A Comissão Política Nacional da BASE-FUT divulga comunicado sobre a atual situação política:
«As eleições de 18 de maio resultaram numa Assembleia da República onde os partidos de direita ocupam mais de dois terços dos lugares. Tal significa que, pela primeira vez desde o 25 de abril, a direita tem o poder de alterar, sozinha, uma constituição com a qual nunca conviveu bem. A origem desta situação – e das votações do PS e da esquerda parlamentar que a permitiram – é complexa e envolve vários fatores, entre os quais se contam: a perda da ligação dos partidos com o povo, seja por fechamento elitista seja por afunilamento em causas identitárias; a crise profunda dos meios de comunicação social tradicionais e a concentração de propriedade de plataformas e redes sociais; ou recuos no plano ideológico e cultural, que permitiram que a competição, o individualismo e a intolerância se sobreponham cada vez mais à cooperação, à solidariedade e à empatia como princípios organizadores das nossas sociedades. Sobre tudo isto é preciso refletir e começar a construir alternativas.
Os primeiros sinais dados pelo novo Governo são preocupantes. Em vez de se dedicar à procura de soluções para os problemas que afetam a vida das portuguesas e portugueses – como a crise profunda da habitação, as desigualdades no acesso à saúde e à educação ou a pobreza entre os trabalhadores e os pensionistas – o governo prefere adotar a agenda da extrema-direita sobre a imigração e ameaçar os trabalhadores com a restrição dos direitos laborais – incluindo o direito à greve.
No plano internacional, o paradigma da cooperação e resolução pacífica de conflitos no quadro de instituições multilaterais como a ONU parece ter atingido o seu ponto mais baixo desde a II Guerra Mundial. Entre a invasão da Ucrânia pela Rússia, as atrocidades diariamente cometidas em Gaza pelo exército israelita e as violações grosseiras da soberania de países como o Líbano ou o Irão, multiplicam-se as situações de total desprezo pelo direito internacional e pelas instituições que lhe dão corpo. Assistimos, em suma, ao regresso da força bruta como lógica de organização das relações entre estados – que, na Europa, se manifesta numa combinação entre fragilidade diplomática e entusiasmo doentio pela entrada numa corrida cega ao armamento.
A BASE-FUT manifesta a sua profunda preocupação com a atual situação nacional e internacional. É fundamental que o povo e os trabalhadores portugueses não se deixem iludir pela manipulação cínica de medos, preconceitos e ressentimentos que só pretende impedir a discussão sobre os verdadeiros problemas que afetam as suas vidas. E é crucial reafirmar a importância do respeito pelo direito e pelas instituições internacionais como a melhor garantia de paz e justiça entre os povos.»
Lisboa, 28 de junho de 2025