Sem a presença das mulheres nenhuma sociedade progride

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Avelino Pinto*

À distância, seguimos os acontecimentos do Afeganistão, e descobrimos que não há soluções mágicas e que muitos interesses se jogam por debaixo a mesa.

As mulheres afegãs, em Cabul, em Herat e outras cidades, sairam à rua, num protesto poderoso face ao risco de serem metralhadas “Pensei que íamos ser todas mortas”, quando um taliban armado as dispersou. Usavam véu e não a burca recomendada pelos talibam, insistindo estes que não deviam sair à rua durante um período de transição, para os taliban se habituarem a lidar com elas.

Querem envolver-se como mulheres no governo do país e numa constuição prometida para depois duma grande assembleia tribal, contrapondo uma, Fátima,com clareza: “Sem a presença das mulheres, nenhuma sociedade progride.”

Não mudou muito desde Outubro de 2001, quando Alexandra Prado Coelho relatou: “na escola, os rapazes sentam-se no chão e não há livros. No campo dos refugiados fugidos das zonas taliban não há nada para comer…e as crianças indiferentes ao risco das minas correm atrás dos pacotes amarelos com as rações que os americanos lançam de avião.”…“Nunca saberei se percebi realmente alguma coisa.”*

Face ao agravamento da exploração e das desiguldades, à degradação das condições de vida, a “guerra boa” (Bush, 2001) e a “guerra justa“ (Obama, 2011) geraram uma sociedade desestruturada, onde alguns enriqueceram com o tráfico de droga.

Várias organizações alertam para o aumento diário da fome na sequência de seca prologada, pelo que os doadores têm de dar uma ajuda de emergência para a saúde alimentação e educação, e garantir a segurança de vida e a continuidade das carreiras dos cientistas e estudantes afegãos, muitos deles escondidos.

As mulheres afegãs, envolvidas numa sociedade tribal, arriscam a vida ao querer entrar na reconstrução do Estado. Será que os taliban as vão aceitar? Perceberão que a

transformação da sociedade fica incompleta se elas não ocuparem o seu lugar?

 

*Ver Público (4, Set., pág 47, e 34, fotos) e Monde Diplomatique (Set., pág 25).

 

  • Mestre em Psicologia, Animador Social e Militante da BASE-FUT

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