Nos 50 anos da CGTP lembramos um dos seus fundadores mais conhecidos.Daniel Cabrita foi bancário e sindicalista, activo na Oposição Democrática ao regime do Estado Novo, destacou-se sobretudo como dirigente sindical, desde finais da década de 60. Foi eleito para a direcção do Sindicato dos Bancários em 1969, numa altura em que as greves eram proibidas e constituíam um crime que levava à prisão. Foi um dos fundadores da CGTP, em 1970. Julgado em Tribunal Plenário, foi condenado e cumpriu pena em Caxias e Peniche. Após o 25 de Abril, fez parte de Gabinetes de dois Ministros do Trabalho do I Governo Provisório e integrou as listas do MDP na candidatura à Assembleia Constituinte (1975).
Uma referência dos bancários e da oposição
1. Daniel Isidro Figueiras Cabrita nasceu em 1938, no Barreiro, onde cresceu e sempre viveu.
Tornou-se militante do PCP no início da década de 60, tendo participado activamente na luta contra a ditadura, até Abril de 1974. Cedo começou a ter actividade sindical (no Banco Totta, onde estava empregado). Em 1968, concorreu à direcção do Sindicato dos Bancários, numa estratégia delineada pela Oposição Democrática, de conquista das direcções dos “Sindicatos Nacionais” aos fascistas (1). É eleito pelos trabalhadores como Presidente da Direcção do Sindicato dos Bancários de Lisboa em 12 de Março de 1968, mas a posse só ocorreu em Janeiro de 1969, dada a imposição de homologação ministerial, isto é, as eleições decorreram na época de Salazar e a homologação só apareceu na altura do Marcelismo, em 1969 (2).
Em 1970, os sindicatos que iriam fazer parte da Intersindical batiam-se pela satisfação de reivindicações que levaram o regime a ter uma atitude de perseguição e de violência contra os seus dirigentes sindicais. Daniel Cabrita foi reeleito para a direcção no cargo de 1.º secretário, em Março de 1971, e participou na fundação da Intersindical; mas em Junho de 1971 foi preso durante as férias, em Sesimbra, e acusado de pertencer ao Partido Comunista. Foi submetido a várias torturas (inclusive tortura do sono), julgado em Tribunal Plenário e condenado. Esteve preso dois anos, em Caxias e em Peniche. A sua prisão desencadeou uma enorme onda de protestos, não só a nível nacional, como internacional. Saiu da prisão em Junho de 1973, impedido de exercer actividades sindicais, voltou ao Banco onde trabalhava e nunca deixou de agir nas lutas sindicais.
Foi um dos organizadores do Congresso de Todos os Sindicatos
2. Depois do 25 de Abril, integrou os gabinetes dos Ministros do Trabalho, Avelino Gonçalves e Costa Martins. Foi candidato às eleições para a Assembleia Constituinte pelo MDP (1975), e às legislativas de 1980, em representação do PCP, ambas pelo Círculo de Setúbal.
Voltou a entrar na Intersindical em 1976 e apoiou a direcção da Intersindical na organização do Congresso de Todos os Sindicatos. Integrou a Comissão de Honra do 4.º Congresso da CGTP- IN. Manteve-se na Intersindical até 2008, como adjunto do Secretário-geral e no Gabinete de Estudos da Intersindical. Colaborador permanente da CGTP-IN durante mais de 30 anos, ocupou sempre o cargo de adjunto do Secretário-geral, nomeadamente de Armando Teixeira da Silva e Manuel Carvalho da Silva.
Foi membro da Assembleia Municipal do Barreiro, eleito pelo PCP/CDU, durante diversos mandatos. Foi dirigente do Cine Clube do Barreiro de 1963 a 1965.
3. Em 1980, por ocasião do 10º aniversário da CGTP, participou no debate “Sindicalismo ontem e hoje”, sobre a fundação da Intersindical e o seu papel na defesa dos trabalhadores e da democracia.
Em 2011 é um dos sindicalistas do fascismo que dá o seu testemunho na obra «Contributo para a história do movimento operário e sindical», um livro editado pela CGTP-IN por ocasião do seu 40.º aniversário (3).
Em 2014, por ocasião das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, a Câmara Municipal do Barreiro homenageou Daniel Cabrita juntamente com sete outros resistentes antifascistas do Barreiro (4).
Daniel Cabrita reformou-se aos 70 anos.
Notas:
(1) O Estado Novo tinha uma forte tutela sobre o movimento sindical, proibindo todos os sindicatos, com excepção daqueles que eram controlados pelo Estado (os Sindicatos Nacionais).
(2) Há finalmente homologação dos resultados das eleições, com a direcção presidida por Daniel Cabrita, mas Mário Pina Correia e António Ferreira Guedes foram impedidos de integrar os corpos dirigentes para os quais também tinham sido eleitos.
(3) O livro aborda o processo de criação da Intersindical, desde 1970, ano em que se realizam as primeiras reuniões clandestinas, até 1977, passando pelos últimos anos do fascismo e pelo período revolucionário de Abril. Coordenado por Manuel Carvalho da Silva, conta com textos de Américo Nunes, Daniel Cabrita, Emídio Martins, Francisco Canais Rocha, José Ernesto Cartaxo, Kalidás Barreto e Vítor Ranita.
(4) A homenagem incluía uma mostra, que incluía fotos de oito resistentes antifascistas ainda vivos (ver foto), alguns documentos, tais como artigos de jornal alvo de censura, fotos de uma reunião da CDE (Comissão Democrática Eleitoral) e letras manuscritas das canções de Zeca Afonso.
Biografia da autoria de Helena Pato
Título e subtítulos da redação.