Viva Paulo Freire: um educador do povo

Avelino Pinto*

No centenário do nascimento de Paulo Freire – o grande educador popular brasileiro, autor da Pedagogia do Oprimido (1970) e da Pedagogia da Autonomia (última obra, 1996), torna-se justo e oportuno relevar a obra que mudou o rumo educativo, político e até religioso de América Latina, ao propor os fundamentos da emancipação colectiva dos povos latinoamericanos e do Caribe – “os esfarrapados do mundo”.

Na Pedagogia do Oprimido, define uma pedagogia crítica, forma de relacionamento entre o professor, o estudante, e a sociedade. Baseiando-se em reflexões realizadas durante seu exílio no Chile, onde estava desterrado pela ditadura militar brasileira, desenvolveu experiências de educação popular, partindo da análise da dependência entre “o colonizador” e “o colonizado“, com base na “Dialética do Senhor e do Escravo” concebida por Hegel.

Com mais de um milhão de cópias, terceiro livro mais citado na área de ciências sociais em todo o mundo, a Pedagogia del Oprimido, com a Teologia da Libertação baseada na teoria e na crítica do modelo desenvolvimentista imposto pelo Norte aos povos do Sul, afirmam que a causa do subdesenvolvimento dos países do chamado Terceiro Mundo estava radicada, precisamente, no desenvolvimento do Primeiro Mundo que se apropria das matérias primas e impõe leis comerciais exploradoras aos países subdesenvolvidos.

 

Alternativas ao descarte das pessoas e opressão das maiorias populares

 

A Pedagogía del Oprimido e a Teología da Libertação continuam como duas propostas de sociedade e de religião alternativas à cultura do descarte das pessoas, à opressão das maiorias populares e ao sacrificio dos povos, pondo a tónica  noutro olhar e noutra prática de vida, a caminho de Outro Mundo Possível.

Paulo Freire trabalhou uma década no Conselho Mundial das Igrejas (Genebra), em projectos educativos de África. “Não sou teólogo, antes um marcado pela teologia, que marcou muitos aspectos da minha pedagogia”, afirmava.

 Entidades brasileiras e da América Latina, entre elas O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), organizam iniciativas em universidades e organizações populares, e uma jornada para enraizar o pensamento do educador, com acções de âmbito artístico-cultural, debates sobre o seu legado, para reafirmar o compromisso com a educação popular e com o seu legado. Destaca-se a iniciativa de instalar bustos do pensador brasileiro, a significar Paulo Freire vivo, vivo nas acções, nas nossas práticas.

«Paulo Freire veio de coração aberto, desarmado e cheio de esperança para encontrar e ouvir os jovens, corajosos e dispostos a fazerem, 26 anos depois, um pouco daquilo que ele sonhava ter feito na década de 1960, um sonho interrompido pela ditadura», afirmou a educadora popular Isabela Camini, durante o Acto Político-Cultural «Viva Paulo Freire: Um Educador do Povo». Paulo Freire reconheceu na organização do MST a potencialidade para enfrentar a pobreza e tornar os Sem Terra herdeiros do sonho de alfabetizar a nação, por meio da consciencialização, pelo diálogo e por amor à humanidade.

Leitor, não posso deixar de juntar outro grande educador – Agostinho da Silva – que, afirmou que o Brasil devia ter a tarefa de “oferecer ao mundo um modelo de vida  em que se entrelaçam numa perfeita harmonia os fundamentais impulsos humanos de produzir beleza, de amar os homens e de louvar a Deus; de criar, de servir e de rezar.”

(ver REFLEXÃO-À Margem da Literatura Portuguesa” -1996, Guimarães Editores)

 

*Mestre em Psicologia, Formador e Animador Social, Militante da BASE-FUT.

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