Eleições 2018 no Brasil, uma polarização entre a extrema direita e o petismo/lulismo

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Por Jarbas Cardoso.

Estamos a pouco mais de uma semana para ocorrerem as eleições no Brasil, pleito esse que irá eleger um Presidente da República e seu Vice, 54 senadores (com mandato de 8 anos) e 513 deputados federais. Nos governos estaduais serão eleitos 27 governadores e seus vice-governadores, somado aqui o do Distrito Federal, Brasília. Também serão eleitos 1059 deputados para os parlamentos estaduais, mandatos que se estendem pelos próximos 4 anos.

Dada a crise política, financeira e institucional que se alastra no País desde 2015, após impeachment de presidente Dilma Rousseff (Golpe Parlamentar, para alguns), esta será uma das eleições mais importante para o Brasil, depois de sua redemocratização, em 1988.

Todo o pleito político do País é importante, dada a nova composição e mesmo medição de forças políticas que irá se constituir, tanto a nível regional como federal. O maior cargo político em disputa é o de presidente, o chefe de estado, e é para essa disputa que as atenções estão voltadas.

O Brasil está entre as 10 maiores economias do mundo, com um território continental e uma população que já passa o número de 214 milhões de brasileiros. Todavia é também um país que historicamente tem graves problemas de desigualdade e exclusão social, falta de infraestrutura e de outros atrasos em muitas outras áreas. Problemas esses que a partir de 2015 se acentuaram, representando um retrocesso para um país que vinha nos últimos anos revertendo o cursor de seus indicadores sociais.

Segundo as últimas sondagens eleitorais, para o Governo Federal, há uma polarização entre o candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro, 63 anos, do Partido Social Liberal – PSL, que aparece em primeiro lugar, e o candidato da esquerda, Fernando Haddad, 55 anos, do Partido dos Trabalhadores – PT, que aparece em segundo lugar.

Jair Bolsonaro é um capitão reformado do Exército Brasileiro, há 29 anos na vida pública, sendo destes 27 como de Deputado Federal, pelo estado do Rio de Janeiro. O candidato é conhecido por ser um político populista, comportamento enérgico e por suas frases homofóbicas, misóginas e racistas dirigidas às minorias, como homossexuais, mulheres, índios, negros e imigrantes. Uma personalidade de sua inspiração, segundo afirmação do próprio Jair, é o torturador do regime militar do Brasil (1964-1985) o Coronel do Exército, Carlos Ustra (1932-2015). Em seu histórico como Deputado Federal, Bolsonaro foi um político desconhecido nacionalmente e com pouca produção de propostas parlamentares, a não ser por seu comportamento polêmico. O mesmo passa a ganhar destaque após a crise política de 2015, onde se lança como candidato a presidente. Vendendo-se como um político ético, mas que sempre usufruiu de todas as benesses do modelo político existente e do cargo de parlamentar. Sua principal proposta se constitui na área de segurança pública, com a proposição que “bandido bom é bandido morto”, sendo a sua principal promessa liberar, de forma legal pelo Estado, o direito ao uso de arma de fogo para todo o “cidadão de bem”, para que esses possam se proteger da violência. Bolsonaro promete também adotar um estilo de militarização nas escolas públicas, como solução para os problemas de aprendizagem e mesmo comportamental dos estudantes. Com a identidade de candidato ético, um projeto nacionalista e de livre mercado ao mesmo tempo, ele atrai eleitores que vão desde anticomunistas, antipetistas, antifeministas, nacionalistas, setores mais conservadores das igrejas evangélicas pentecostais, parte do setor do agronegócio, ricos empresários até um grande número de eleitores insatisfeitos e revoltados com a corrupção existem no atual modelo político do País ou com a insegurança gerada pela violência, e que, portanto, querem mudança. No fundo, esses eleitores depositam suas esperanças de ver um Brasil melhor, um país ideal (a partir de suas concepções e visões de mundo) em Bolsonaro, no Mito, como alguns o chamam.

Para alguns críticos, a campanha e mesmo o plano de governo de Jair Bolsonaro é um vazio de ideias nas mais variadas áreas: economia, educação e até mesmo segurança pública, e que se materializa em uma retórica simplista para solução dos problemas. Sua equipe é formada por seus filhos, que também são políticos em cargos de deputado federal (pelo estado de São Paulo), deputado estadual e vereador no Rio de Janeiro, o seu vice-presidente, Mourão, um general do exército, recentemente reformado e também conhecido por frases polêmicas e, o seu principal assessor, o economista Paulo Guedes, o qual, segundo os mídias locais, é o guru de Bolsonaro e o responsável pela construção do projeto de governo.

