Jorge Henriques Santos*
“Uma coisa tão pequena…, meia dúzia de gatos e o que eles movimentavam…”
Era inimaginável a quantidade de pessoas que em cada semana movimentavam aquela casa na rua de S. Bento 672. Primeiro vos falarei dos grupos que faziam parte da BASE-FUT, grupos informais com certeza porque esta gente sempre foi um bocado avessa a coisas muito formais e com vantagens e desvantagens assim era. No primeiro dia da semana reunia por ali o Grupo da Alfabetização, pelas 19h e o SIS pelas 21h …
De alfabetização porque apesar de estarmos em 1981 e as campanhas de alfabetização já terem acabado, havia ainda muitos trabalhadores que não sabiam ler e quer através do Sindicato das Empregadas Domésticas, do Sindicato da Portaria e Vigilância e da Coperserdo, havia trabalhadores/as, sobretudo mulheres que não sabiam e queriam aprender a ler e escrever. Sob o método de Paulo Freire e outras teorias da aprendizagem, as monitoras deste grupo de alfabetização reuniam-se na Base à segunda feira para aferir, discutir e aprofundar metodologias (dentro daquela dialética de ação/ reflexão/ação, lembram-se) e depois se havia alunos novos e era preciso um espaço, também ali acontecia a aula para esses alunos na sede da Base; O SIS era o Setor de Intervenção Sindical da BASE-FUT, uma espécie de departamento técnico, ou “politburo dos quadros sindicais da Base”, ali se juntavam os sindicalistas que estavam na direção de vários sindicatos de Uniões e de Federações e das próprias Centrais Sindicais. A Base tinha esse condão, conseguia juntar na mesma discussão quadros da CGTP, da UGT e dos sindicatos independentes…. Deixo para outros a análise sociológica mais aprofundada sobre esses funcionamentos e sua história, já que este é apenas um testemunho pessoal sobre a minha vivência nessa organização. Refiro apenas que este Setor de Intervenção Sindical, chegou a produzir documentos bastante profundos com posições muito decisivas para os grandes encontros sindicais e teve sob a sua égide a revista “Autonomia Sindical” que foi até ali e até agora a publicação regular (trimestral) e mais conseguida sobre o pensamento e a ação sindical num quadro de independência e autonomia política, ideológica e religiosa.
Na terça reunia o SIC/Lisboa e a CPER, Comissão Política Regional de Lisboa, previam e programavam atividades, Colóquios, debates, sessões culturais em Lisboa, algumas em parceria com outras entidades culturais, umas mais outras menos, mas em regra bastante participadas.
Na quarta-feira era a CPEN -Comissão Política Nacional, uma espécie de “Comité Central” (dizíamos nós), mas tudo era tão informal que muitas vezes acabava por perder alguma eficácia… Quando algum militante vinha a Lisboa fosse porque motivo fosse e cá estivesse neste dia, era convidado para assistir e participar na reunião… Só aqui… que eu saiba…!
Na quinta-feira era o CCO, o José Vieira tinha ficado destacado como funcionário a tempo inteiro para fazer o relançamento do Centro de Cultura Operária. Mais informal que efetivo este grupo que era muito vulnerável e se calhar perdeu alguma da sua eficácia por nunca conseguir consolidar um secretariado, mas promoveram ainda vários cursos, seminários e colóquios, numa perspetiva mais cultural e de formação.
À sexta, à noite já era frequente haver encontros, colóquios, ou debates que cada uma destas estruturas promovia, ou até os famosos plenários da CPER, uma espécie de assembleia geral de militantes da região, onde muito se discutia…
Ao sábado, se não eram todos eram muitos durante o ano, reuniam-se o grupo dos (excursionistas) “Os Nómadas”, um modelo criado pela Júlio Ribeiro na Base do Porto que foi replicado para Lisboa, pelas saudosas: Idalete, Regina e outras meninas e consistia em programar uma viagem de férias ao estrangeiro, onde tudo era previsto e programado ao pormenor por equipas em trabalho de grupo, desde o roteiro, a animação, a comida, a logística, as questões legais (sim porque implicavam vistos e passaportes…)
E ainda havia o Grupo da Mulher, não podia esquecer este grupo pioneiro da reflexão e discussão das questões de Igualdade de Género e de Direitos Iguais para as Mulheres. Atenção que estávamos no início da década de 80. Hoje todas estas questões da igualdade de género fazem parte do programa de todas as candidaturas eleitorais, mas nessa altura não era assim… A lei da paridade entrou em vigor em 2006, em Portugal e no Parlamento Europeu os diplomas mais significativos foram aprovados em 2011. Na Base-Fut ,40 anos antes, reunia semanalmente um grupo para, refletir discutir e promover atividades no sentido de apelar aos Direitos de Igualdade nas Mulheres. Faziam parte do grupo cinco mulheres um Homem. Si um homem e já com idade avançada (Joaquim Marreiros) que assumia se sentir indignado pela subjugação feminina, vivenciada por quase todas as mulheres e que ele acompanhou sobretudo na sua Mãe…
Depois apareceu o MALTA, caramba este dará outro capítulo
* Jornalista,Animador Cultural,ex Dirigente da BASE-FUT