A PAZ-fazer a ponte entre o ontem, o agora e o que há – de vir…

 

Américo Monteiro

“SONHOS! EU CONTINUO A SONHAR…” (de Yannis Ritsos em: A Ponte)

“Creio que o primeiro acto de justiça

É a correcta repartição do pão.

Creio que o primeiro passo para o progresso

É o incremento da produção do pão para todos.

Creio que o nosso primeiro dever é a paz.

Creio que a nossa primeira liberdade não é a nossa solidão

Mas a nossa camaradagem;

Para o resto, haverá sempre tempo, mas só depois disto.

É sobre esta ponte que eu quero falar-vos.” *

Aproveito para situar aqui, que o fundador da JOC e inspirador dos movimentos de adultos como a LOC/MTC, que aqui represento, Joseph Cardijn, viveu duas grandes guerras do século passado. Nas duas esteve preso.

Apostou em formar uma classe operária, consciente, solidária e comprometida, que deve tornar-se a ponta de lança da revolução pacifica. Fundou a verdadeira escola da vida.

Tornar cada um plenamente responsável por si mesmo e por todos os outros.

Queria aqui recordar entre todos vós, esta personalidade, cuja vida foi uma longa luta, revolucionária sim e, no entanto, pacifica.

Cinco minutos é tempo muito curto para falar da paz,

O atual Papa de nome Francisco, líder da Igreja católica, fala frequentemente de Justiça e de paz.

Na sua última carta encíclica, Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social, avisa-nos que a guerra não é um fantasma do passado, mas tornou-se uma ameaça constante, (nº 256) e acrescenta no (nº 257) “a guerra é a negação de todos os direitos e uma agressão dramática ao meio ambiente. Se se quiser um desenvolvimento humano integral autêntico para todos, é preciso continuar incansavelmente no esforço de evitar a guerra entre as nações e os povos, sublinhando os propósitos da Carta das Nações Unidas, como verdadeira norma jurídica fundamental.

Ele nos alerta mais uma vez sobre o terrorismo que não se deve à religião, – embora os terroristas a instrumentalizem – mas que tem origem no cúmulo de interpretações erradas de textos religiosos, nas políticas de fome, de pobreza, de injustiça, de opressão, de arrogância. É muitas vezes fruto do uso político das religiões. E por isso nos reafirma repetidamente, Paz, Justiça e Fraternidade.

Sem Justiça não há paz.

Pela falta de justiça e a manipulação por certos interesses fundamentalmente económicos: o que é verdade, quando convém a uma pessoa poderosa, deixa de o ser quando já não o beneficia.

“Se uma pessoa vos fizer uma proposta dizendo para ignorares a história… Aquela pessoa precisa de vós vazios, desenraizados, desconfiados de tudo”.

Se formos pessoas atentas, veremos, na sociedade, que a melhor maneira de dominar e avançar sem entraves é semear o desânimo e despertar uma desconfiança constante, mesmo disfarçada por detrás da defesa de alguns valores. Usa-se hoje, em muitos países, o mecanismo político de exasperar, exacerbar e polarizar. Com várias modalidades, nega-se a outros o direito de existir e pensar e, para isso, recorre-se à estratégia de ridiculariza-los, insinuar suspeitas sobre eles e reprimi-los. Não se acolhe a sua parte da verdade, os seus valores, e assim a sociedade empobrece-se e acaba reduzida à prepotência do mais forte.

Para onde vamos? Onde estamos, os humanos? Hoje em dia é necessário ter consciência de que pertencemos à espécie humana, que tem um destino comum frente a tantos desafios.

Vivemos a destruição da política em proveito da economia. Uma economia que mata como diz o Papa Francisco.

 Então, como educar para a paz?

Por meio de exemplos, principalmente.

Precisamos, como adultos e educadores, contribuir para uma formação que valorize o respeito, a cidadania, o bem ao próximo.

sentimos crescer cada vez mais a exigência de paz, duma paz que «não é apenas ausência de guerra, mas é uma vida rica de sentido, construída e vivida na realização pessoal e na partilha fraterna com os outros».(P. F.)

A educação é «o antídoto natural à cultura individualista, que às vezes degenera num verdadeiro culto do “ego” e no primado da indiferença. O nosso futuro não pode ser a divisão, do empobrecimento das faculdades de pensamento e imaginação, de escuta, diálogo e compreensão mútua».(P. F.)

Creio que o nosso primeiro dever é a Paz!

 

NOTA: Intervenção de Américo Monteiro, em nome da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos Nacional, no Encontro pela paz de 5 de Junho,21 realizado em Setúbal, pelo CPPC sob o lema “Pela Paz todos não somos de mais”

*Yannis Ritsos, poeta grego (1909. 1990). Em 1948, com o início duma ditadura militar, Yiannis Ritsos é preso, passando pelos campos de Limnos e o terrível Makronisos, onde escreveu os seus Diarios do Exílio.

 

 

 

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