João Lourenço*
Embora não estejamos perante um fenómeno totalmente desconhecido, é algo que pode ocorrer na natureza,e, embora sendo anormal, é uma realidade que trará consequências nefastas com repercussões futuras. Entrámos na maior pandemia dos últimos setenta anos e temos a consciência que a vamos enfrentar e lutar pois está em causa a nossa sobrevivência e a do próprio Planeta. A importância está em ganhar esta guerra e aproveitá-la para mudar de vida e para manter a humanidade.
Iniciámos a luta com medidas drásticas que reduzem e controlam as liberdades e modelam a economia para assim fazer face à segurança e à sobrevivência em todas as frentes desde o local ao global, num desafio que se prevê difícil e longo, mas urgente.
Quem acompanha os noticiários percebe que a situação é global em todo o mundo, estando envolvidos todos os modelos de desenvolvimento dos mais ricos aos mais pobres e que estarão em causa tal como existem. A situação é dramática principalmente nas cidades, em estabelecimentos, instituições sociais e nas mais diversas empresas. Muitos estabelecimentos estão encerrados e por isso dispensam muitos trabalhadores ou ficam em part-tyme ou em lay- off, ou em regime de teletrabalho, ficando ausentes do seu local de trabalho. Ao encerrarem uma parte da economia arrastam também a liberdade individual que deve ser aceite para bem da segurança da humanidade.
Agora é tempo para reflectir e procurar alternativas
Agora é oportuno ter um tempo para refletir e procurar saídas alternativas, corrigir ou criar um modelo político e social , económico novo e evoluído para um futuro mais favorável á mudança, com novas medidas políticas e tecnológicas. Desenvolver a sociedade com o respeito que esta lhe merece acompanhando e defendendo os direitos, sobretudo os mais importantes, perante as necessidades dos povos e do meio ambiente, seguindo sempre os conhecimentos adquiridos pela ciência e novas formas humanizadas em harmonia com a sustentabilidade do Planeta e com a justiça social e económica.
Para os trabalhadores fica a luta contra a incerteza do seu futuro e dos seus empregos. Certamente que estes terão que ser regidos por acordos firmados entre as partes e a lei terá que os defender dos abusos perpetrados assim como aos do meio-ambiente. As mudanças terão que respeitar a dignidade do emprego e das pessoas que laboram tal como devem reduzir o aquecimento global com medidas equilibradas e justas.
Tendo em conta a actual situação ,no futuro teremos que olhar para as melhores práticas conhecidas de vários países e dar garantias verdadeiramente eficazes no combate ao desemprego, que podem passar pela redução do tempo de trabalho, para as 35 horas semanais ou mesmo aumentar o tempo de férias e ou reduzir pela antecipação os anos necessários para a reforma ou a aposentação.
Dar combate ao coronavirus e proteger todos os trabalhadores
De imediato é preciso tomar medidas no combate eficaz ao coronavírus e proteger todos os trabalhadores e os seus familiares, sem pôr em causa os seus direitos laborais, sem esquecer que enquanto cidadãos têm plenos direitos na saúde e no lazer. Manter os seus empregos e salários acabar com o emprego precário. Manter as devidas progressões e carreiras e humanizar o seu estatuto como fundamental de existência digna. Nesta crise é preciso evitar a penúria e o desemprego.
É verdade que as diferenças são abismais entre os ricos e os pobres. Está na hora de pensarmos se nos serve esta sociedade consumista que pensa apenas no lucro através do mercado desregulado. Lembramos por exemplo o caso da habitação onde alguns pobres deixam contra a sua vontade os bons lugares de viver,sendo os mesmos comprados por ricos que ao mesmo tempo empurram os primeiros para as zonas pobres feias, insalubres e degradadas.Esta situação tem tendência a agravar-se com as crises sociais
A esperança está agora na oportunidade que a crise possa proporcionar o aprofundamento de um novo modelo de sociedade, em que com ele se desenvolva a economia social (3º. Sector) e crie mais empregos dignos dando uma resposta ao desemprego.Uma oportunidade também para uma economia pública que respeite o ser humano e o meio ambiente, e um consumo sustentado, um combate ás desigualdades, num caminho justo sem privilegiar o lucro pelo lucro como vem acontecendo hoje. Uma maior e melhor distribuição das riquezas criadas e um aproveitamento para todos dos saberes, das novas tecnologias e das ciências ao serviço de todos.
O tempo presente deixa o desafio da solidariedade e do agir para a defesa dos mais frágeis e necessitados. Esta posição está intimamente lidada ao papel dos Sindicatos, mas não só, pois cabe a todos e passa pela solidariedade e fomento da unidade dentro e fora das empresas e lugares de intervenção. Exigir dos governos e de outras entidades mais apoio em todas as frentes, principalmente no combate ao desemprego e por uma economia ao serviço de todos. A hora está já atrasada, urge a ação, cada momento perdido é maior dificuldade e sofrimento. Vamos para a mudança necessária e possível, vamos a caminho do futuro melhor.
*Sindicalista e dirigente da BASE_FUT