Brandão Guedes*
O mundo do trabalho, uma realidade complexa e diversa, foi sendo desvalorizado e integrado na matéria económica pelo capitalismo.Nas universidades e nos «media» o trabalho deixou de ter alguma autonomia para ser reduzido a uma camponente menor da economia.Os governos de direita odeiam em geral ter um Ministério do Trabalho!O trabalho, que é realizado por pessoas, é o que menos conta para os economistas e financeiros.Há realidades do trabalho voluntariamente ignoradas e escondidas.Uma delas é a democracia no trabalho e a outra é a saúde dos trabalhadores abordada nua perspectiva das suas organizações.
Ambas as questões estão intimamente ligadas. Laurent Vogel, um dos mais interessantes investigadores do ETUI (Instituto Sindical Europeu) refere, no balanço que faz da Europa social, que «a análise da dinâmica social de prevenção sugere que a existência de uma representação activa dos trabalhadores é frequentemente o factor decisivo para se passar de uma prevenção «sobre o papel» a uma actividade real ou de eliminação dos riscos».
Mais adiante acrescenta o mesmo autor:«a ausência de representação é um entrave importante à prevenção nas pequenas empresas ou nos empregos mais precários.Não se trata apenas de um problema de saúde no trabalho.Trata-se de um déficite democrático no trabalho, de democracia no trabalho.
Cerca de metade dos trabalhadores europeus está privada de qualquer representação colectiva
Sabemos que cerca de metade dos trabalhadores europeus está privada de qualquer forma de representação colectiva.Esta situação tem um impacto enorme na economia e na vida dos trabalhadores nomeadamente:
a)Contribui para prejudicar a ação real de prevenção nos locais de trabalho prejudicando a saúde dos trabalhadores e fomentando o absentismo;
b)Impede a existência de mecanismos de contra poder nas empresas;
c)Promove o monopólio da decisão do empregador em questões centrais como a qualidade do trabalho e do ambiente;
Estas questões são raramente abordadas e debatidas nos diferentes espaços da sociedade, inclusive no Conselho Económico e Social.São assuntos marginalizados nos grandes debates económicos, em particular nas últimas décadas.
Todavia,os relatórios da OIT focam frequentemente a importância da representação dos trabalhadores, não apenas para a qualidade do trabalho mas também para a produtividade.A democracia no trabalho e o poder dos trabalhadores são realidades fundamentais de uma economia sustentável e com futuro.A Confederação Europeia de Sindicatos tem vindo a colocar esta questão na agenda da UE.Todavia, o Lobi patronal não pode ouvir falar nesta matéria.Para a maioria dos gestores e patrões o poder dos trabalhadores é uma ameaça e não um factor de progresso!Mas, quer se queira ou não,não há sociedade democrática sem democracia nos locais de trabalho!A onda de anti sindicalismo em alguns sectores da sociedade portuguesa e europeia é um dos sinais de regressão social e política na Europa e noutras regiões do globo!Os sindicalistas terão que ter em conta este quadro.
*Dirigente da BASE-FUT
Coordenador de Projecto EZA sobre segurança e saúde no trabalho 2019/20