A BASE-FUT, o Centro de Formação e Tempos Livres (CFTL) e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES) organizaram de 9 a 12 de outubro a segunda sessão do Curso para Jovens Líderes de Organizações de Trabalhadores. Trata-se de um projeto internacional organizado com a Confederação Francesa dos Trabalhadores Cristãos (CFTC, França), a Fundação Nowy Staw (EDS-FNS, Polónia) e a Universidade Akademia Ignatianum (Polónia) e que conta com o apoio do Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores (EZA). Após o relato dos primeiros dias da formação, damos aqui conta do fim do curso.
O dia 11 de outubro permitiu aos participantes fortalecer competências nas áreas da comunicação e da análise de conteúdos com vista a desenvolver o exercício de campanha coletiva. Bia Carneiro, investigadora do Centro de Estudos Sociais e membro do Grupo de Estudos Relações de Trabalho e Sociedade (RETS/CES) iniciou o dia com uma reflexão sobre como “Comunicar numa organização de trabalhadores”. A imagem muitas vezes negativa dos sindicatos na comunicação social obriga a criar novos canais de comunicação. A partir do caso português, evidenciou elementos para construir uma boa comunicação externa e interna neste tipo de organização. Este primeiro tempo da manhã deu lugar a novos trabalhos em grupos com vista a definir melhor a estratégia de comunicação para o exercício da campanha coletiva.
Tiago Oliveira, economista e investigador em pós-doutoramento no Centro de Estudos Sociais dinamizou a segunda oficina do dia sobre “Analisar e interpretar dados económicos”. Salientou a importância de desconstruir os discursos sobre a economia num período em que a corrente neoliberal apresenta-se como hegemónica. Enquanto ciência social, a Economia é feita de escolhas políticas e importa desconstruir noções centrais como o do crescimento, do mercado de trabalho ou ainda da dívida para capacitar militantes em organizações de trabalhadores.
A tarde foi dedicada à visita de estudo na Empresa Janz especializada no fabrico de contadores de água e de soluções de telemetria e situada no Parque das Nações em Lisboa. Fundada em 1915, a fábrica conta hoje mais de 250 trabalhadores e alcançou uma capacidade de produção superior a 400 000 contadores por ano. Além das suas capacidades produtivas, a Empresa Janz caracteriza-se por um projeto social de conciliação da vida profissional e familiar dos trabalhadores. Ao lado da fábrica existe assim a Associação Ester Janz, Instituição Particular de Solidariedade Social fundada em 1982 para permitir a educação e formação dos filhos dos trabalhadores e das crianças da comunidade envolvente, desde a Creche até ao 1.º Ciclo do Ensino Básico, procurando contribuir para o seu desenvolvimento integral.
O dia 12 outubro foi dedicado à pensar o futuro, tanto do trabalho como das próprias organizações de trabalhadores. Dora Fonseca, investigadora do Centro de Estudos Sociais dinamizou a parte da manhã com duas sessões sobre os “Desafios atuais do trabalho” e “O futuro das organizações de trabalhadores”. No primeiro momento destacou a centralidade do trabalho e evidenciou as principais transformações que ocorreram com o desenvolvimento da economia digital. A generalização de plataforma para a contratualização de serviços – a uberização da economia – originou uma degradação das condições de trabalho e coloca desafios para a proteção dos trabalhadores.
Face a estas novas tendências, as organizações de trabalhadores têm de redefinir as suas modalidades de ação. Dora Fonseca deu exemplos recentes de sindicatos e de movimentos sociais que organizaram trabalhadores em moldes inovadores, como os casos dos trabalhadores da Deliveroo ou o movimento dos Precários Inflexíveis. Importa reconstruir o poder sindical e abrir diálogo com outros movimentos da sociedade civil.
Na parte da tarde os participantes finalizaram e apresentaram os resultados dos trabalhos de grupos com vista a desenvolver uma campanha junto de jovens trabalhadores. As duas equipas de campanha escolheram trabalhar em temas que percebiam como urgentes nos contextos português, polaco e francês. O primeiro grupo apresentou uma campanha sobre a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar a partir da reivindicação do direito a desconexão. A segunda equipa desenvolveu um trabalho sobre as novas tendências na organização do trabalho, focando-se em particular nos estágios não remunerados que afeta os jovens trabalhadores. Os dois grupos apresentaram a estratégia e os conteúdos das campanhas num exercício extremamente rico de debate, organização e criatividade.
O curso encerrou com a avaliação final dos participantes e dos organizadores. O balanço da formação foi positivo e os participantes destacaram a importância dos momentos de debate em grupo e apreciaram particularmente a visita de estudo que concretizou alguns dos temas abordados durante a formação em sala. Os organizadores sublinharam a riqueza dos debates que ocorreram ao longo dos quatro dias e a intensa participação dos formandos. O grupo seguiu para um último momento de convívio com o jantar de encerramento num restaurante típico de Setúbal.