Hoje, 29 de julho, faz 88 anos!Grande parte da sua vida foi dedicada á actividade nos movimentos operários da Ação Católica e no sindicalismo.Convidado pela CGTP para a sua Direção acabou por não aceitar esse desafio por motivos pessoais, embora considerasse tal convite uma honra.Foi condecorado com outros sindicalistas pelo ex-Presidente Ramalho Eanes.Foi um dos fundadores da BASE-FUT e seu coordenador nacional.Representou esta Orgnização na Confederação Mundial do Trabalho (CMT) e no Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores (EZA).Foi um sindicalista autodidata na linha de muitos outros que fizeram a História do Movimento Operário Português.
Nasceu em Lisboa no ano de 1933, na maternidade Alfredo da Costa. O pai de origem da Beira Alta e a madrasta natural do Minho. Tinha nove meses quando foi viver com a madrasta.
A sua mãe natural de Estarreja, era empregada doméstica numa casa em Lisboa. Na única vez que a foi visitar, recebeu uma recomendação: que não a chamasse mãe porque se a patroa soubesse que era mãe solteira o mais certo seria despedi-la. Segundo o conceito da burguesia daquele tempo não podia haver mães solteiras.
Fez uma parte da escola primária na Beira Alta e outra no Bairro Alto, em Lisboa. Frequentou até ao 5º. Ano a escola comercial Veiga Beirão no Largo do Carmo. Chumbou o 1º ano e passou para o ensino nocturno.Foi baptizado tarde, com 11 anos, na Beira Alta, na terra do seu pai.
Foi trabalhar com doze anos!
Com 12 anos foi trabalhar. O seu primeiro emprego foi no Café Nacional, onde hoje é o Celeiro, na Rua 1º de Dezembro, em Lisboa, como paquete, distribuidor de correspondência. Depois passou para a Livraria Bertrand, na Rua Anchieta ao Chiado. Entrou para a Bertrand onde esteve cerca de dois anos, tinha então quinze anos. Foi despedido porque, por altura do Natal, foi colocado na Livraria. Por no “ranking” de vendas ter vendido mais livros que alguns dos “vendedores” foi chamado ao Director Geral, um francês, que, após o ter felicitado, lhe comunicou que ia ser transferido para a Livraria.
Agradeceu o elogio, e dado que estava a estudar à noite, solicitou autorização para poder no período de aulas, continuar com o horário de trabalho dos escritórios, dado que a Livraria encerrava às 19 horas e a primeira aula começava precisamente a essa hora e que, por motivo de obras da Veiga Beirão estava a frequentar a Patrício Prazeres que ficava próxima do Castelo de São Jorge, pelo que perderia a frequência de todas as primeiras aulas.
Incompreensivelmente, o director, comunicou-lhe que teria de cumprir o horário da livraria. Ao solicitar para continuar como paquete para poder continuar a estudar foi despedido no final do mês sem justa causa como resposta. Era assim que os jovens trabalhadores e aprendizes eram tratados.
Passados dois meses foi trabalhar no Secretariado da Direcção Geral da LOC, onde permaneceu uns dois anos.
Na JOC foi Vogal da Pré-JOC, “Propagandista” Diocesano, Presidente da Secção da Encarnação (ao Chiado) sucedendo ao João Gomes quando este transitou para a Direcção Geral da JOC.
Trabalhou numa Companhia de Seguros de onde saiu para uma multinacional automóvel onde esteve 43 anos.
Teve um papel histórico nos movimentos operários católicos
Após o casamento filiou-se na LOC, inicialmente na Secção da Encarnação, de onde transitou, por mudança de residência para a Secção de Benfica, e, posteriormente, pelo mesmo motivo para a de Queluz, da qual foi Presidente, e posteriormente Presidente Diocesano, Vice-Presidente da Direcção Geral e por escolha dos Movimentos Operários da Acção Católica, foi nomeado Secretário-Geral Adjunto da Acção Católica Portuguesa.
Foi nomeado pela Direcção Geral da LOC, Director do Centro de Cultura Operária (CCO).
O Fernando Abreu foi um dos obreiros da renovação que ocorreu no CCO e dos seus métodos de formação de trabalhadores.Uma formação que sem desprezar os instrumentos académicos seria feita a partir das realidades da vida dos trabalhadores.Por outro lado,uma corrente do CCO progride e vai mais longe do que que a luta pela liberdade e contra a ditadura.Vários dirigentes, entre eles o Fernando Abreu, consideram necessário fazer uma ruptura com o capitalismo e lutar por um sindicalismo que não seja de conciliação de classes.