Do outro lado da disputa, o segundo colocado nas sondagens eleitorais, é Fernando Haddad. Haddad é o candidato que substituiu Lula, que está preso em Curitiba e que perdeu seus direitos de concorrer à eleição pela chamada Lei da Ficha Limpa. Haddad foi Ministro da Educação nos governos Lula (2003-2010) e prefeito da maior cidade do País, São Paulo. Fernando Haddad representa uma geração nova de políticos dentro do PT – diferente de Lula, um operário e dono de grande retórica política – é formado em Direito, com mestrado em Economia e doutoramento em Filosofia, pela USP. É um intelectual que procura trazer para sua candidatura a herança política de Lula na influência dos votos, em especial nos estados das regiões Norte e Nordeste – exatamente as regiões mais pobres do Brasil e que mais se beneficiaram das políticas do PT e dos governos de Lula. Lula, antes de perder seus direitos políticos, era o candidato que liderava as sondagens, com chances de se eleger no primeiro turno. Junto ao legado político de Lula, o das políticas sociais, em especial ao combate à fome e da inclusão de milhões de brasileiros das classes economicamente mais baixas, há certo padrão de vida de classe média brasileira.

Além dos mais pobres e dos movimentos sociais, como o do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, da Central Única dos Trabalhadores – CUT, movimentos esses historicamente aliados do PT, há uma parcela da classe média, intelectuais, artistas e mesmo de empresários que também têm a intenção de votar em Haddad.

Por outro lado, existem as acusações de corrupção e a imagem de que o PT é um partido corrupto. Para muitos, um partido traidor, que nasceu com a proposta histórica de levar o trabalhador ao poder e transformar o Brasil, mas que ao chegar ao poder aprofundou as velhas práticas de corrupção já cometidas pela direita na forma de fazer política e governar. As acusações vão desde que o projeto petista é um projeto de poder pelo poder, do enriquecimento pessoal de seus principais líderes, por meio de escandalosas cobranças de propinas em contratos superfaturados em licitação de obras públicas, os quais envolvem também as principais empresas do país, como é o caso do conglomerado de empresas da Odebrecht e da estatal petrolífera, Petrobrás.

Os eleitores de Lula, agora de Haddad, vêm no PT a esperança do retorno do Brasil ao período dos governos Lula, período de inclusão social, de investimentos e acesso à educação com a expansão de universidades públicas e escolas técnicas e de muitos programas sociais em diversas áreas.

Ao todo, são 13 candidatos disputando o cargo de principal mandatário do País, dentre esses, há os que também possuem chances de passar para o segundo turno das eleições, como é o caso do ex-governador do estado do Ceará e ex-ministro de Lula, Ciro Gomes, candidato de centro-esquerda, pelo Partido Demócrito Trabalhista – PDT. O ex-governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB (partido historicamente rival do PT em eleições presidenciais). Marina Silva, da Rede, também ex-ministra do Governo Lula, mas que nas duas últimas eleições faz oposição ao PT.

Tudo indica que as eleições do Brasil, nessa reta final do primeiro turno, ocorrerão entre Jair Bolsonaro, representando uma possível volta dos militares ao governo, pela via democrática, o que para muitos é uma possível ameaça à democracia e ao estado de direito e, do outro lado, Haddad, representando uma possível volta do PT ao governo, o que também é para muitos uma possibilidade do retorno da corrupção, de um estado grande e deficitário nas contas públicas.

Aguarda-se o desenrolar desses últimos dias, dessa que é uma das eleições mais acaloradas, com debates acirrados e mesmo com atos de violência, tanto na campanha do corpo a corpo, como nas redes sociais. Se confirmadas as sondagens eleitorais, ter-se-á o acirramento dessa nova polarização entre a extrema direita e o petismos/lulismo. Não se confirmando as sondagens, pode haver surpresas, como a de outro nome para o segundo turno, ou mesmo a vitória de um dos candidatos ainda no primeiro turno. O certo é que a resposta virá com a democracia, através das escolhas pelo voto dos 147 milhões de eleitores e eleitoras brasileiras, no próximo dia 07 de outubro.

Jarbas Cardoso é professor, licenciado em Filosofia e mestre em Empreendedorismo Social e Inovação Social, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

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