A vida de um padre operário!

 

Leonel Pereira*

Os padres operários fizeram história no catolicismo, nomeadamente em Portugal. Foram homens de uma enorme esperança e de uma vida extraordinariamente rica, por vezes mal vista pelos outros clérigos e leigos, Viveram por opção, a condição de milhões de operários e com eles as lutas ,vitórias e derrotas dos mesmos, O livro  «O TORNO E O ALTAR» é a autobiografia do padre Luís Martins Ferreira (primeira foto) aqui sintetizada por Leonel Pereira,(segunda foto) que também foi dirigente da Juventude Operária Católica e operário.

«Nascido em 1943, em S. Martinho da Cortiça, Arganil, Luís M. M. Ferreira cresceu, numa família rural, humilde e trabalhadora, em plena II Ggrande Guerra.
Após frequentar o seminário, vai para França, em 1967, com o apoio dos “Filhos da Caridade”, no “trajecto” dos emigrantes.
O Papa João XXIII (que fora núncio apostólico em Paris) no Concílio Vaticano II, reabilita os “padres-operários”, depois de  proibidos por Pio XII.
Frequenta a Formação Profissional Acelerada (aprender/fazendo), fomentada após a II Guerra, em França (do “Maio/68”), muito débil em mão de obra qualificada.
Após estágio, nos anos 70, entra numa metalomecânica aeronáutica, em Courbevoie, Paris.
Regressa a Portugal, para as grandes metalúrgicas; chamado para a Setenave; entra, em Janeiro de 1973, na Sorefame; a Equimetal vem depois, assim como outras (Sipe, Standard Eléctrica, SGM …).
Entretanto, antes do 25 de Abril, liga-se à equipa da JOC de Alcântara, como Assistente;
À época, o cónego João Alves, preparando a futura Diocese de Setúbal, visita, na Cova da Piedade, os “Filhos da Caridade” e reflecte, com eles, sobre a sua vida de padres-operários!

O 25 de Abril, política e sindicatos

O Iº Congresso do MES muda a sua vida: ser operário e dirigente partidário… era dose!
Discutia-se, à época, a unicidade sindical: uma única central e um sindicato para cada sector profissional. O PCP e a CGTP, de um lado, e o PS e o PSD, do outro, estes, com escolha diversa.

Despedimento colectivo (STANDARD/ITT)

Membro da Comissão de Trabalhadores: reuniões com a Administração. Muitos trabalhadores desistem da luta e da greve.
A chantagem da Standard: a ITT continua o seu investimento em Portugal caso haja despedimentos coletivos.
Por discordar da linha sindical seguida pelo Sindicato dos Metalúrgicos, em 1984, demite-se de delegado sindical.
No tempo dos salários em atraso, é convidado para uma lista da CT. Aceita, após ouvir os companheiros de casa (Filhos da Caridade).
Para negociar com a Administração, a CT não tinha meios técnicos e pedia apoio ao Sindicato para elaborar documentos. Resultado: o que saía da “máquina” do Sindicato vinha adulterado, para seus espanto e indignação.
Como tal, demite-se da CT.
Situação recorrente: o dogmatismo sindical; não se ouvia, ou silenciava-se voz discordante.

Ano Sabático-Paris

Com licença, de alguns meses,  interrompe o trabalho, vai para Paris; faz formação em Comunicação Social, Teologia e Moral.

No regresso a Portugal …  o despedimento!

Trabalhador da SGM, despedido da Equimetal: discrepância no montante da indemnização, e que … despedimento! Motivos religiosos, alega (e denuncia) em carta enviada a várias entidades.

“O cheiro das ovelhas”

Como pároco, depois da reforma de operário (Faralhão, Praias do Sado, Palmela e Barreiro), alguns princípios regem a sua pastoral:
– Partilhar responsabilidades,
– Prestar contas; mensais, às comunidades e anuais, às paróquias e diocese,
– Não pagamento de sacramentos,
– Ofertas recebidas em envelope fechado.

Barreiro – 25 anos depois

Em 2017, aceita convite para pároco no Barreiro.
Um Barreiro sem indústria: oficinas da CP, quase encerradas (antes 2000 trabalhadores …); da CUF restavam a Fisipe e os óleos vegetais.
A Equimetal? Desmantelada.
O Barreiro era um dormitório, e o comércio tradicional? A desaparecer.
Barreiro “Velho” em ruínas, com casas, do início do séc. XX, muito degradadas e uma parte habitadas clandestinamente.
As famosas colectividades: o Barreirense, o Luso … mantinham-se abertas mas sem o fulgor de outros tempos.

Procissões

Em 2018, como responsável das festas do Barreiro em honra de Nossa Senhora do Rosário, mantém o programa anterior.
Como o P. Rodrigo Mendes tinha sido, ali, uma referência, delega para ele presidir à procissão. Em boa hora, porque, entre outros, a Sociedade Filarmónica entoou “Miraculosa Rainha dos Céus …”

A sua fé cristã

A fé nasceu no Batismo, mas, entre outras razões, foi a chegada do P. Carlos Alberto a S. Martinho da Cortiça, com a sua forma de ser sacerdote que, como criança, o cativou!     Disse: “quero ser como o sr. Padre”.
De relevo, também, a influência materna, os tempos no seminário, a vida de padre-operário!»

*Ex dirigente da Juventude Operária Católica, ativista social e agricultor.

 

 

Junta-te à BASE-FUT!