A criação do Movimento BASE
Fundador do Movimento BASE na clandestinidade,o Fernando esteve no centro do debate sobre a criação de sindicatos cristãos em Portugal.A não criação de sindicatos confessionais que se colocou com mais premência em cima da mesa no seguimento do 25 de ABRIL foi uma opção reflectida, não apenas pelo contexto revolucionário, mas fundamentalmente para manter a unidade sindical dos trabalhadores portugueses.No período da ditadura ainda foram lançadas as «Edições BASE» e editados os primeiros livros, sob coordenação do Fernando Abreu.
Sob o pretexto de ser comunista foi detido pela PIDE e espancado na ditadura de salazar caetano. Por instruções da PIDE foi-lhe instaurado pela Polícia Judiciária, no início de 1970, um Processo – crime por ofensas ao Chefe do Estado do Chile por motivo de a Introdução do livro “Chile -Socialismo Impossível” publicado pelas Edições BASE ter sido considerado ofensivo do General Pinochet.
O 25 de Abril e a criação da BASE-FUT
Após o 25 de Abril desenvolveu intensa actividade sindical na multinacional onde trabalhou e no sindicato dos trabalhadores do Escritório.Foi o primeiro Coordenador da BASE-FUT, Director da revista “Autonomia Sindical”, Responsável das Edições BASE e Presidente da Direcção do Centro de Formação e Tempos Livres – CFTL.
Aquela Revista, publicada na década de 80, de colaboração militante , após as horas de trabalho e aos fins de semana na sede da BASE-FUT foi considerada pelo jornal Expresso como a melhor publicação sindical do País.
O mesmo aconteceu com a coordenação do Sector de Intervenção Sindical, a principal equipa de trabalho da BASE-FUT, a cargo também do Fernando Abreu e que esteve no apoio a várias lutas sindicais, na criação de alguns sindicatos como o das Empregadas Domésticas, Portaria, Vigilância e Limpeza, CTT e na luta pela unidade sindical e a preparação do Congresso de Todos os Sindicatos onde a CGTP se tornou mais abrangente e unitária, não se evitando, contudo, a criação da UGT.
Ainda no periodo democrático, em 1978, o Fernando Abreu deslocou-se ao Brasil, que vivia em ditadura, onde esteve um mês a contactar e apoiar a Oposição Sindical Brasileira.Esta deslocação, totalmente clandestina, teve o apoio e cobertura da Confederação Mundial do Trabalho.
Em 1982 o José Luís Judas, em nome da Comissão Executiva Nacional da CGTP convidou o Fernando Abreu para integrar a Direção desta Central Sindical com o pelouro das Relações Internacionais.Embora honrado pelo convite o Fernando não aceitou o desafio por razões familiares e profissionais.
Ainda na década de 80 o Fernando teve um papel decisivo na adesão do Centro de Formação e Tempos Livres à rede europeia de formação de trabalhadores EZA. .
Será sempre o militante nº1
O Fernando Abreu, embora deixando no XVI Congresso da BASE-FUT, a Presidência da Mesa do Congresso,será sempre o militante nº1 desta Organização.Para além do papel histórico que teve nos movimentos operários católicos foi ,sem dúvida, um dos sindicalistas portugueses que melhor teorizou e praticou o sindicalismo de base, autónomo e de classe, bem como a relação entre sindicato e autogestão.
Foi ainda um elemento importante na sensibilização do sindicalismo europeu, em particular da área da CMT,para as especificidades e problemas do sindicalismo português no quadro da Revolução de Abril colocando sempre em primeiro lugar a unidade dos trabalhadores.A sua lucidez militante e jovialidade fazem dele uma referência de várias gerações.A BASE-FUT apenas lhe pode agradecer o seu empenhamento total durante tantos anos em prejuízo por vezes da própria família!Bem hajas e mais um feliz aniversário!
Texto elaborado por Brandão Guedes com base nas seguintes fontes:
Livro «Pela Dignidade do Trabalho-utopias e Práticas do Trabalho de Base»,Edições Base, 2016;
Livro «Portugal Católico a Beleza da Diversidade», Circulo de Leitores,2017;
Blogue «O QUE A BASE PENSA».
Testemunho pessoal.