Jorge Henriques Santos*
É indiscutível a importância da imprensa regional, na literacia da população, na coesão social, no combate à exclusão e ao isolamento e na formação para a cidadania, em suma no contributo para a manutenção da democracia participada como na Base Fut defendia. Acrescido da importância histórica que alguns jornais sempre tiveram, na comunicação com as comunidades emigrantes espalhadas pelo Mundo.
Porém se em tempos havia jornais regionais como o Jornal do Fundão, o Primeiro de Janeiro, o Falcão do Minho, a Comarca de Arganil, etc… Com tiragens muito interessantes, quer nas vendas em banca quer em assinaturas, a realidade entretanto mudou e como na teoria de Darwin, nem todos se conseguiram adaptar…
Mudou a realidade porque mudaram as necessidades das pessoas e as necessidades mudaram porque também mudaram as formas de comunicar e a oferta informativa. Uma oferta que hoje está disponível com inúmeras aplicações acessíveis na palma da mão de qualquer cidadão, em todo o Mundo. No entanto pasme-se que existem hoje muito mais títulos regionais que existiam há 50, há 40, há 30 e mesmo há 20 anos atrás.
Naturalmente que numa sociedade economicista, comandada pelas lógicas do mercado, os projetos informativos para serem independentes em termos de linha editorial, também tinham de ser independentes em termos económicos e as tiragens da imprensa regional, não permitem autonomia económica, nem pela receita da venda, nem pelas receitas de publicidade. Logo, como se diz aqui pela Serra “quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem…”
As autarquias como parceiras interessantes da imprensa regional
As autarquias são normalmente parceiras interessantes, na relação com a comunicação social regional e local. Estas pela proximidade com a população local acabam por ser os grandes difusores da atividade autárquica e encontram normalmente uma forma de contributo através de publicidade inserida nos pacotes dos jornais e das rádios.
Uma relação interessante uma vez que se complementam no seu papel de apoio às populações, mas… como em tudo, essa relação nem sempre é saudável e se o agente político pressente que o agente informativo é dependente de si… exemplos não faltam de ingerência, admoestação, para não falar até de situações mais graves de boicote económico…
Com as novas tecnologias informativas, o suporte em papel é cada vez menos lido, é acarinhado, é estimado, é prestigiado, mas quem anda nisto consegue avaliar até que ponto é lido ou não e às vezes as conclusões são avassaladoras… Numa relação de causa efeito, percebemos que o seu impacto vai reduzindo e por consequência a sua capacidade de mobilização e influência também.
Nos órgãos online a informação tratada e cuidada dos o.c.s. tende a ser confundida com a informação repentina e nem sempre verdadeira das redes sociais… A diferença só se fará quando o público por si só, saiba selecionar e distinguir a informação. Porém isso é transversal a toda a informação.
Tendo em conta esta nova realidade, num período de mudanças, criei há três anos (janeiro 2020), no concelho de Belmonte (com 6000 habitantes) e na freguesia de Caria (com 1700 habitantes), o jornal “Correio de Caria”, com uma versão em papel (mensal) e versão online (bissemanal). Cuja experiência me está a superar expectativas, não no plano económico como se imagina…. Mas na aceitação e inter-ação. Porém para não ser longo deixo essa abordagem para próxima ocasião.
- Jornalista, Animador Social e Militante da BASE-FUT
Agosto 2023