«O movimento sindical não pode alhear-se das lutas que são desenvolvidas fora das empresas.Estas lutas com conteúdos muito diferenciados têm como denominador comum as aspirações dos indivíduos e das comunidades a recuperar a sua soberania existencial e o poder de autodeterminarem a sua vida.Estas lutas têm tido por objectivo comum a denúncia da ditadura que é exercida sobre as suas necessidades pela burocracia e a industria em aliança com profissões que pretendem ter o monopólio do conhecimento em domínios tão diversos como a saúde, a educação, as necessidades de energia, a água, o nuclear, o urbanismo, o modelo e nível de consumo.Sobre estes e outros planos os «novos movimentos sociais» procuram defender o direito à autodeterminação contra as mega tecnologias e outras formas de cientificismo que conduzem a concentrar o poder de decisão nas mãos duma tecnocracia em que a opinião dos peritos serve, sobretudo,para legitimar os poderes económicos e políticos.
Estas lutas contra a profissionalização, a tecnocracia e a monetização da vida são as formas particulares duma luta fundamental pela emancipação.Estas lutas contêm um potencial de radicalismo que se repercute nas lutas do trabalho e formam a consciência de uma parte importante dos cidadãos.É, pois, essencial, que o movimento sindical se abra às aspirações de que são portadores estes movimentos e as integre, sendo também essencial que o movimento sindical se considere parte integrante de um movimento mais vasto, multiforme, de emancipação individual e social.O facto de que ele constitua a componente melhor organizada deste movimento confere-lhe uma responsabilidade particular: o sucesso ou o fracasso das outras componentes do movimento social depende em grande medida da atitude que adoptar.Isto pressupõe que não os combata e, pela positiva, estabeleça alianças e ações comuns, que favoreçam que estes outros movimentos se posicionem no interior e não à margem da esquerda, e participem em ações colectivas, evitando que não sejam tentados a ações minoritárias ou ,até, violentas.
Da atitude que o movimento sindical tome para com os outros movimentos e os seus objectivos depende também a sua própria evolução.Se corta com eles, se recusa a considerar-se uma componente de um movimento mais vasto, se considera que a sua missão se limita à defesa dos assalariados enquanto tais, não escapará à sua própria degradação em rumo ao neocorporativismo e conservadorismo»(retirado da conferência de André Gorz aos sindicalistas da CSC belga in «O Futuro do Sindicalismo», edições Base)