Presidenciais francesas: Onde está a esquerda?

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Pierre Marie*

As eleições presidenciais francesas terão lugar em breve, durante o mês de abril de 2022. Há cinco anos, a esquerda eteve ausente da segunda volta, que viu o liberal Emmanuel Macron vencer a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen. Desde 2017, Macron aplicou o seu programa liberal: isentou os mais ricos de impostos, dificultou o acesso ao subsídio de desemprego e iniciou uma reforma ampla do sistema de pensões, adiada no entanto por causa da situação pandémica. O presidente enfrentou crises sociais maciças como a dos “Coletes amarelos” e a mobilização dos trabalhadores contra o projeto de modificação do atual sistema de pensões. Atualmente existem movimentos contra as medidas de luta contra a Covid-19, nomeadamente a instauração de um “passe vacinal”. E, hoje como há cinco anos, a esquerda está prestes a repetir a sua ausência numa segunda volta das presidenciais.

Pior, é à direita que parece ocorrer a renovação do espectro político francês. As sondagens dão Macron em primeiro lugar da primeira volta com cerca de 25% votos. Atrás dele encontram-se Valérie Pécresse (direita, antiga ministra de Nicolas Sarkozy), empatada com a Marine Le Pen (extrema direita) com 17% e Éric Zemmour (extrema direita) com 12% dos votos. Acrescentando alguns outros pequenos candidatos, a ala direita à Macron congrega cerca de 48% dos votos. Para as candidaturas de esquerda, restam cerca de 25% divididos em 8 candidatos! Jean-Luc Mélenchon mantém-se como o melhor posicionado (10%), Yannick Jadot, o candidato ecologista junta cerca de 6% dos votos e Anne Hidalgo, presidente socialista da Câmara de Paris reúne 3% dos votos. Há poucas semanas, Christiane Taubira, antiga ministra, anunciou a sua candidatura para federar as forças de esquerda e junta igualmente cerca de 3%.

Este rápido panorama das forças em presença mostra o caos que espera a esquerda nos próximos meses. Apelos multiplicam-se para a organização de uma eleição primária para escolher um candidato único. Uma iniciativa impossível: faltam poucas semanas antes das eleições, os programas parecem impossíveis de conciliar e uma primária agora acabaria por escolher um candidato e não um projeto político mobilizador e transformador, de que França tanto precisa. Face ao ultraliberalismo de Macron e a intolerância da dupla Le Pen-Zemmour, as forças de esquerda tinham a obrigação de preparar coletivamente este ato eleitoral. Tinham igualmente a obrigação de federar as lutas que ocorreram nos últimos cinco anos e dar-lhes um horizonte político. Não o souberam fazer e deixaram lugar à extrema direita e à desmobilização dos cidadãos. As eleições de abril de 2022 anunciam-se como incertas. Mas é desde já provável que seja uma nova ocasião perdida para a transformação ecológica e social do país.

 

*Dirigente da BASE-FUT, Investigador Social.

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