O mal estar existente na escola pública é eviente há décadas!Mal estar que afecta os professores e educadores , mas também o pessoal auxiliar.Esse mal estar revela-se de várias maneiras e é expresso nomeadamente nos vários momentos de contestação e de lutas sociais como o que agora atravessa o País.
Em 2018 a Federação dos sindicatos de professores, FENPROF encomendou a um grupo de investigadores um estudo sobre as condições de trabalho dos professores portugueses.Esse estudo/inquérito revela o que muita gente já suspeitava: o pessoal da educação está nos limites da resistência física e psicológica.Leia-se o que retiramos desse estudo:
«76,4% dos professores portugueses apresentam sinais de esgotamento emocional. Destes 20,6% apresentam sinais preocupantes de esgotamento emocional, 15,6% dos professores têm sinais críticos de esgotamento emocional, e 11,6% dos professores estão em esgotamento emocional pronunciado.
Se olharmos o Índice de desrealização (IRP) verificamos um amplo espectro de respostas, e um sector com níveis preocupantes: 42,5% dos professores têm IRP abaixo dos 50 pontos. Um dos resultados mais evidentes deste estudo é a existência de uma relação fortíssima entre exaustão emocional (IEE) e a idade dos docentes. Sendo que a partir dos 55 anos esse valor atinge valores próximos de 70. O sector centrado nos 60 anos tem assim mais IEE do que o esperado. E a classe centrada abaixo dos 40 anos um valor muito inferior aos 50 pontos (ver TH8). Os professores com mais tempo de serviço têm maior índice de esgotamento emocional.
Estes dados ajudam a confirmar que os professores com maior idade têm maior Índice de Esgotamento Emocional. Há ainda uma dependência entre região territorial e IEE que confirma esta hipótese – existe maior IEE onde a média de idades é superior, como na região Centro, o que faz entender melhor a disparidade regional (ver TH9).
A variável significativa é claramente a idade, e não a região. Não surpreende em decorrência que há uma expressiva dependência entre o desejo de reforma antecipada e o IEE nos professores – registe-se o desejo expresso de 84% dos professores de se reformarem/aposentarem antes do tempo legalmente estabelecido sem penalizações salariais.
Entre os factores determinantes relacionais que resultam dos dados do inquérito já estudados por nós (existem outras variáveis do inquérito de 158 questões que ainda estão em estudo, reiteramos) está inequivocamente o cansaço, a idade dos professores, a burocracia, a indisciplina, a hierarquia rígida e a falta de criatividade.
A hipótese mais plausível explicativa desta relação, ainda em estudo na sua totalidade, é uma dissociação entre as expectativas de trabalho com autonomia, criatividade e direitos laborais e a real degradação progressiva das relações de trabalho e vida nas escolas bem como o declínio das expectativas em relação ao futuro. Este estudo recai analiticamente sobre os docentes em Portugal. Portugal tem uma história peculiar no campo europeu, é o último país da Europa ocidental a viver um processo revolucionário social (1974-1975). Este factor é essencial (embora insuficiente per si), para explicar na actualidade todos os estudos do campo do trabalho….»