Aristides Silva*
Foi com grande estupefação que vi e ouvi Catarina Martins anunciar o voto contra do BE na votação na generalidade do Orçamento Geral do Estado para 2021. Não tanto pela posição em si mas, sobretudo, pelos argumentos apresentados.
Na verdade, ontem, no Telejornal da RTP1, a líder do BE justificou o seu voto com a principal razão de o Serviço Nacional de Saúde não responder às necessidades dos portugueses, sobretudo no que diz respeito à pandemia em curso devida ao Covid 19.
Ora, é sobre esta matéria específica que vou manifestar-me porque tenho acompanhado desde o princípio o que se passa em Portugal e no “resto” do mundo. Então, vejamos a situação do nosso país, considerado um dos mais envelhecidos do mundo e sendo um país de fracos recursos quando comparado, sobretudo, com os outros países europeus:
Em relação a casos confirmados por milhão de habitantes, Portugal é o 47º país do mundo, à frente de países como o Reino Unido, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Suíça, Rep. Checa, etc., já para não falar nos principais países da América Latina e dos Estados Unidos da América, entre outros;
Em relação a mortes por milhão de habitantes, Portugal é o 44º país do mundo, à frente dos mesmos países e ainda da Itália, Suécia, Irlanda e Canadá, entre outros;
Em relação a testes por milhão de habitantes, Portugal é o 31º país do mundo, à frente de muitos dos países já referidos, bem como ainda da Alemanha, Noruega, Finlândia, Áustria, Grécia, Polónia, Hungria, etc., para além de outros como o Brasil e a própria China;
O índice de mortalidade (proporção entre o número de mortes e o número de infetados) é, em média, de 2,6 % em todo o mundo. Portugal, com um índice é de 1,9 %, além de estar abaixo da média mundial, está à frente de países como Itália (7,1), Suécia (5,3), Reino Unido (5,1), Bélgica (3,3), Espanha (3,1), França (3,1), Holanda (2,4), Alemanha (2,3), etc., já para não falar na China (5,4) ou nos EUA (2,6). Estes dados significam que um infetado nos países referidos tem mais probabilidade de morrer de Covid 19 do que em Portugal.
Então, como é que isto tem sido possível em Portugal sendo, como já disse, um dos países de fracos recursos e dos mais envelhecidos do mundo? Precisamente graças ao nosso Serviço Nacional de Saúde! Por isso é que eu não compreendo o argumento usado por Catarina Martins para justificar o voto contra (na generalidade!) do Bloco de Esquerda!
Tendo em conta o atual momento de maior gravidade desta pandemia, tanto em Portugal como no “resto” do mundo, como é possível tanta irresponsabilidade do BE? Como é possível que este partido junte o seu voto a partidos como o chamado CHEGA? Não quero acreditar! É mau demais para ser verdade!…
V.N. GAIA, 26 de Outubro de 2020
Aristides Silva (independente),ex-sindicalista,dirigente associativo.