efetivação de todos/as os/as trabalhadores/as ao fim de três anos de trabalho, com efeitos retroativos; Aumento do tempo de pausa para 6 minutos por hora; Pagamento de outros custos adicionais que resultam inevitavelmente da prestação de Teletrabalho, nomeadamente em termos de despesas de energia e água, mediante a comprovação por parte dos trabalhadores do aumento dos referidos gastos.

 

Tás Logado?; As situações e problemas que se verificam no vosso call center são infelizmente, transversais à esmagadora maioria,senão todo o sector de call/contact center. Nesse sentido, explica-nos como e o que vos levou a dar o passo em frente de se organizarem?

NC – A organização dos trabalhadores deve-se sempre ao mesmo… O atingir de um ponto de ruptura. Esse ponto é atingido por um acumular de situações que resultam da passividade/negligência da empresa. Não obstante do corte dos 200€ fixos e da desigualdade do subsídio de alimentação anteriormente, que sempre foi tema de discussão, preocupação e insatisfação dos trabalhadores durante muito tempo.

No nosso caso em concreto, a Randastad/NOS devem a organização dos trabalhadores aos cortes nos prémios e atrasos nos pagamentos a boa parte dos trabalhadores durante o 2º/3º trimestre de 2019. Dada a instabilidade – provocada pelas experiências no prémio nos trabalhadores – do sistema comissional variável, os trabalhadores começaram-se a organizar desde finais de 2019 no sentido de reivindicar melhores condições às empresas. E essa organização culminou na criação de um caderno reivindicativo votado pela esmagadora maioria dos trabalhadores.

 

Tás Logado?; Sendo este um processo já longo e com várias acções concretas de luta, como caracterizas a postura da Randstad e também do “cliente” NOS perante as reivindicações dos trabalhadores/as?

NC – Se no início houve alguma abertura da empresa para saber quais as insatisfações dos trabalhadores, que acabou por dar lugar a uma reunião em Junho sem qualquer resolução, neste momento ambas as empresas são caracterizadas por um silêncio monolítico e culposo. Não tem havido um esforço, ou interesse, por parte de nenhuma das empresas em abrirem um diálogo com os trabalhadores ou com a estrutura sindical, como se aguardando que este “problema” desapareça com a mudança das estações.

 

Tás Logado?; Sabemos que muitas pessoas vêm as organizações sindicais como algo “antiquado” ou ultrapassado.Na tua perspectiva, qual é a importância/necessidade na actualidade, dos trabalhadores/as se sindicalizarem,e no caso do sector de call centers especificamente, porquê a sindicalização no STCC-Tás Logado?

NC – A sindicalização é importante porque permite a criação de uma base para a construção e manutenção das lutas sindicais no interesse dos trabalhadores.

No entanto, o sector dos call centers é e sempre foi muito precário, nunca houve grande interesse desde a sua génese na regulação deste sector, ou por estarem associados aos diferentes sindicatos das mais variadas industrias, ou por ser considerado como um sector incipiente.

Se alguma vez foi esse o caso, agora certamente não o será, somos mais de cem mil trabalhadores num sector cada vez mais imprescindível.

A luta exige envolvência de todos os trabalhadores, faz-se todos os dias e em todo lado. É necessário que os trabalhadores se consciencializem que tudo aquilo que foi conquistado foi através da luta e só unidos conseguiremos mudar algo.

E quanto mais organizados estivermos, mas protegidos estamos e melhores condições conseguiremos negociar com as empresas.”

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