A primeira greve geral em democracia foi a 12 de fevereiro de 1982

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No 50º Aniversário da CGTP lembramos uma das mais importantes iniciativas desta Central: a primeira greve geral em democracia. Foi a 12 de fevereiro de 1982.A direita estava no governo na fórmula da Aliança Democrática (AD) «A contestação dos trabalhadores à proposta de horário de trabalho herdada por Balsemão do governo de Sá Carneiro obrigara-o a abandoná-la.Mas, depois de remodelado, o IIIº governo seguido da AD regressava agora com novo pacote laboral.

Quem primeiro falou em greve contra o pacote laboral foi a UGT ao propor a todas as organizações sindicais do País um dia de greve geral no preciso momento em que que a Assembleia da República iniciar a discussão do pacote laboral.

Mas foi o Secretariado da CGTP-IN, depois de ironizar com o facto de que a UGT tinha remetido para o governo a marcação da greve geral que levou a Plenário de Sindicatos de 15 de janeiro uma proposta de meio dia de paralisação geral, a 12 de fevereiro de 1982.Os sindicatos, após discussão, alteraram a proposta para vinte e quatro horas de greve geral,mantendo a data.

Os objectivos centrais aprovados por unanimidade e aclamação foram:

1.Contra a política da AD

2.AD fora do Governo

3.Pela resolução da crise, com os trabalhadores e no respeito pelo 25 de Abril

….

Os mais de 400 mil desempregados, 8%, segundo os números oficiais,levaram os dirigentes sindicais a aporovar também a realização de uma Marcha contra o Desemprego, a decorrer entre os dias 28 de março e 3 de abril de 1982.

Cerca de 1 milhão e 350 mil trabalhadores fizeram greve das 00h00 às 24h00 do dia 12 de fevereiro de 1982.Foi a primeira greve geral realizada em Portugal depois de 18 de janeiro de 1934 contra a fascização dos sindicatos….

Mais importante: a grve geral remeteria o pacote laboral para a gaveta, de onde só voltaria a sair daí a seis anos, pela mão de Cavaco Silva e isolara socialmente o governo AD…

A greve geral teve o apoio expresso do PCP,MDP/CDE,UDP,UEDS, PSR,BASE-FUT e das mais variadas organizações sociais, entidades e personalidades democráticas.Estiveram contra a greve geral a CIP,a CAP,a CCP,a UGT e o governo.

Ações para  denegrir e anular a greve geral

Na véspera da greve geral tiveram lugar diversas ações promovidas pelo governo, pela UGT e grupos de direita para denegrirem a greve geral junto da população.Assim elementos da UGT e da CGTP entraram em confronto na Marinha Grande.Trabalhadores vidreiros acusaram os elementos da UGT presentes numa cerimónia comemorativa do 18 de janeiro de« traidores e vendidos».

Por outro lado a Aliança Democrática convoca um comício em Lisboa para a véspera da greve geral com a presença de Balsemão e Freitas.No mesmo dia à noite explode uma bomba junto á casa de Torres Couto inicialmente reivindicada pelas Forças Populares 25 de Abril.Mais tarde as mesmas Forças desmentem que tenham feito aquela ação.

O governo dramatiza a situação e a CGTP recebe cartas anónimas do tipo«Não queremos por nossa vontade verter sangue mas entendemos que tudo o que é abuso, em prejuizo de milhares de portugueses tem de ser travado.Por tal motivo avisamos o Secretariado Geral da Inter que toda e qualquer greve por ele determinada será severamente punida com a sumária eleiminação física dos membros do respectivo secretariado que serão abatidos à distância por carabina com mira telescópia e silenciador».

O governo procurou por todos os meios demonstrar que a greve geral tinha intenções subversivas tendo como objectivo alterar a ordem democrática.Para tal utilizou o facto de alguns grevistas terem colocado tábuas com pregos para impedirem alguns camiões de furarem a greve.

«Por volta da meia noite o governo tinha decidido instalar barreiras da GNR e da PSP em vários pontos do país, nomeadamente em todas as vias de acesso a Lisboa.Foi enorme o afrontamento entre as forças do capital e as forças do trabalho.Arruaceiros investiram com violencia sobre os grevistas e piquetes de greve.Durante o dia de greve ocorreram desfiles e concentrações de grevistas e de apoiantes da greve em inúmeras localidades.Em diversos desses locais houve cargas violentas da PSP e da GNR.No Porto e em Guimarães houve vários feridos.Na concentração do Rossio, em Lisboa, a polícia prendeu manifestantes e carregou sobre eles, provocando feridos, incluisve jornalistas nacionais e estrangeiros que faziam a cobertura da luta….

O Diário de Notícias e outra imprensa afecta ao poder salientava que a greve não tinha sido geral.Todavia, o êxito sindical da iniciativa «criou uma dinâmica de unidade e de espírito de luta no seio dos trabalhadores que permitiu ao Plenário que analisou os seus resultados decidir intensificá-la para prosseguir os objectivos ainda não atingidos no plano laboral, e sob a mesma consigna de fundo político «AD fora do Governo».

De forma crítica Marreiros Mendonça, dirigente  da BASE-FUT escreve na Revista «Autonomia Sindical» que a primeira greve geral teve um assinalável êxito, embora não tenha conseguido derrubar o governo AD que era um dos objectivos centrais da greve.

(Elementos retirados do livro da CGTP «Contributos para a história do movimento operário e sindical 1977-1989» e da revista da BASE-FUT «Autonomia Sindical nº6/1983

 

 

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