Fundação João XXIII -30 anos de Solidariedade com Guiné Bissau

 

Ofélia Batalha*

Faz este ano 30 anos que um grupo de amigos, militantes da Acção Católica Rural (ACR) do distrito de Lisboa, se deslocaram pela primeira vez á Guiné-Bissau em férias solidárias.

Estiveram durante 15 dias a restaurar as casas e o poço comunitário, dum bairro social, das Conferências São Vicente de Paulo de Bissau.

Nestes últimos 30 anos muitos foram os grupos de voluntários que se deslocaram á Guiné Bissau em missões de solidariedade.

Foram inúmeros, também, os contentores enviados, com os mais diversos materiais, para serem doados á população ou aplicados nos diversos projectos apoiados pela Fundação João XXIII – Casa do Oeste.

Fomos aprendendo ao longo destes anos que para os projectos vingarem e terem continuidade, têm de nascer das necessidades sentidas pela população, só assim é que se empenham e se esforçam e ultrapassam as muitas dificuldades burocráticas e outras.

Apoios pra a educação,agricultura e saúde

Neste momento estamos empenhados essencialmente em três áreas, educação, agricultura e saúde.

Quanto á educação, temos apoiado desde 1992, o actual diretor da Cooperativa Escolar São José de Mindará, das mais variadas maneiras,  com dinheiro, com materiais  de construção e didáticos, bem como apoio na formação de professores e com viaturas para serviço de escola e nas obras da mesma.

Esta escola começou debaixo de árvores com cerca de 300 alunos e atualmente tem três polos escolares com cerca de 3.500 alunos, em todos os graus de ensino desde a pré- primária até ao 12º ano. É considerada uma das melhores da Guiné-Bissau.

Neste momento a sua direção, na pessoa do seu diretor, professor Raul Daniel da Silva, está empenhado em criar uma rádio online, para proporcionar aos seus alunos, aulas á distância, já que a pandemia também os tem afetado muitíssimo.

Solicitou, também, á Fundação a doação de manuais escolares para todos os níveis de ensino, bem como livros de consulta e de biblioteca. Isto porque as escolas públicas da Guiné-Bissau não têm livros nas suas bibliotecas, nem para os professores lecionarem, nem para os alunos estudarem.

Os livros que temos em casa a ganhar pó podem ser úteis

 Está neste momento a decorrer uma campanha de angariação de livros e muitos já estão encaixotados e prontos para seguirem viagem, sendo que muitos outros seguirão o mesmo destino. Todos os livros que temos em casa a apanhar pó, fazem falta na Guiné Bissau.

Atualmente o Professor Raul tem outro sonho.

Sonha que a próxima quinzena de formação de professores, que habitualmente decorre entre o final de Agosto e o inicio de Setembro, seja feita online com a colaboração de professores portugueses.

Por enquanto é um sonho, mas realizável, tenho a certeza.

Quanto á agricultura, a Fundação tem actualmente e desde alguns anos, uma granja agrícola na região de Quinhamel, COAGRI, cooperativa agrícola.

Temos várias construções, uma para alojamento dos trabalhadores (sócios da cooperativa), outra para alojamentos dos grupos de voluntários e temos ainda um aviário, onde se cria galinhas poedeiras e de carne.

Uma boa parte do terreno está dividido em pequenas parcelas, onde as mulheres de tabanca (aldeia) próxima, fazem a sua horta o ano inteiro, já que têm água á disposição, do furo por nós feito.

Existe ainda um espaço, onde as mães deixam os filhos pequenos, para não trabalharem com eles às costas. Há uma senhora que toma conta deles e têm brinquedos para se divertirem e aprenderem.

A granja está em expansão, com um grande terreno adjacente, que está a ser desmatado e vedado. O nosso sonho é sermos um motor no desenvolvimento agrícola da região.

Quanto á saúde, ao longo de todos estes anos, temos enviado muito material hospitalar e ortopédico, que distribuímos por vários hospitais e centros de saúde.

Reabilitamos e, durante vários anos, apoiamos a manutenção, inclusive com medicamentos, de uma maternidade na região do Biombo, a maternidade Bom Samaritano.

Apoio a crianças com cardiopatias

 Recentemente, há perto de 5 anos, fomos desafiados a fazer mais. Fomos desafiados a acolher em Portugal, crianças com cardiopatias, que precisam de ser operadas e às quais o seu país não tem condições de tratar e salvar a vida.

Atualmente existe um protocolo entre várias entidades, Ministério da Saúde da Guiné-Bissau, Fundação João XXIII, Fundação Renato Grande (centro pediátrico de Bissau) e a ONG AIDA (trata das evacuações), e reconhecido pela Direção Geral da Saúde de Portugal, para que o processo de evacuação das crianças seja o mais célere possível.

Depois de feita a avaliação e a triagem na Guiné-Bissau e de todos os (muitos) procedimentos burocráticos, as crianças dos zero aos 18 anos são enviadas para o nosso país para serem operadas no Hospital Pediátrico de Coimbra.

Para que isto seja possível, até porque a maioria têm de passar três ou mais meses em Portugal, é necessário uma família que as acolha e cuide de cada uma delas, como se de um filho se tratasse.

Cerca de 50 famílias, que denominamos de “famílias do coração”, já fizeram a experiência e muitas já repetiram 3 ou 4 vezes. Temos até algumas que acolheram 2 crianças ao mesmo tempo.

Apoio  a crianças com doenças oncológicas

Não é fácil acolhermos na nossa casa uma criança com cultura e hábitos tão diferentes dos nossos, mas muito mais difícil ainda é deixá-la ir para o seu país, para a sua família, depois de curada, já que o apego e os laços que foram criados são muito fortes. Assim muitas famílias optam por acolher outra criança, sabem que estão a dar oportunidade a mais uma de ficar curada e ter uma vida mais longa e com saúde. Há sempre mais amor para dar.

Ao longo destes anos, cerca de 110 crianças com cardiopatias já passaram por Portugal e mais de 100 já regressaram curadas ao seu país de origem.

A percentagem de sucesso é quase de 100%.

Estamos a dar a estas crianças uma maior longevidade e a hipótese de uma vida com saúde e com qualidade.

Também já foram acolhidas 10 crianças com outros problemas, nomeadamente do foro  oncológico.

Como a estadia em Portugal é muito mais prolongada, normalmente vêm acompanhadas por um familiar, o que torna o processo de acolhimento muito mais difícil, pelo que é necessário encontrar alternativas, já que as famílias não têm disponibilidade para acolher adultos.

Assim, recorremos a instituições ou são alojadas em casa de algum familiar que viva em Portugal .

Por último, refiro que as famílias do coração são essencialmente das regiões de Coimbra, de Leiria-Fátima, da Lourinhã e de Mafra.

Todos os projetos que temos na Guiné são importantes e melhoram a vida do seu povo, mas este último enche o nosso coração de satisfação, já que ESTAMOS A SALVAR VIDAS e a contribuir para dar um futuro com qualidade a essas crianças.

 

*Ofélia Batalha-Fundação João XXIII-CASA DO OESTE

 

Para apoiar os projectos com a Guiné-Bissau pode depositar na conta da Fundação.

NIB:0033.0000.45308228096.05

IBAN: PT50.0033.0000.45308228096.05

SWIFT/BIC:   BCOMPTPL

Nota:Os donativos terão recibo e serão considerados no IRS

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