Faleceu a 10 de setembro de 2004 e nunca o podemos esquecer. Cidadão da Resistência nos Açores, o Padre Manuel António Pimentel lutou ao longo da sua vida por uma sociedade mais livre e solidária, tendo-se empenhado no combate à ditadura fascista. Foi um dos subscritores da Declaração de Ponta Delgada, que traduziu a plataforma eleitoral com vista às eleições de 1969 e um dos dinamizadores da Cooperativa Sextante.
Sobre o combate ao regime do Estado Novo, o Padre Manuel António explicou [em texto publicado no livro “A oposição ao salazarismo em São Miguel e em outras ilhas açorianas (1950-1974)] que o mesmo era mais do que a luta contra a ditadura, pois tratava-se de «um projecto humanista e cultural, de cultura democrática e de anúncio da Boa Nova, a partir das aspirações profundas das chamadas camadas populares; um projecto que, na verdade, se aproximava muito das intensões fundamentais da teologia da libertação».
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Manuel António Pimentel nasceu em 1939, na freguesia das Furnas, na ilha de São Miguel. Ordenou-se padre a 3 de Junho de 1962, tendo depois ido para Roma, onde estudou Direito Canónico e Teologia Moral. Ali acompanhou de perto a realização do Concílio Ecuménico Vaticano II, entre 1962 e 1965.
Regressado à ilha Terceira, foi durante dois anos professor do Seminário Maior de Angra do Heroísmo e depois, em São Miguel durante três anos, “director espiritual” do Seminário Menor de Ponta Delgada. Mais tarde iria regressar à Terceira, voltando a leccionar no Seminário até ao ano de 1975, ano em que foi “expulso” daquela ilha, juntamente com outros três colegas (Padre Avelino Soares, Padre Olegário Paz e Padre António Moniz), por exigência de alguns lavradores terceirenses. Sacerdote activo da Associação dos Padres do Prado, cujos objetivos visavam a inserção dos padres e a evangelização no meio operário, a sua ligação ao jornal O Trabalhador, a sua luta em prol dos pobres e oprimidos e os seus textos e entrevistas a vários órgãos da comunicação social terão sido a causa do pedido do seu afastamento por parte de alguns dos lavradores (1). A conselho do então bispo dos Açores, D. Aurélio Granada Escudeiro, viaja até França, onde frequenta o Curso de Formação dos Padres do Prado.
Durante esse período da sua vida, o episcopado português encarrega-o, juntamente com outros sacerdotes, de trabalhar junto dos emigrantes, tendo nos anos oitenta sido assistente do Movimento Mundial dos Trabalhadores Cristãos (2).
Um padre sempre ligado aos trabalhadores emigrantes
Foi uma figura destacada na intervenção da Acção Católica Operária junto da comunidade portuguesa em França, evidenciando, ao longo da sua vida, uma constante capacidade de entrega à defesa dos valores da fraternidade e solidariedade.
Mais tarde voltou a Portugal, foi pároco na diocese de Setúbal, entre outras comunidades, no Barreiro; e, no ano 2000, por iniciativa do Bispo D. António de Sousa Braga regressou aos Açores, onde desempenhou a função de Vigário Episcopal para a Formação e, na delegação de Ponta Delgada, a de coordenador do Tribunal Eclesiástico.
Depois do seu falecimento, a 10 de Setembro de 2004, tem sido homenageado. No dia 26 de Janeiro de 2005, a Assembleia Legislativa dos Açores aprovou um voto de pesar pelo seu falecimento. A 14 de Setembro de 2014, António Pimentel, que havia sido pároco na Quinta do Conde, de Janeiro de 1994 a Setembro de 1997, foi homenageado em Setúbal por amigos e colegas, por ocasião do décimo aniversário do seu falecimento, com a realização de uma sessão evocativa do seu pensamento e vida [promovida pela Associação dos Padres do Prado e pela Liga Operária Católica, com o apoio da Junta de Freguesia].
O Padre Mnuel António teve uma grande influência em muitos militantes cristãos na luta contra a ditadura, nomeadamente nos fundadores da BASE-FUT.
Notas:
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(1) A razão apresentada pelos lavradores, (reunidos no Reguinho, no dia 18 de Agosto daquele ano), para a transferência dos quatro sacerdotes “para fora dos Açores” foi: “ estarem a fomentar o ódio no seio da comunidade católica desta terra”.
(2) Sobre o seu pensamento em relação à sociedade açoriana após o 25 de Abril de 1974, transcreve-se um extracto de uma entrevista que deu ao jornal República: “Parece que o 25 de Abril está a representar para o povo açoriano a possibilidade e a esperança de “ser gente”, ouvida e respeitada nos seus direitos, e conseguir que a sua terra deixe de ser quinta útil a uma minoria de privilegiados e exploradores para ser a terra de todos. “Dada, porém, a despolitização existente o povo açoriano tornou-se presa fácil das manobras reaccionárias que entrincheiradas, no medo e no anticomunismo, fazem crer que o 25 de Abril não passou dum simples golpe de Estado. Em S. Miguel, por exemplo, o grau de despolitização e alienação é tal que o explorado chega, por vezes, a defender o próprio explorador”.
Fontes:
Teófilo Braga, em Correio dos Açores (nº 3092, 28 de Abril de 2016, p.12)
in http://poisaleva.blogspot.com/2016/04/
http://ouvidoriapovoacao.blogspot.com/2014/09/padre-manuel-antonio-pimentel-1939-2004.html
Retirado de Antifascistas da Resistência com adaptações.