«Greve cirúrgica»-da guerra convencional à luta de guerrilha!

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José Ricardo*

Simpatizo com esta invenção de greve de guerrilha. Tem a capacidade de desgastar o “inimigo” sem expor todo o exército, que tem tendência a não aguentar grandes e prolongadas batalhas.

Simpatizo com o financiamento externo e solidário aos grevistas, desde que não seja permitida a velha fórmula de “o inimigo do meu inimigo, meu amigo é” colocando neste fundo, contribuições de quem olha o SNS como concorrente ou inimigo.

No essencial, seria como aliar-se no combate à corrupção e derrubar o PT brasileiro e depois pretender que os generais no governo promovam a democracia participativa.

O ponto é este. Esta greve prolongada iria derrubar o Governo e enfraquecer o SNS, por muita razão que assista aos enfermeiros. Ora, o sindicalismo é para reivindicar e negociar e não para ganhar na luta política. (Há que reconhecer que este caso se torna difícil porque o patrão é simultaneamente o poder político).

O facto invocado, de persistir há décadas uma grande desigualdade remuneratória dos enfermeiros em relação a outras profissões, não é argumento suficiente para exigirem, de uma assentada, o cumprimento de uma agenda compensatória, quando nesta legislatura já obtiveram melhorias. E o argumento de que muitas das reposições são direitos que lhes tinham sido retirados, não pode olvidar que também foram retirados direitos aos reformados que nunca mais serão repostos.

Se as organizações sindicais dos enfermeiros fossem apenas sindicalistas, obtinham agora algumas compensações e ano após ano poderiam aumentar as exigências com esta luta de guerrilha tão bem inventada. O poder que adquiriram obteve grande impacto e pensaram ser possível colocar o governo de joelhos. O problema é que, aparentemente, a sua liderança pretendeu usar o sindicalismo de guerrilha para uma luta mais político-partidária e com exigências que sabiam não poder obter. Isso enfraqueceu o movimento e obrigou o Estado a posicionar-se de outra forma.

Foram demasiado arrogantes com a força considerável que demonstraram, com o aplauso dos hospitais privados que aumentaram os clientes à custa do SNS, e colocaram muita gente contra si.

O aumento da especialização da classe dos enfermeiros com a crescente capacidade para assumir mais responsabilidades de gestão trás maior vantagem para diminuir as desigualdades profissionais no SNS do que esta greve conseguiu.

A greve de guerrilha foi uma boa invenção de luta sindical mas usada de forma pouco apropriada. Teve o mérito de unir os enfermeiros, no momento, mas pode ter feito perder aliados para negociações futuras, sobretudo se esta forma de greve de guerrilha for considerada ilegal.

*Dirigente da BASE-FUT, animador social e sindicalista

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