O CASARÃO – o filme

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Ana Isabel Pena*

“Parecem bandos de pardais à solta

Os putos, os putos

São como índios, capitães da malta

Os putos, os putos

Mas quando a tarde cai

Vai-se a revolta

Sentam-se ao colo do pai

É a ternura que volta

E ouvem-no a falar do homem novo

São os putos deste povo,

A aprenderem a ser homens”

(Paulo de Carvalho / Carlos do Carmo “Os putos”

 

Quando o Brandão me desafiou para escrever algumas linhas sobre o Filme “O Casarão” do jovem cineasta Filipe Araújo disse-lhe que sim. Mas, logo de seguida, fiquei “com o coração pequenino”.

Perguntei-me logo de seguida: “Ana, se gostaste tanto do Filme, se lhe encontraste tantas qualidades, se espontaneamente e de uma tirada mandaste uma mensagem ao Filipe a agradecer-lhe pela sua Obra, porque não tens a mesma atitude quando se trata de escrever umas linhas dirigidas a um grupo de leitores mais lato?”

Finalmente encontrei a resposta.

O Filme é muito mais do que um Documentário sobre uma Escola Apostólica Dominicana, vulgo Seminário, durante os finais dos anos 50 princípios dos 60, em Portugal, no Concelho de Vila Nova de Ourém, com crianças e jovens, rapazes, oriundos de todos os “cantos” do País (incluindo Ilhas, o nosso grande escritor João de Melo veio dos Açores para aqui poder estudar), maioritariamente de meios rurais. O Filme toca o espectador pela permanente “viagem” entre o passado e o presente, pela contextualização no momento histórico vivido em Portugal, na Europa e até no mundo. Leva-nos a reflectir sobre o quanto as Instituições são feitas por Pessoas e quanta diferença estas podem exercer, principalmente num País retrógado, “cinzento”, fascizante, pobre, inculto, com a Instituição Igreja Católica de “mãos dadas” com o regime.

São as Pessoas à frente das Instituições que fazem a diferença!

O Filme confronta-nos com alguns excessos dos chamados “rigor e disciplina educativos” comuns à época, sobretudo em Colégios internos, mas também para a abertura a novas ideias, movimentos sociais, contestações, rebeldias, próprias de crianças e jovens de todas as gerações desde que tenham acesso a essa mesma Cultura de Liberdade. Alguns exemplos: Bandas musicais como os Beatles; livros da Biblioteca postos no Index pela censura, incluindo um livro sobre a sexualidade dedicado aos Alunos escrito por um dos Frades; acesso a programas radiofónicos proibidos pelo regime, entre outros.

Sendo assim, não será de espantar que os jovens saídos desta Escola / Seminário se desenvolveram em adultos brilhantes, altamente qualificados, activos intervenientes na Sociedade nos diferentes âmbitos das suas vidas e carreiras.

O Filme mostra que a Escola faz a diferença!

Por fim, tenho que referir a excelência do enquadramento musical, da fotografia, dos pequenos pormenores da aranha, dos cães, das formigas, dos “não ditos mas subentendidos”. Da intercepção de textos autênticos e criativos do nosso querido Horácio Araújo, Pai do jovem cineasta, e de muitos Companheiros que para tal contribuíram. Das imagens aéreas daquela paisagem magnífica em confronto com as imagens terrestres envoltas nalguma tristeza. Da integração dos “putos” de hoje, da colaboração (recuso-me a chamar de interpretação) do nosso “cicerone” António e da sua Família. Testemunhos vivos do passado e do presente.

E mesmo, mesmo para terminar, a actualíssima foto “de família” com todos os ex-alunos presentes num dos últimos Encontros. Os putos feitos Cidadãos Adultos!

Muito Bom!

Uma “lufada de ar fresco” na abordagem destas temáticas!

Obrigatório ver!

Não me canso de dizer:

Obrigada Filipe Araújo

 

  • Socióloga,Animadora Social

 

 

Junta-te à BASE-FUT!