O grupo «MALTA» ,está bem presente na memória de todos!

com Sem comentários

Jorge Henqriques Santos*

Já se sentiam nestes anos 80 uma grande ausência dos jovens nas organizações na vida social e política, acrescido de o desemprego, a habitação e dificuldades no ensino terem especial incidência nesta faixa etária. Pior que isso, os jovens eram usados como pretexto para grandes decisões, mas raramente eram ouvidos para isso. O Governo criou o Conselho Nacional da Juventude que rapidamente se converteu em mais um palco político disputado pelas Juventudes dos Partidos.

Também na BASE-FUT a questão dos jovens se referia com frequência e estando dois jovens na estrutura nacional, (eu e o Paulo Branco), tínhamos uma funcionária jovem, a Anabela e eu acabara de me casar, começámos quatro. Reuníamos semanalmente, ao sábado, refletíamos e procurávamos discutir o que era problemas dos jovens, mas não chegávamos a lugar nenhum, precisávamos de coisas mais concretas. Lembro que uma dessas atividades concretas, foi uma ida conjunta ao Cinema, ver o Filme do Gandhi e depois fizemos um debate sobre o filme e a temática da não violência… Mais tarde participei num seminário internacional do Serviço Civil Internacional (organização europeia de apelo à não violência) Trouxe de lá um livro feito pelo MIR IRG (associação Não Violenta Belga), intitulado “Porquê Ensinar as Crianças a Brincar à Guerra”, abordava a questão da educação e os brinquedos bélicos. Resolvemos traduzir e editar o livro. As edições Base tinham na altura uma oficina gráfica, onde se fazia a “Autonomia Sindical”, muito rudimentar, mas onde eu tinha aprendido a imprimir (em serões de trabalho voluntário com o grande compincha Zé Eduardo). Editámos o livro cujo lançamento ocorreu em 1986, ano Internacional da Paz, decretado pela ONU. Por isso em jeito de comemoração fizemos várias sessões de apresentação que se convertiam em sessões de debate, nalgumas das quais juntávamos também um diaporama feito na altura pelo IED- Instituto de Estudos para o Desenvolvimento (liderado por Luís França), com o título “Se Queres Paz”.

A tradução era feita em grupo e levávamos horas a discutir o termos mais ajustado, o que implicava uma definição dos conceitos… muito formativo, mas muito lento. Passado meio ano decidimos pedir ajuda à Marta Cancela, que era tradutora numa Editora. A composição, paginação, ilustração e impressão, já foi feita por mim, com base naqueles tais conhecimentos “roubados” ao Zé Eduardo.

Isto abriu caminho para outros grandes encontros de debate e lembro um encontro em Coimbra, onde o Malta decidiu debater o serviço militar e convidou para o mesmo encontro, objetores de consciência e militares.

O grupo cresceu e chegou a ter aderentes em várias regiões: Covilhã, Coimbra, Porto e Algarve. Passou a promover passeios, excursões, acampamentos. em Peniche, Serra da Estrela, Coimbra – CFTL, Castanheira de Pera etc. Espaços de animação muito ricos e emotivos que deixaram marcas profundas em todos os que as viveram e ainda as referem.

Outro ponto alto eram os encontros Inter-Regiões. Encontros temáticos, normalmente encontros de fim de semana com espaços lúdicos e espaços de reflexão e debate, onde se faziam abordagens sobre um tema: Educação/Ensino; Trabalho/ e Desemprego Jovem; Violência e Paz; Serviço Militar, como já foi referido etc…

Na dinâmica dos acampamentos e passeios de fim de semana começam a aparecer alguns mesmo muito jovens e que acabávamos por acolher tornando-se os mais velhos monitores dos mais novos (os maltinhas). Aparece também uma parceria muito interessante com Educadores da Casa Pia e passamos a fazer atividades conjuntas dos nossos jovens como monitores dos nossos maltinhas misturados com as crianças dos lares da Casa Pia. Aparece aqui uma nova seção “O Maltinha”, chega a ter um secretariado (Marcos, Cristina, Samuel e Henrique aí com 11, 12 e 13 anos) que decidem reunir-se para as atividades, as calendarizam, fazem uma espécie de convite, escrevem os envelopes e poem no correio… Imaginam a criança com nove .dez anos a receber um envelope em seu nome, escrito com letra infantil e que traz o convite para uma atividade. Claro que o pai fica obrigado a levá-la…

Nesta dinâmica que parecia imparável o Malta começa a ser desafiado para encontros internacionais com organizações que tinham relações com a BASE-FUT (Culture e Liberté de França e outros). As coisas ganham nova dimensão, novos desafios e novas ameaças…  A integração apressada de alguns jovens do Malta nas estruturas políticas da organização, também me não pareceram saudáveis, mas eu nessa ocasião já não estava.

Havia uma norma nos Estatutos do Malta (proposta por mim) que não admitia pessoas com mais de 29 anos, como era o mais velho do Grupo, religiosamente, no dia 9 de novembro de 1987 saí, mas parece que mais ninguém cumpriu KK…

Outros poderão contar melhor o desfecho, mas no início da década de 90 o Malta acabou por definhar, todavia a sua história ainda hoje está bem presente na memória de todos os que por ali passaram.

*Jornalista,Animador Cultural e ex-Dirigente da BASE-FUT

 

Junta-te à BASE-FUT!