Aristides Silva*
Começo com pequeno “desabafo”: nunca se falou tanto dos números de novas infeções em Lisboa e Vale do Tejo como agora, ao contrário do que sucedeu quando o principal centro de todas as preocupações era o Norte e, sobretudo, o Grande Porto! Isto não é uma “queixa regionalista” mas, antes, uma constatação!
Muitos criticam as autoridades, sanitárias e políticas, argumentando que Portugal está perante um descontrolo do chamado desconfinamento, que talvez tenha sido demasiado cedo, que não está a ser devidamente acompanhado, etc.! Mas é Portugal que está ou, apenas, uma pequena parte do seu território?
A fase de gradual desconfinamento começou para todo o país ao mesmo tempo. Se os novos casos andam na casa dos 80 a 90 % na região de Lisboa e Vale do Tejo, não se pode dizer que há descontrolo em Portugal e, muito menos, culpar por isso as autoridades nacionais! Então, não são as mesmas autoridades nacionais que estão a fazer com que não haja descontrolo no “resto” do país?!
Há um número que tem sido “esquecido” e que tem a ver com a qualidade da resposta que tem sido dada pelo nosso SNS: a taxa de mortalidade, isto é, a proporção entre o número de mortos e o número de infetados em Portugal é inferior a 4 %, menos que a taxa média mundial. E, já agora, esta taxa no Reino Unido é superior a 15 %! Esta comparação significa que um infetado no Reino Unido tem quatro vezes mais probabilidades de morrer da doença do que um infetado em Portugal, e isto devido, apesar de tudo, à qualidade da resposta do nosso SNS!…
É muito fácil criticar! Ainda é mais fácil criticar as autoridades e nunca as muitas pessoas que desrespeitam as mais elementares regras de segurança, como o uso de máscara e o distanciamento, sobretudo em recintos fechados! Basta ver os inúmeros casos de festas e festinhas com centenas ou milhares de pessoas!…
Exige-se um pouco mais de respeito pelas grandes mulheres que têm estado, há quatro meses, à frente desta guerra. Todos querem “sol na eira e água no nabal”! É muito difícil conciliar a necessidade de abrir a economia com a necessidade de preservar a saúde! E, depois, não sejamos ingénuos: há muita tentação de aproveitamento politico-partidário, até porque as próximas eleições (presidenciais e autárquicas) são já daqui a alguns meses!…
Gaia, 7/7/020
*Aristides Silva Ex-Dirigente da BASE-FUT e sindicalista, animador social e cooperativo