KALIDÁS BARRETO: um sindicalista socialista com o coração na CGTP

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No 50º Aniversário da CGTP é uma honra referir Kalidás Barreto.Antifascista da Resistência, militou e foi perseguido, enfrentando corajosamente o regime fascista. Destacou-se como sindicalista, tendo sido um dos fundadores da CGTP-IN, em 1970. Veio a ser seu dirigente nacional, representando a tendência socialista, durante vários anos. Foi deputado do Partido Socialista, por Leiria, e fundador da UEDS.

Luís Maria Kalidás Costa Barreto nasceu em Montemor-o-Novo em 16 de Outubro de 1932, filho do licenciado em Direito e poeta Adeodato Barreto, um cidadão progressista nascido na Índia (1) e de Emília do Carmo Costa, de Coimbra.
Frequentou o Curso Complementar de Contabilidade e Comércio, em Coimbra, fixando-se em Castanheira de Pêra, onde veio a exercer diversos cargos em empresas da região ligadas à indústria têxtil, como chefe de contabilidade e consultor. De formação católica e ligado à JOC na juventude, teve sempre ao longo da vida uma grande intervenção como sindicalista.

Foi um dos fundadores da CGTP

Sindicalista têxtil, Kalidás Barreto estava ligado à indústria de lanifícios no centro do país quando, em 1968, é clandestinamente constituída em Lisboa a «Comissão Organizadora Central da Intersindical», estrutura que integrava diversos «sindicatos nacionais» para cujas direcções haviam sido eleitos trabalhadores da confiança dos trabalhadores: comunistas, católicos progressistas, socialistas e outros. Kalidás Barreto tinha sido um desses trabalhadores (2). Iria ser um dos fundadores da CGTP, em 1970, e seu dirigente nacional – sempre fiel a esta Confederação, mesmo quando surgiu outra central sindical, a UGT (3).
Liderou a organização sindical de Têxteis do Centro, foi dirigente da Federação dos Sindicatos Têxteis e da União dos Sindicatos de Leiria; foi conselheiro técnico de missões portuguesas à Organização Internacional do Trabalho (OIT). Fez parte da primeira delegação portuguesa a Bruxelas no âmbito do Conselho Económico e Social; foi membro do 1.º Conselho Permanente de Concertação Social e vice-presidente da Comissão Específica para a Indústria.

Iniciou cedo a sua participação política integrando a Comissão de Apoio à candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República, em 1958. Em 1969 pertenceu à CDE e teve, então, um papel importante na organização da Oposição Democrática em Castanheira de Pera. Vivia vigiado pela PIDE, chegando a ser intimidado por essa polícia política (4).
Após o 25 de Abril de 1974, ainda integrado no MDP/CDE, participou activamente no processo de transição política em Castanheira de Pêra, tendo sido membro da Comissão Administrativa do município, mas pouco tempo depois iria aderir ao PS. Foi deputado do Partido Socialista na Assembleia Constituinte (1975) e o primeiro presidente eleito da Assembleia Municipal de Castanheira de Pera, cargo que exerceu entre 1976 e 1978. Mais tarde, esteve entre os fundadores da UEDS e foi eleito deputado desse partido, por Lisboa, em 1982.
Foi dirigente do Partido Socialista, ao nível nacional, distrital e concelhio. Até 2008, manteve-se na presidência da assembleia-geral do Sindicato dos Têxteis do Centro.

Apoiante de Maria de Lurdes Pintassilgo, Soares e Sampaio

Em 1985 foi membro da Comissão Política da candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo à Presidência da República; e das Comissões de Honra das candidaturas: de Mário Soares (1991) e de Jorge Sampaio (1995 e 2000).
Tem participado em diversas actividades sociais e culturais e tem estado ligado a várias associações e colectividades concelhias. Foi delegado do Conselho da Liga Portuguesa dos Direitos do Homem em 1976, membro da Associação de Arqueologia Industrial, membro do conselho consultivo do Instituto Politécnico de Leiria, membro da Associação Portuguesa de História Económica e Social. Presidiu à Assembleia Geral dos Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pêra em diversos anos, foi dirigente da Filarmónica Castanheirense, coordenador do grupo Dinamizador de Acção Cultural do concelho.
Foi também vice-presidente da Assembleia Geral da Sociedade da Língua Portuguesa (entre 2004 e 2009).
Foi provedor do beneficiário do Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres (INATEL), a partir de 2000.
Em 25 de Abril de 2004 foi feito Grande-Oficial da Ordem da Liberdade, por Jorge Sampaio.
Em 2010, foi homenageado pela CSS-CGTP-IN por ocasião dos 40 anos da CGTP-IN, no âmbito do IX Congresso da Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN.

