A data de sete de outubro é o Dia Internacional do Trabalho Digno comemorado pelas Organizações de Trabalhadores! A BASE-FUT tem como objectivo central a promoção do Trabalho Digno,ou seja com direitos sociais, tendo em conta o a dignidade da pessoa !
Embora na Europa, e em alguns outros países do mundo, exista uma preocupação pela promoção do trabalho digno a realidade mostra-nos que a economia capitalista actual continua não apenas a gerar condições de trabalho com riscos tradicionais como os acidentes de trabalho e doenças profissionais, como a surdez ou o cancro profissional, como ainda agravou patologias como o burnout com origem nas formas de organização e gestão do trabalho próprias da intensificação do trabalho e da utilização das novas tecnologias em benefício dos acionistas.
Carga excessiva de trabalho como causa fundametal
Os dados estatisticos não enganam.Basta consultar informações da OIT ou da Agência Europeia para a Segurança e Sáude no Trabalho.Basta consultar estudos sobre professores, trabalhadores bancários,pilotos e até gestores!Estes bebem frequentemente do seu veneno!Mas também existe burnout em operários e trabalhadores independentes!
Numa pesquisa internacional recente, da consultoraTalkspace Employee Stress Chek o Burnout aparece como o segundo motivo de insatifação no trabalho (51%) depois do salário(57%).Um trabalho do ETUI,Instituto Sindical Europeu, revela que 4 em 5 quadros enfrentam problemas de stresse ligado ao trabalho.Outro estudo da Universidade Católica de Luvaina (Bélgica) junto de 5000 trabalhadores revela que 18% deles estavam em risco de esgotamento.Em causa estavam as directrizes contraditórias e uma carga de trabalho muito elevada!
Origem do burnout
Sendo hoje muito utilizada,a palavra inglesa burnout significa uma perturbação psíquica que se caracteriza pelo esgotamento físico e mental da pessoa.Essa perturbação desenvolve-se em geral pela acumulação de stresse no trabalho e por um ambiente agressivo e pouco amigo.Ou seja, uma dedicação excessiva à vida profissional, sem descanso, sem férias ,sem alternar o seu trabalho com outras actividades.Esta dedicação excessiva pode ser por vontade própria ou pelas solicitações e obrigações impostas pela entidade patronal.
Esta perturbação foi descrita pela primeira vez pelo psicólogo alemão Herbert Freudemberger.É considerada uma doença profissional pela Organização Mundial de Saúde.Segundo a legislação portuguesa os empregadores devem avaliar os riscos e tomar medidas adequadas de prevenção.
Determinados sectores da economia mundial, altamente competitiva, e uma gestão desumana de muitas empresas, conduzem milhares de trabalhadores a situações de esgotamento com graves consequências para a saúde e para a vida familiar.
Qualquer pessoa que tenha muita actividade e pressão deve estar alertada para alguns sinais como a exaustão e esvaziamento emocional, desgaste da empatia;desvalorizção de tudo o que se relaciona com o seu trabalho; aumento da desmotivação; fadiga, dores musculares, dores de cabeça, alterações do sono e níveis de tensão arterial;Sentir uma insatisafação geral com a vida;perda do sentido do trabalho;sentir que as relações com os familiares e amigos estão a piorar.
Factores que podem agravar a situação
Lembramos que existem factores que podem agravar a situação com destaque para a carga de trabalho superior á sua capacidade de resposta;pouca ou nenhuma autonomia e controlo sobre as suas tarefas e a organização do trabalho;estar responsável por tarefas perigosas ou de grande exigência emocional; dificuldades em conciliar a vida familiar e profissional.
Sabemos que o burnout afecta em especial profissões com grande carga física e pressão emocional como é o caso dos profissionais de sáude, professores, alguns profissionais da aviação, gestores e alguns sectores operários.
Os sistemas de avaliação competitivos e discriminatórios são também um poderoso factor de burnout.A destruição dos colectivos e da solidariedade entre trabalhadores agravou as condições propícias para o burnout.
O burnout não se vence sozinho
Por medo ou por pudor alguns trabalhadores não falam da sua situção de burnout como não falam de outras doenças!Medo de perder o emprego,medo de mostrar vulnerabilidades aos chefes e colegas com quem estão em competição por prémios de mérito ou de progressão na carreira.
As dicas e propostas individuais para vencer o burnout não são suficientes.Não basta fazer desporto ou yoga e comer de forma vegetariana!Não basta mudar a vida pessoal!Há que mudar as condições de organização do trabalho,ou seja, há que mudar o que está mal no local de trabalho!A raiz do burnout existente numa empresa está frequentemente relacionado com as formas de gestão tóxicas existentes,no ambiente de trabalho doentio!
Realisticamente os serviços de recursos humanos e de segurança e saúde no trabalho não são suficientes e competentes para prevenir e acompanhar estas situações.Os primeiros porque estão a defender os interesses do patrão e os segundos porque, na sua generalidade ,são externos e com a missão de apenas cumprir as normas legais.
A existência da estrutura sindical torna-se imperiosa
Neste quadro é muito importante a existência de uma estrutura sindical competente e reivindicativa capaz de colocar a prevenção dos riscos físicos e psicológicos no centro da sua ação sindical e confronte a gestão e os serviços da empresa não apenas com as carências neste capítulo , mas também com as práticas geradoras de doença no trabalho!
Digamos assim que a organização sindical é uma das condições de saúde nos locais de trabalho.O sindicato por um lado confronta e chama a atenção da gestão para a perversão de algumas práticas de discriminação ,competição e intensificação do trabalho que geram doença e, por outro, mobiliza os trabalhadores para a criação de um ambiente preventivo solidário.
Fontes:ETUI,OSHA,Seminários e grupos de trabalho EZA
Texto elaborado por António :Brandão Guedes