«Neste momento, a situação política no Chile é crítica»-diz a Associação de chilenos em Portugal que acrescenta:« As forças militares e policiais reprimem violentamente as manifestações da população, que exige mudanças estruturais para uma melhor qualidade de vida».A nosso pedido aquela Associação enviou-nos um texto sobre a grave situação política e social naquele País da América Latina:
Até ao dia 22 de novembro, o Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile (INDH) registou 6 mortes, 6972 detenções (das quais 833 menores de idade), 2535 pessoas feridas (1552 por armas de fogo), 74 queixas de abuso sexual e 341 queixas de tortura. Todos estes atos foram cometidos por ação de agentes do estado, num período de um mês. São números que crescem de dia para dia e que o próprio INDH tem qualificado como “violações graves, massivas e sistemáticas aos direitos humanos, constitutivas de lesa humanidade”. Na mesma data, a Sociedade Chilena de Oftalmologia fez um comunicado, dando conta que, nas semanas anteriores a 22 de novembro, se registaram 223 lesões oculares lesões. Por se ter a noção da gravidade da situação, basta verificar que, no conflito entre a Palestina e Israel, se registaram 156 casos de pessoas num período de 6 anos. No entanto, da parte da polícia, o general Mario Rozas desvaloriza estes abusos, considerando que o nível de violência se encontra “dentro do aceitável”.
No dia 11 de novembro a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos ouviu uma comitiva de representantes do estado chileno e das organizações não governamentais que estão a registar os episódios de violência e violações dos direitos humanos. Nesta instância, o advogado assessor do ministério do interior, Mijail Bonito, faltou a verdade, apresentando um número falso de agentes da polícia feridos durante as manifestações. Segundo este responsável, 1200 agentes teriam sido afetados. Todavia, até 31 de outubro, a própria instituição dava conta de apenas 87 feridos grave e 74 com lesões leves. Em geral, os representantes do estado minimizam, nas suas intervenções, os abusos e violência das forças policiais – até mesmo no caso de uma agente vestida de civil que ficou com lesões física e psicológicas graves por ação de um membro do corpo de polícia, no dia 4 de novembro.
Num recente comunicado, o presidente Sebastián Piñera referiu-se aos abusos por parte dos agentes do Estado, justificando a violência que estes exercem contra os e as manifestantes – muitos deles jovens, mulheres e inclusivamente crianças e estudantes.
O Chile não está em guerra, contrariamente ao que disse o presidente Piñera no início das manifestações. É o presidente que está em guerra contra o seu povo. As organizações sindicais e sociais são parte fundamental deste movimento social, que inclui trabalhadores da saúde, trabalhadores portuários, trabalhadores dos transportes e dos aeroportos, mineiros e outras forças produtivas do país. A população exige soluções tão básicas como o direito à saúde, à educação e a uma pensão de reforma justa. Exige igualmente a eleição de uma nova Assembleia Constituinte, que substitua a constituição de Pinochet, ainda em vigor.
A situação no Chile tem sido acompanhada e fortemente criticada por organizações como a Amnistia Internacional, cuja representante no Chile foi categórica ao dizer que a situação no país é grave e
que a violência registada durante as últimas semanas, com o único fim de dissuadir aos manifestantes, tem atingido níveis intoleráveis.
Solicitamos a tradicional solidariedade de toda a sociedade portuguesa para com o Chile e também de todas as pessoas que se revejam nesta luta para, deste modo, repudiar publicamente os abusos e as violações aos direitos humanos que estão a acontecer impunemente por parte dos agentes do Estado, sob a direção do governo do Presidente Sebastián Piñera. Acreditamos que, devido ao desenvolvimento dos eventos desta crise sociopolítica nas últimas cinco semanas, o governo continuará a reprimir com cada vez mais força a luta pela justiça social. Por estas razões, só mediante o envolvimento do resto dos países e com pressão internacional podemos esperar alguma resposta aos acontecimentos, como foi o cancelamento das conferências internacionais COP25 e APEC que iriam a ter lugar no Chile.
Apelamos à vossa participação neste protesto porque não queremos que a crise do Chile seja silenciada, nem que a sua imagem internacional seja apenas a dos despojos tristes da resposta a um sistema violento e cruel. O Chile não está em guerra. O povo chileno não está em guerra. O povo chileno só está em uma luta por mais justiça social e melhor qualidade de vida para todos e todas.
A Associação de Chilenos em Portugal, em representação dos seus membros e de grande parte da comunidade residente no país, agradece a solidariedade com o povo chileno.
Pela Associação de Chilenos em Portugal
Lisboa, 22 de novembro de 2019