Como gerar solidariedade nas comunidades?

“AGORA VALE A VIDA. AGORA VALE A VERDADE.

E DE MÃOS DADAS, TRABALHAREMOS TODOS PELA VIDA VERDADEIRA”

…As palavras de Thiago de Mello vieram à memória, na hora e meia de videoconferência de um grupo de AMIGOS, num diálogo vivo e empenhado sobre a experiência – vivência de mais de 10 anos que se vem desenrolando em Setúbal, partindo da interrogação:

COMO GERAR SOLIDARIEDADE NAS COMUNIDADES?

O Constantino Alves (em tempos, padre operário, sindicalista, assistente nacinonal da JOC, agora responsável da igreja e inovador social) partilhou os projectos de actividade social solidária com as pessoas da cidade, incluindo o Bairro da Bela Vista, na periferia, muito marcado pela multiculturalidade, exclusão social e pobreza.

No território há 20 anos, depois de liderar o Sindicato dos Metalúrgicos, o Constantino contou que a comunidade cristã tem sido o laboratório e a base da solidariedade organizada, sem protagonizar os projectos. O apoio preferencial às famílias mais pobres nasceu como resposta às suas necessidades, na comunidade, motor de proximidade e solidariedade, criando-se protocolos e parcerias com instituições sociais, juntas de freguesia, ILEs… destacando-se: a procura de actividades laborais para desempregados; apoio a migrantes; alimentação a famílias necessitadas; entrega de roupas; – a Clínica Social Médica Dentária; – a Área Cultural – informática, inglês, alfabetização, grupo coral, grupo de cantares, pintura, poesia, teatro, aprendizagem de inglês e de informática.

A área social surgiu na crise de 2011 para fazer face à carência alimentar das famílias, com donativos das pesoas e uma parceria com a Segurança Social que participa com 50%.

O Restaurante Social nasceu (2011) com uma atitude – que não fosse um estigma para as pessoas – tendo fornecido até agora cerca de 300 000 refeições. Todos os dias são servidas cerca de 83 a 90 refeições/dia, incluindo fins-de-semana, até há pouco cerca de 70 refeições/dia, número que aumentou no contexto COVID-19 por necessidade de migrantes brasileiros que ficaram sem trabalho. As refeições são confeccionadas por empresa de catering dada a logística exigida para a confecção das mesmas, complementando-se com frutas e saladas provenientes de solidariedade local. O comércio local reagiu bem atendendo a que as mesmas não são ali confeccionadas.

A Clinica Médica Social Dentária, aproveitando a experiência anterior, começou em 2015 com um núcleo de 3 pessoas, e funciona agora com 34 voluntários, entre eles 12 médicos (de Almada, do Alentejo…) Quando algum voluntário deixa o projecto por cansaço, mudança de residência… logo outros aderem. Ao todo fizeram-se cerca de 6 200 consultas e foram atendidos ceca de 1 600 pessoas (que pagam 5 a 10 euros por consulta).

A rouparia trata/entrega roupa nas devidas condições a pessoas pobres, dando-se outros apoios em articulação com bombeiros voluntários, Juntas de Freguesia, associações.

Para fazer frente à pandemia, uma equipa de voluntários fez viseiras, com máscara, entreguando 400 a quem não as podia comprar.

. As actividades culturais (com 19 actividades apoiadas por 160 voluntários),atendendo à actual pandemia, estão temporariamente paradas.

.No Gabinete de Inserção Profissional há um trabalho de atendimento/acompanhamento com propostas de emprego para os desempregados locais, em articulação com o Centro de Emprego Local do IEFP, que paga o salário da empregada que presta o serviço social.

. Acerca dos efeitos do COVID19, na população em geral e nas crianças que tiveram que ficar em casa, o Constantino disse não saber muito, pois esteve ausente 3 semanas. Contudo, não houve ainda grande agravamento nas famílias, o que talvez se venha a notar daqui a meses. Em 2011 foi mais rápida a procura de apoio social face às carências.

Registamos ainda: não há respostas iguais, elas nascem da análise rigorosa às realidades locais, e da consciencialização das comunidades cristã e outras, dos amigos que sustentam os projectos, sem apoio da Câmara Municipal e do Estado, sem nunca pedir dinheiro e sem ter dívidas… porque há gente que acredita e participa numa solidariedade organizada patente no dia a dia, assente nos voluntários, responsáveis e animadores de  intervenção social, sabendo que não é o ideal, articulando um projecto político de inovação a partir das pessoas.

Um amigo desabafou: com líderes assim vai-se até ao fim do mundo, quase. Ele está atrás, na frente, ao lado, dia a dia…e as pessoas, voluntários e não voluntários, reconhecidas, dão-se ao serviço, com empenhamento e responsabilidade continuada.

Dúzia e meia de amigos testemunham o mesmo, querendo ir por caminhos parecidos.

  • Sobre a guerra em Cabo Delgado, Moçambique interveio o padre José Luzia, admirado de o governo ter permitido que jihadistas se instalassem no território. Ressalvou que a informação apresentada por Nuno Rogeiro é actualizada e fidedigna. Acerca da pandemia, sabe-se que há muita gente infectada, felizmente sem mortes.

Participaram: António Ludovino; Anne Marie; Ana Vitória; Avelino Pinto e Isabel Clemente; Carlos Branco; Fátima Gargaté; João e Ana Bragança; José M. Vieira; Júlio Ricardo; Olegário e Conceição; Luís Serras; Rosália; Pinto Amaro; José Luzia; José Alberto (Porto Rico) e Padre Constantino Alves.

*Texto redigido por João e Ana Bragança e Avelino  Pinto (20. maio. 2020)

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