Avelino Pinto*
“Na nossa zona corticeira, onde se pratica uma actividade rotineira com condições insatisfatórias de trabalho, contractos a prazo, emprego precário, o medo do desemprego convida ao silêncio, a uma aceitação passiva das exigências do patrão, e até os sindicalizados são discriminados.
Começámos a alimentar um sonho, uma alternativa de subsistência à margem da máquina embrutecedora da nossa estrutura industrial. Queremos repartir os frutos do trabalho, com uma mentalidade onde a partilha e a solidariedade sejam uma prática de vida e não palavras.
O sonho duma cooperativa de consumo e de uma cooperativa agrícola, mais difícil, começou a ganhar corpo, especialmnente com a adesão do grupo de costureiras que também querem entrar.”
Esta situação real contradiz Margaret Thatcher (primeira-ministra conservadora britânica) -“Não há alternativa – TINA. A economia de mercado é o único sistema que funciona. Muito ao contrário, Susan George (2001), crítica da globalização, cunhou o slogan oposto – “outro mundo é possível“.
Quem quer fazer renascer esse dogma, numa época de inquietação, de aquecimemto global, de desigualdade, esquece que a origem dele está no preconceito mecanicista da oposição entre espírito e matéria. Esta contradição está a desfazer-se pela força dum modelo de pensamento baseado na física quântica: é a consciência e não a matéria, o substracto para tudo o que existe. Somos capazes de nos mudar a nós e o mundo, partindo de outro fundamento, entrando no campo das lógicas da descoberta.
A lógica ocidental considerada única, fundada sobre a dedução, deixa de fora os processos de indução, analogia, metáfora, e elimina a imaginação em proveito da análise.
As lógicas da descoberta que René Leclercq clarificou, assentam na noção de plausibilidade, reintroduzem a incerteza, contam com o sonho, a combinação, a possibilidade, a associação de ideias, a procura de semelhanças, a imaginação; aproximam-se da lógica da vida.
Debrucemo-nos sobre a lógica associativa e a lógica onírica, que os operários usaram.
Pela via onírica, sonharam fazer diferente, imaginaram alternativas, e pela via associativa, juntaram vontades e ideias uns dos outros, soluções que saltam de cadeias associativas da mente. Por contraste, por semelhanças, por ordenamento, encontraram maneira de vencer a situação sustentada pela mentalidade – sempre foi assim desde que me criei…
Educados que fomos na reflexão e menos na acção, ouvindo alguém a bichanar – pensa primeiro – deixámos de explorar, de associar, de ver semelhanças úteis, de reparar nos contrastes,de olhar para experiências bem conseguidas.E desacreditamos de nós.
O caminho inverso está à nossa frente, à espera de ser andado.
*Mestre em Psicologia, militante da BASE-FUT e Formador