Um sindicalista que gosta de escrever

Tem escrito vários artigos para jornais nacionais e regionais. Foi redactor de “O Castanheirense”, onde teve durante muitos anos uma crónica intitulada “Conta-Gotas”. Colaborou no jornal “A Comarca”, no “Trevim”, e com artigos de opinião no “Jornal de Notícias”, “Diário de Lisboa”, “Primeiro de Janeiro”, e outros.
Tem-se dedicado ao estudo da história regional, nomeadamente nos distritos de Leiria e Coimbra, com especial incidência no concelho de Castanheira de Pêra, e à história do movimento operário e da indústria têxtil.

Publicou diversos livros, dos quais se destacam:

Revistas de Costumes Locais, 1958; Lenda da Princesa Peralta, 1964; Subsídios para a História do Movimento Operário em Castanheira de Pêra, 1983; A Organização Profissional dos Trabalhadores Têxteis de Leiria e Coimbra, 1987; Dr. Manuel Diniz Henriques, 1987; Monografia do Concelho de Castanheira de Pera, 1989; Dr. Ernesto Marreca David – o Homem e a Obra, 1993; Emprego, Modernização e Desenvolvimento, 1996; Fábrica da Várzea – Projecto de Museu Têxtil em Castanheira de Pera, 1999; Os Trabalhadores Laneiros do Distrito de Leiria, 2009; Os Presos políticos de Castanheira de Pera – 1949 Não Apaguem a Memória, 2009; Os Deputados de Leiria na Assembleia Constituinte, 1975-1976 (pref. Mário Soares), 2010; Manuel Lopes de Almeida : um castanheirense na luta pela República em 5 de outubro de 1910, 2011.

O acervo de Kalidás Barreto foi por ele entregue à Fundação Mário Soares, em 2012, sendo constituído por cerca 2300 documentos e possui uma abrangência cronológica que vai da década de 1960 à de 1990, tendo, todavia, particular destaque o período do pós 25 de Abril.
No conjunto de documentação são dominantes algumas temáticas directamente relacionadas com o percurso profissional e político de Kalidás Barreto e têm presença relevante documentos relativos à CGTP-IN, que abrangem não só aspectos da sua organização interna mas também da actividade sindical em geral. É igualmente de salientar a importância para o estudo do sindicalismo da muita e diversa documentação relativa à organização sindical dos trabalhadores da indústria têxtil e de lanifícios, nomeadamente na zona centro do país, com destaque especial para a actividade do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios e Vestuário do Centro e da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores dos Lanifícios e Vestuário de Portugal.

Notas:

(1) «Em Aljustrel, onde estava como notário, Adeodato (…) tinha aberto para eles [mineiros] uma escola nocturna, onde ensinava a ler e a escrever em lições gratuitas. (…) Por toda a parte onde passou, ele deixou o vinco da sua acção pedagógica (…) Em Coimbra, como se disse, colaborou na fundação da Universidade Livre. Em Montemor fundou uma Liga Pró-instrução, promoveu conferências e instalou um curso gratuito para ensino de analfabetos adultos. Em Aljustrel, além da escola para os mineiros, abriu e dirigiu um curso de Esperanto, por meio do qual pretendeu espalhar os ideais de paz e fraternidade humanas», in Miranda, Lúcio — Adeodato Barreto. 1940.

(2) « (…) A JOC estava muito ligada a esse sector da indústria têxtil. O Concílio Vaticano II teve alguma importância. Quer dizer, a doutrina social da Igreja, a forma de realmente serem tratados e encarados os sindicatos com direito de cidadania. Bom, através daí isso sensibilizou-me. (…) Eu creio que houve uma grande parte dessa gente que acreditou na transformação do mundo através do Concílio Vaticano II, por um lado, e, por outro lado, a força organizada do Partido Comunista. (…) Todo este movimento da Intersindical nasce um pouco dentro de Lisboa e a partir da CDE, das Comissões Democráticas Eleitorais, daquelas comissões sócio-profissionais que existiam e portanto aproveitou-se esse élan para congregar… » – Kalidás Barreto em entrevista (com Fernando Rosas), “ERA UMA VEZ UM MILENIO”, transmitida na Antena 2, no dia 13 de Março de 1998.

(3) Quando surgiu o problema da unicidade sindical e da criação da UGT, durante o PREC, Kalidás Barreto ficou fiel à Intersindical, assim como Manuel Lopes e muitos outros militantes católicos.

(4) «Depois foi a posição de luta desde a invasão da minha casa, às buscas, iam aos colchões dos miúdos, levantarem os miúdos, aquelas cenas tristes por que passámos. Nunca cheguei a ser preso, mas intimidaram-me no sentido de intimidar o resto da classe. Só que não resultou (…) Comigo sucedeu um bocado a discrição porque me perseguiram, me despediram e acabei por ficar desempregado. » – KB na já citada entrevista.

Biografia da autoria de Helena Pato

Título e subtítulos da redação

http://casacomum.org/cc/arquivos?set=e_7481
http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=Tc1324
https://pt.wikipedia.org/wiki/Kalid%C3%A1s_Barreto
http://www.uc.pt/auc/actividades/ficheiros/Adeodato.pdf

 

 

 

 

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