A segunda cabeça da extrema-direita francesa

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Pierre Marie*

Embora a primeira volta das eleições presidenciais francesas ocorra apenas em abril de 2022, o assunto já ocupa todo o espaço político. E muito se deve ao aparecimento de Éric Zemmour, ainda não oficialmente candidato, mas já em campanha. Jornalista e comentador político, Zemmour ganhou projeção mediática e a sua provável candidatura presidencial está a abalar o sistema político francês e ameaça Marine Le Pen na área da extrema-direita. Para Zemmour, a França está submersa pelas populações estrangeiras, principalmente pelos muçulmanos, cuja religião não seria compatível com a República. Apresenta as eleições de 2022 como a última oportunidade de salvar o país e reverter este “suicídio francês”, título do seu livro publicado em 2014. As propostas do futuro candidato são simples: preferência nacional nos apoios sociais; regresso de estrangeiros que se encontram em França aos seus países de origem; “assimilação cultural” dos que fiquem em França (com a ridícula proposta de proibir primeiros nomes não franceses nos bilhetes de identidade); e refundação da Escola, acusada de fazer a promoção do multiculturalismo e da globalização.

Apesar de não se ter declarado candidato, Zemmour está a deslocar-se no país para promover o seu último livro La France n’a pas dit son dernier mot, já um sucesso nas livrarias, em verdadeiras ações de campanha. Estruturou uma equipa e está a reunir apoios financeiros. As sondagens das últimas semanas revelaram o fenómeno Zemmour que chegou a alcançar 18% das intenções de voto. Se estabilizou agora entre 12 e 15%, esta candidatura beneficia de uma forte projeção mediática e Zemmour já conseguiu impor a imigração e a segurança como temas-chaves. Nestas sondagens, Marine Le Pen congrega 20% dos votos, a extrema-direita somando perto de 35% das intenções de voto. Muitas figuras desta área política apelam para uma candidatura única, em torno do candidato melhor colocado no início de 2022. Marine Le Pen tem a vantagem da experiência política e de chefiar um partido dotado de quadros e inserido a nível nacional e internacional, mas Éric Zemmour tem um discurso mais radical, a que acrescenta a sua presença nos meios de comunicação social.

Ainda é cedo para saber do futuro destas duas candidaturas. Mas já conseguiram impor a sua agenda reaccionária na campanha. O Presidente Emmanuel Macron, que também ainda não anunciou a sua recandidatura, obtém perto de 25% dos intenções de voto e Xavier Bertrand (provável vencedor das primárias da direita do partido Les Républicains) 13%. Nenhum dos sete candidatos mais à esquerda consegue ultrapassar os 10% de intenções de voto. O perigo de uma vitória da extrema-direita é real em França e uma segunda volta entre o ultraliberal Emmanuel Macron e uma das duas caras da extrema-direita é quase dada por certa. Perante este cenário, urge à esquerda enfrentar Zemmour, Le Pen e Macron com um projeto mobilizador assente na justiça social e na liberdade de todos.

*Coordenador da BASE-FUT na Região Centro

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