Há greves e greves!

com Sem comentários

Américo Monteiro*

Da minha janela, onde vejo a minha migalha de mundo, comentários em tempo de Férias.

Nunca uma greve se tornou tão mediática em Portugal como esta dos Motoristas de Matérias Perigosas.

Em tempos, a chamada «Greve Cirúrgica» dos enfermeiros, aproximou-se em mediatismo, mas longe desta que se prevê e anuncia, iniciar a 12 de Agosto de 2019.

A efetivação de uma greve, na luta por direitos e conquistas para os trabalhadores é o exercício legitimo de um direito dos trabalhadores. Através do poder que dispõem, o poder de organização, a solidariedade e a cativação dos implicados, para atingir objetivos concretos com o seu poder reivindicativo.

Há greves e greves e os trabalhadores têm sabido unir-se naquilo que é essencial . Pode dizer-se que na história de Portugal muitas e boas conquistas têm sido possíveis de forma solidária, pelo empenhamento dos trabalhadores, através dos seus sindicatos.

Em Portugal há uma certa tendência para criticar as greves, fruto de uma cultura muito própria e marcante na sociedade, que penaliza as reivindicações e o exercício legitimo dos direitos dos cidadãos.

O que tem esta greve exageradamente mediática de mais criticável?

Aparece um sujeito, como salvador da pátria e oferece os seus “serviços” para criar sindicatos de áreas estratégicas, prometendo conquistas a médio e longo prazo para esses trabalhadores. Fica-nos a certeza de que, algum sector com menos capacidade reivindicativa ou de menor influência na sociedade, se lhe solicitasse apoio, seria rejeitado.

É um facto que os motoristas são mal pagos….

É um facto que os motoristas em Portugal são mal pagos, porque no nosso País, todos os trabalhadores são mal pagos. É verdade que no tempo do anterior governo experimentou-se um forte retrocesso nos direitos dos trabalhadores, durante esta última legislatura conseguiu-se reverter alguns desses direitos não se tendo conseguido corrigir as alterações mais regressivas da legislação laboral, que permitiriam melhores e mais justas condições de negociação coletiva e de melhorias da massa salarial.

Estranha-se que na preparação destas lutas não tenha havido contactos exploratórios, na perspetiva de se conseguir uma luta mais abrangente e integrada, participada por outras forças sindicais e o estabelecimento de objetivos justos e solidários para os motoristas e para os restantes trabalhadores que compõem o sector, se mais não fosse. Ou para os motoristas os restantes trabalhadores da empresa não contam? Tornaram-se assim tão egoístas?

Como querem estes trabalhadores a aceitação da sociedade para este tipo de lutas se se impõem a todos? Será isto normal em democracia? Claro que os governos, este ou outro, aproveitam para impor regras mais apertadas para o exercício do direito da greve. Normalmente acabarão muitos por ser prejudicados no seu futuro e nas suas lutas, em justas reivindicações, mas, parece que para uns quantos, isso pouco importa.

Ao longo dos tempos sempre aconteceu que certas profissões se tornaram mais importantes e fundamentais para sociedade e outras perdem interesse e até desaparecem. Hoje isso acontece a grande ritmo e portanto, os motoristas e em especial os de matérias perigosas podem estar em crescendo.

Nesta  luta deveriam ser tidos em conta outros aspetos importantes

É preocupante que nesta dinâmica de luta não estejam outros aspetos a ser tidos em conta. Recordo uma reflexão em que participei, faz algum tempo, em que se discutia a questão de a curto prazo, em toda a União Europeia, todos os transportes pesados, movidos a combustíveis fósseis, serem substituídos por novas energias alternativas limpas.

É evidente também que ao nível europeu, ou dos países mais “desenvolvidos”, os chamados transportes terrestres, terão que ser transferidos para outras formas de transporte muito menos poluidoras. Assuntos que vão provocar desafios concretos aos trabalhadores e ás empresas.

Longe de mim colocar-me contra a luta dos trabalhadores, de todos os trabalhadores, mas acho que tenho o direito de criticar processos e métodos e já agora certo tipo de lideranças. Até porque nestas coisas muitas vezes pagam os justos pelos pecadores.

 

* Coordenador Nacional da LOC/MTC e dirigente sindical.

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