Sindicalismo e sindicatos-reflexões e preocupações (II)

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Américo Monteiro*

De novo as greves, neste caso a greve mais mediática de alguns enfermeiros. Dizia já em reflexão anterior, que me preocupa as consequências que das dinâmicas atuais deste sindicalismo mais mediático, possam advir para os sindicatos no geral e o dos operários, ou dos sectores que ocupam atualmente mais mão-de-obra, em particular.

Aí está a crispação e o radicalismo e os resultados que podem trazer. A ponto de alguém em ato de desespero declarar que vai entrar em greve de fome. A mim coloca-se-me a questão, estará toda a razão só de um lado?

E essa, da greve de fome em liberdade e em tempo de democracia, só se for também, para descredibilizar aqueles que deram a saúde e a própria vida, na luta por ela mesmo, a democracia.

O conflito nas relações laborais é algo de muito frequente. Porém, se nos deixamos entrar de tal maneira no conflito que fiquemos dele prisioneiros, perde-se o horizonte, projetam-se nas instituições as próprias confusões e insatisfações e assim, a sua resolução torna-se impossível.

Como diz o poeta (Fausto) “ que atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir” .

Vivemos muitas vezes entre a conjuntura do momento e o tempo como horizonte maior. Um dos erros que muitas vezes se comete na actividade sociopolítica é que privilegiamos os espaços de poder, ou seja o momento e não os tempos dos processos, o que leva por vezes a proceder como loucos, para resolver tudo no momento presente, para tentar tomar posse de todos os espaços de poder e autoafirmação.

Se é colocado o conflito à frente da unidade que devia ser superior a este, não vamos conseguir construir solidariedade. Estaremos dispostos a alargar o olhar, nas lutas que travamos, para encontrarmos o bem maior que trará benefícios para todos?

Vivemos tempos de desafios enormes. Achamos que tendo projeção mediática somos capazes de tudo e não se procede devidamente a avaliações necessárias dos percursos a seguir.

Nas redes sociais, espaço onde hoje “todos” tem acesso, de onde vêm muitas vezes os piores desafios e também, porque não dizê-lo, por vezes vêm as melhores declarações de solidariedade, seremos capazes de gerir emocionalmente as reações em situação de conflito? Seremos capazes de trabalhar para que daqui venham influências com sentido positivo.

Se formos um pouco mais atrás, tempo das grandes revoluções do século passado, todos conhecem aquela celebre frase “É preciso dar um passo atrás, para depois dar dois passos adiante” (Lenine). Quem, nos dias de hoje, está disponível para o raciocínio lógico do percurso da história, ao encontro daquilo que se possa denominar de bem comum? Encontraremos as soluções neste ir em frente de qualquer maneira, o estertor final?

Num tempo em que as pessoas se deixam facilmente enganar por discursos populistas, tanto que temos para aprofundar e nos preocupar com o rumos das coisas. Os trabalhadores, os sindicalistas, os políticos das esquerdas, as populações em geral.

Reflitamos pois!

  • Dirigente da CGTP e da LOC/MTC.Membro da CAT/BASE-FUT

 

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