Aqui ao nosso lado, tão pobres e tão sós!

Avelino Pinto*

Face à situação de pandemia, começámos a relaxar, saimos à rua com cuidado para não correr riscos, sem dar conta da viragem para outra normalidade e do desafio que temos pela frente: como vencer este nível de incerteza tão grande que ninguém fica de fora? 

Neste compasso de espera, parados numa bifurcação:

 – ou vamos pela mesma via – a do mercado-deus menor que condena as pessoas ao consumo, ao luxo, ao desperdício, ao ir na forma, ao individualismo;

 – ou por outra via, inventando soluções para que os pobres e sem-abrigo encontrem tecto, os desempregados consigam trabalho, e os deserdados e expoliados tenham terra para cultivar. Indo por aqui, exige-se que nos desapropriemos do supérfluo e do que nos faz falta, que caminhemos lado a lado com os grupos mais vulneráveis discrimimados pela sociedade capitalista, constantemente, e que agora se tornaram bem mais visíveis:

as mulheres consideradas “cuidadoras do mundo”, enfermeiras, assitentes sociais, que nesta dificil quarentena não se podem defender, para garantir a quarentena dos outros;

os trabalhadores precários, informais, ditos autónomos, atacados constantemente nos direitos, que têm de escolher – ganhar o dia a dia e contaminar-se, ou ter fome em casa;

os trabalhadores da rua, os vendedores ambulantes, milhões  de pessoas sem dinheiro para comprar o pão de cada dia ou accorer às unidades de saúde;

os sem-abrigo ou os sem casa dos viadutos, das estações de metro, dos túneis de esgotos,  que passam todos os dias da sua vida em quarentena;

os moradores das periferias pobres  das cidades, favelas, bairros de lata fortemente policiados, sem água para beber ou lavar as mãos;

os dos campos de internamento para refugiados, imigrantes indocumentados a viver em contentores, com doenças para as quais não ha remédios: a malária, a diarreia;

os deficientes , os idosos a viver em casas de repouso e asilos, por vezes depósitos de lixo humano, os sós, os deficientes, os presos, as pessoas com depressão mental…**

Existe uma alternativa honesta,viável, à nossa fente: mudar a forma de viver, de produzir, de consumir, de conviver, para nos deixarmos conduzir e impelir a tomar iniciativas e a dinâmicas políticas concretas de transformação radical do nosso agir em sociedade.

**Ver “A Cruel Pedagogia do Vírus”, de Boaventura Sousa Santos (Almedina, p. 15 a 21).

  *Mestre em Psicologia, Formador , Animador Social e membro da BASE-FUT

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