Pedro Estevão*
O ano de 2021 foi marcado pelo fim da solução governo minoritário do Partido Socialista, sustentado numa maioria parlamentar com o Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda. A mera existência desta solução constituiu um momento histórico para a nossa democracia. Que ela tenha oferecido estabilidade governativa durante 6 anos – tornando-a experiência de coligação mais longa da história da democracia portuguesa – é também o testemunho de quão anacrónica e anti-democrática era a noção de “arco da governação” herdada de novembro de 1975.
Todavia, não é possível, após estes 6 anos, evitar a deceção perante tibieza dos resultados alcançados. Construída numa base de rejeição – indiscutivelmente urgente – de algumas das mais ofensivas medidas simbólicas e materiais tomadas durante período da troika, a “geringonça” nunca conseguiu dar o salto para algo de mais construtivo.
É verdade que passámos a ser poupados às preleções insultuosas sobre as virtudes da austeridade e do “homem novo” empreendedor que saía da sua “zona de conforto”. Mas se a austeridade virtuosa morreu em 2015, o que vivemos desde então foi quase sempre uma austeridade pela calada. É que, infelizmente, pouco mudou nos últimos 6 anos nas tendências de quebra do investimento público, de degradação da qualidade dos serviços públicos e de desequilíbrio gritante de forças nas relações laborais entre patrões e trabalhadores.
Mais do que nunca, é preciso uma agenda mobilizadora de transformação da sociedade portuguesa e de emancipação dos trabalhadores. É para a construção desta agenda que a BASE-FUT quer contribuir. A partir do ano de 2022, lançaremos um conjunto de debates sobre o trajeto, a situação atual e os desafios que se colocam aos pilares da nossa democracia e ao nosso futuro enquanto país: Serviço Nacional de Saúde, escola pública, Segurança Social, negociação coletiva, cooperativismo, democracia no trabalho e política industrial são alguns dos temas que pretendemos trabalhar. Será o início de um trabalho de balanço crítico que nos levará até à comemoração dos 50 anos do 25 de abril, voltado para as aspirações e para a experiência dos trabalhadores. Porque ontem como hoje, só os trabalhadores libertarão os trabalhadores.
A todos os nossos e nossas militantes, simpatizantes e leitores, desejamos um feliz ano de 2022.
- Coordenador Nacional da BASE-FUT, sindicalista, investigador social